Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Veja as ofertas
Termos e Condições Política de Privacidade
Games
Crítica

Hollow Knight: Silksong é muito bom, mas tem certeza demais disso

Game aposta alto em si próprio, mas não vence em todas as mesas

6 min de leitura
05.11.2025, às 12H59.
Atualizada em 05.11.2025, ÀS 13H13

Créditos da imagem: Divulgação/Team Cherry

 

O processo de escrever um review não costuma mudar tanto entre jogos: jornalistas e criadores de conteúdo recebem uma cópia antecipada do game, há uma data de embargo em que as análises são permitidas, e normalmente não há muita conversa entre colegas de profissão sobre o que estão achando da experiência. Hollow Knight: Silksong é o completo oposto disso, em mais de um sentido.

Não houve código gratuito ou acesso privilegiado para ninguém, a não ser os apoiadores originais do projeto no Kickstarter, que puderam baixar o game antes de seu lançamento — mas não jogá-lo.

Por cima disso, o novo título da Team Cherry é um dos mais esperados da história, unindo fãs do Hollow Knight original e alguns desentendidos em um trem desgovernado. Não existe a menor possibilidade de um jornalista ter a experiência “pura” de Silksong: todos estivemos cercados de pessoas extasiadas pela chegada da aventura de Hornet.

Divulgação/Team Cherry

Momentos como esse são cada vez mais raros. Ainda que a indústria de jogos gire em torno da ansiedade pelo que está por vir, e quase nunca pela animação com o que já está em nossas mãos, Silksong provou que ainda existe espaço para celebrar. Um título feito por um estúdio australiano que não chega a dez funcionários fixos, mas que ainda furou a bolha; o novo capítulo genial de um metroidvania que renasceu o gênero; a concretização do tal hype.

Óbvio, bastaram poucas horas para que boa parte dessa animação se convertesse em ódio. Olhando para as mais de 180 mil avaliações que o game já tem no Steam, o resumo é “Muito positivo”, e não “Extremamente", como normalmente consta em jogos que chegam a esse nível de excelência.

Afinal, já debatemos extensivamente no Omelete a missão quase impossível que Silksong tinha posicionado para si. O Hollow Knight original passa longe de ser um jogo fácil ou indicável para qualquer pessoa, e não havia qualquer motivo para pensar que sua sequência seria diferente. Ambos são difíceis e frustrantes, largando o jogador em mundos hostis sem muita explicação do que está acontecendo. Quando Hornet e o Guerreiro caem, Fiarlongo e Hallownest não estendem a mão – eles os chutam até que eles agonizem.

Divulgação/Team Cherry

As reclamações sobre a dificuldade do novo game, especialmente em comparação com o antecessor, não são infundadas. O dano duplo ao simplesmente encostar em chefões, e o longo caminho para reenfrentar alguns deles é sinal da principal diferença entre os dois jogos da Team Cherry: Silksong acredita mais em si mesmo.

O primeiro vislumbre de um estúdio mais confiante está nos segundos iniciais, com a tela dizendo Ato 1. Em Hollow Knight, era fácil largar o jogo depois do final mais básico de todos: não há um fio condutor claro para o que está acontecendo com a história, e aceitar que a aventura acabou quando os créditos sobem é muito mais fácil.

Por outro lado, a trama de Hornet grita a necessidade por um encerramento. Sim, os créditos sobem e uma mensagem de conclusão aparece na tela, mas todos os envolvidos sabem que há mais a ser contado. Mesmo que não seja por isso, resta o conhecimento comum de que enredos costumam ter três atos.

Divulgação/Team Cherry

Para que essa estrutura dê certo, o jogador precisa ter se conectado com Fiarlongo de alguma forma. Seguir jogando após o suposto fim de um game tão difícil costuma pedir uma força de vontade imensa, mas esse movimento parece natural em Silksong. Por mais que o chão do cenário já tenha sido limpo com o seu suor e sangue inúmeras vezes, queremos sentir mais das coisas boas que o jogo nos traz.

Satisfação mecânica; explorar a beleza visual; descobrir um novo NPC; um chefão que traz algo diferente para o combate; coletar rosários; tocar o Agulino para a Besta dos Sinos. Qualquer um desses elementos, ou a soma deles, supera o ódio puro e genuíno que sentimos com a Última Juíza ou a Besta Alada, e nos faz querer mais.

Também é nessa certeza de sua qualidade que acontecem os maiores problemas de Silksong. Chefes como a Viúva ou os Dançarinos Mecânicos são complicados, mas ainda divertidos e até emocionantes de se superar, mesmo com a frustração de inevitáveis derrotas. Quase todas as boss fights de Silksong têm golpes telegrafados, evidenciando o erro do jogador, que inevitavelmente vai aprender pela repetição. Esse processo costura dificuldade e evolução com o mesmo novelo, e é um dos responsáveis pela sensação positiva ao finalmente vencer.

Divulgação/Team Cherry

Em outros casos, o jogo escolhe um processo artificial, em que o sofrimento não se justifica. Chefes que invocam inimigos adicionais, só aparecem depois de uma longa onda de adversários menores, ou causam duas máscaras de dano com qualquer toque, passam longe do charme de um conjunto de golpes bem definido.

O mesmo se aplica para armadilhas, inimigos minúsculos que causam grande dano sem muito alarde, e os insuportáveis “runbacks” para algumas batalhas. Tudo isso só existe pela certeza da Team Cherry de que continuaremos jogando — ou talvez, como já especularam alguns jogadores, simplesmente porque os desenvolvedores passaram tempo demais com o game, e já acham que lutar em Fiarlongo é um passeio no parque.

Boa parte dessas problemáticas some, ou muda de forma, durante o Ato 3. Entendendo a urgência de seu enredo, o jogo assume um formato muito mais básico, de ir do ponto A ao ponto B para cumprir objetivos e facilitando todos os trajetos. Obviamente, ainda há incontáveis cantos a serem explorados e áreas inteiras que podem passar batido até para quem assiste ao final verdadeiro — mas a parte final do jogo é inegavelmente mais direta.
Reduzindo os caminhos, Silksong perde qualquer vergonha em dificultar a vida do jogador com algumas das batalhas mais infernais possíveis, que mantêm os erros e acertos do restante do game. Escalar uma torre de ondas de inimigos chega a ser mais difícil (ou chato) do que o chefão que aguarda no topo. Ficar quase um minuto inteiro esperando por animações obrigatórias antes de começar uma nova tentativa é desgastante, não importa o quão épico seja o que vem depois.

No fim das contas, numa época em que grandes estúdios se esforçam ao máximo para agradar a todos, é até bom ver desenvolvedores independentes sendo fiéis a sua visão — o que não exime a culpa da Team Cherry em pontos como acessibilidade, que é praticamente inexistente nesse game. Permitir o remapeamento de controles não acabaria com a proposta de dificuldade, e mesmo o gênero souls já está testando as águas do temível Modo Easy.

Hollow Knight: Silksong é muito bom, mesmo que tenha frustrado alguns que esperaram por ele ao longo de quase sete anos. As expectativas eram impossíveis de serem atingidas, e ainda assim, a Team Cherry conseguiu triscá-las em um jogo que só reforça sua qualidade como estúdio.

Nota do Crítico