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Crítica

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater vence um teste difícil: resistir ao tempo

Remake fiel de clássico dos games de ação mostra como a obra original é atemporal

8 min de leitura
22.08.2025, às 04H01.

O quão longe uma obra pode ir quando seu criador não está mais por perto?

Quanto mais eu joguei Metal Gear Solid Delta: Snake Eater, mais essa pergunta ficou na minha cabeça. Quanto mais rejoguei, na realidade, levando em conta que esse jogo é um remake que preserva de forma intacta todas as estruturas, histórias e ideias colocadas ali por Hideo Kojima, quando ele ainda era funcionário da Konami e vivia dizendo em entrevistas que o próximo Metal Gear seria “o último Metal Gear”.

Sei que é bastante injusto trazer justamente o nome do Kojima logo no começo desta análise, especialmente levando em conta todo o histórico recente da franquia. Kojima não está envolvido com Metal Gear há quase uma década, desde o infame episódio da sua partida da Konami. O tempo passou, Kojima superou ter perdido sua maior criação - a ponto de publicamente dizer que sequer vai jogar esse remake - mas Metal Gear Solid ainda parece não ter superado Kojima. E talvez isso seja impossível.

Como videogame ainda é um meio cultural relativamente novo em comparação com música ou literatura, por exemplo, ainda não estamos muito acostumados com a ideia de ver alguns games passarem pelo teste do tempo. E isso não diz respeito a coisas como “os controles envelheceram mal” ou “os gráficos estão datados”, e sim de ver obras continuarem sendo relevantes mesmo após as pessoas por trás delas terem partido desse planeta. Curiosamente, quem vem levantando essas questões no meio é o próprio Kojima, que em várias entrevistas afirmou ter contemplado a própria finitude durante o processo de produção do seu jogo mais recente, Death Stranding 2.

Dito isto, o quão longe uma obra pode ir quando seu criador não está mais por perto? Metal Gear Solid Delta não tem pretensão de abordar essa pergunta, mas de forma involuntária contribui para chegarmos na resposta.

Quando se trata de remakes de jogos, especialmente de títulos que estão há duas ou três gerações de distância, como é o caso, a primeira coisa que vem à mente é atualização gráfica. É pegar cenas clássicas e recriá-las com muito mais polígonos, com programas de iluminação e sombreamento mais avançados e, talvez, quem sabe, uma mudança de perspectiva da câmera que deixe a experiência mais próxima de um padrão atual.

Metal Gear Solid Delta faz exatamente isso, e não se preocupa muito em ir além. É claro que existe mérito nessa proposta, especialmente quando o salto de qualidade visual é tão incontestável. Ele está no suave brilho do luar quando Snake volta novamente para a selva soviética no início da operação Snake Eater, nos pedaços de folhagem e lama que grudam na sua roupa ao se rastejar pela floresta, ou até mesmo nas novas animações de movimentação e combate (que parecem ter sido um tanto quanto reaproveitadas de Metal Gear Solid V, mas vamos dar o benefício da dúvida).

Também são bem-vindos os ajustes finos nos menus, especialmente na hora de escolher as várias camuflagens de Snake, e no combate, que ganhou um modo de mira em terceira pessoa com a câmera se aproximando do ombro do personagem, somada a um novo esquema de gameplay que coloca coisas como atirar e mirar nos botões que você está acostumado a usar em outros jogos de ação.

Tirando esse tapa no visual e esses retoques no gameplay, Metal Gear Solid Delta é exatamente a mesma experiência de Metal Gear Solid 3, só que com gráficos mais bonitos. Todo o resto é transportado sem tirar nem pôr do clássico de PlayStation 2, dos mesmos enquadramentos de câmera ao design de cenários, arquivos de áudio.

A grande sorte da Konami com essa estratégia conservadora de remake é que… bem… Metal Gear Solid 3 é um jogaço. Mais ainda: Metal Gear Solid 3 ainda é um jogaço em 2025.

Uma das primeiras coisas que a Konami fez ao anunciar um remake de Metal Gear Solid 3 foi explicar por que este jogo foi escolhido, em vez do primeiro ou segundo títulos da série. Como ela é um prelúdio, pode servir como ponto de partida para a série como um todo. Mas eu acrescento um argumento a essa escolha: Metal Gear Solid 3 já tinha, em 2004/05, todas as regras e sistemas de um jogo de ação moderno, tornando o trabalho de adaptação da obra muito mais fácil. Você não precisa repensar um jogo antigo do zero quando o material base que você tem em mãos já traz esse nível de qualidade.

Na parte de gameplay, o grande diferencial é a ambientação, que troca os cenários predominantemente urbanos e industriais de jogos anteriores por ambientes naturais. Selvas, rios, montanhas. Flora e fauna locais, com direito a picada de bicho, cogumelo venenoso, plantas que podem virar remédio e mais. Aprender a usar a natureza ao seu favor, seja para se camuflar, seja para coletar comida e remédios, requer que você tenha estratégia na hora de agir. Metal Gear nunca se contentou em ser um jogo de ação simples, e esse momento a momento mais estratégico é o que diferencia MGS 3 e, por consequência, o seu remake.

Mas é exatamente essa cadência que faz toda a parte de jogar Metal Gear Solid 3 muito satisfatória. É um jogo que te faz celebrar pequenas conquistas, indo de coisas simples como passar despercebido por uma base inimiga ou até aquelas horas de improviso em que alguma coisa tirada do cenário ou um item perdido no inventário te tiram de um sufoco, seja quando você é descoberto ou nas várias batalhas de chefe memoráveis..

Você precisa celebrar cada passo, já que a história de Metal Gear Solid 3 retrata a épica jornada de um herói solitário contra um exército. Situado no auge da Guerra Fria, em meados dos anos 1960, o jogo te coloca na pele do soldado Naked Snake (David Hayter), em uma missão solitária e perigosa na selva soviética para destruir uma arma secreta capaz de disparar bombas nucleares de qualquer lugar do planeta. Além de encarar um batalhão de soldados, no final dessa missão está a sua antiga mentora, The Boss (Lori Alan), agora aliada do bloco comunista.

Estou simplificando bastante para não dar spoilers, até por que, como em todo Metal Gear, esse jogo fica muito melhor com as surpresas intactas, mas é seguro dizer que boa parte do que segura a narrativa de Metal Gear Solid 3 é a dinâmica do aprendiz superando o mestre. Há também uma ou outra cena que envelheceu mal, especialmente nas câmeras indiscretas quando uma personagem feminina entra em cena, mas o que mais me chamou a atenção é como esse jogo se sustenta por si só.

Muito embora um dos objetivos principais da trama de MGS 3 tenha sido seja ampliar o escopo da história maior que estava sendo contada por Kojima na época, a história principal do jogo, com o duelo entre Snake e Boss e o contexto da Guerra Fria já é interessante por conta própria, o que faz desse jogo um inusitado ponto de partida até mesmo para quem está chegando agora e não conhece nada de Metal Gear.

Eu adorei voltar para Metal Gear Solid 3 com essa atualização gráfica, mas ao mesmo tempo não consegui deixar de pensar que tudo o que eu gostava naquele jogo já existia na versão original, e nada do que o remake trouxe de novo fazia, de fato, alguma diferença na experiência.

Muitos remakes de jogos clássicos recentes mostram que essas versões novas vem com intervenções criativas das equipes de desenvolvimento capazes de agregar ao jogo como um todo, mas Metal Gear Solid Delta parece ter medo de cruzar essa barreira. Esse limite auto-imposto não deixa de ser curioso, já que a Konami parece não ter tido esse receio quando colocou outro de seus jogos mais populares, Silent Hill 2, nas mãos da Bloober Team, e o resultado, com todas as mudanças, foi positivo.

Aos poucos, esse sentimento de que nada do remake em si agregou a Metal Gear Solid Delta pra mim, se transformou em uma dúvida. Passei a me perguntar qual a razão desse remake existir, tendo em vista que o Metal Gear Solid 3 original é um jogo bem acessível até mesmo em plataformas atuais. A própria Konami o relançou há menos de dois anos em uma coletânea.

Antes que você comece a bater na caixa de comentários que esse remake serve para a Konami ganhar dinheiro, acho que é possível pensar em algumas teorias e especulações que ajudam a entender o que esse remake é e para que ele serve. A primeira explicação que consigo encontrar para uma abordagem mais temerosa de novidades é o fato de Metal Gear ainda estar muito ligado à imagem de Hideo Kojima. Pensar em mudanças significaria mexer na visão de um dos nomes mais conhecidos por sua assinatura como diretor de jogos, com todas as consequências que isso poderia trazer.

Essa é a resposta mais óbvia, mas Metal Gear Solid Delta parece oferecer um caminho mais otimista. Sim, esse é um jogo muito ligado a Hideo Kojima, mas o remake parece, de forma até inusitada, estar em paz com isso. Fiquei muito surpreso com a frequência com que o nome do diretor ainda aparece em destaque em telas de créditos e até mesmo na sequência de abertura, dado o histórico do apagamento do nome do designer na época do lançamento de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain.

Como eu disse no começo do texto, Metal Gear parece não ter superado o seu próprio criador, mas MGS Delta parece mostrar que os atuais envolvidos com a saga aceitam essa realidade. E, no mínimo, mostram que a equipe também parece valorizar o legado que ficou, apontando para um futuro da franquia que se comunica e honra muito mais o seu passado do que aberrações como Metal Gear Survive.

Dito tudo isso, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater pode não ir além do óbvio como remake, mas tem um material base que resistiu a um dos desafios mais difíceis da cultura pop: o teste do tempo. E também oferece uma resposta animadora para a pergunta que eu lancei no começo do vídeo: este é um jogo que ainda pode ir muito longe, mesmo sem a tutela de seu criador.

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Nota do Crítico

Excelente!

Metal Gear Solid Δ: Snake Eater

28.08.2025
Ação, Ação Furtiva
Desenvolvedora: Konami Digital Entertainment, Virtuos
Publicadora: Konami
Classificação: 18 anos
Testado em: PC