A diretora Mariana Youssef confessa que “nem acreditou” quando foi convidada a dirigir NICO, comédia dramática com roteiro de Filipe Valerim Serra (seu parceiro na série Lov3). Isso porque, segundo ela, o filme estrelado por Murilo Benício e Kevin Vechiatto se encaixa em um de seus subgêneros favoritos.
“Eu sou suspeita para falar, porque meu filme favorito da vida é Pequena Miss Sunshine. Quando me convidaram para fazer [NICO], nem acreditei, porque é um gênero que não se faz muito [no Brasil]”, comenta ela em entrevista ao Omelete, no set do filme em São Paulo (SP). “Nem sei se a gente pode chamar de gênero, mas é um tipo de filme que é super raro aqui. Não temos uma tradição de road movie”.
Em NICO, produzido pela LB Entertainment e pela +Galeria, Benício interpreta Márcio - um comediante em decadência que embarca em uma longa viagem de carro inesperada com o filho, Nico (Vechiatto), com quem não teve muito contato durante os anos. Agora obrigados a conviver no SUV antigo de Márcio, os dois homens de diferentes gerações terão que finalmente se entender.
“Eu acho que é talvez a mais básica das analogias, né? A estrada enquanto jornada”, brinca Youssef. “É muito clichê, mas num bom sentido, porque é uma verdade universal. E é uma história muito boa de contar, o passo a passo deles dois, o crescimento deles dois, as formas como eles resolvem conflitos”.
Duas masculinidades
Foto de set de NICO - no centro, sentada, a diretora Mariana Youssef (Stella Carvalho/Divulgação)
Durante visita ao set de NICO, o Omelete acompanhou a gravação de uma cena na garagem de Márcio, logo antes do começo da viagem da dupla principal. Vê-se logo que humor debochado do pai se choca com o trato mais reservado do filho, que protesta contra a viagem: “É ano de ENEM, eu preciso estudar”. Márcio rebate: “Ué, mas sua mãe me disse que você vai fazer Letras”.
“O Márcio é um cara que ficou no tempo dele. Como tantos de nós ficamos, as pessoas da minha idade, de 50 anos pra cima”, reflete Benício. “O mundo de hoje em um mundo onde ele não cabe mais, onde o humor dele não cabe mais. Ele não tentou ou não conseguiu acompanhar. Existe um choque de geração, até porque para o Nico não existe esse dilema da masculinidade frágil. Eu tenho dois filhos, um de 28 e um de 19, e vejo que eles não tem nenhuma questão em relação a isso, enquanto nós mais velhos ainda estamos tentando conquistar essa história”.
O ator ainda indica que as dificuldades que Márcio enfrentou na carreira se deram por conta de um “cancelamento”, advindo do teor preconceituoso de piadas que ele incluía em seus shows: “Aquele ‘cancelamento’ amadureceu de uma forma muito ruim dentro dele, ele sentiu que tinha que virar as costas para o mundo, não aprendeu com o tempo. E o filme não necessariamente para tudo pra falar sobre isso, mas essa questão está ali o tempo todo. A gente conta essa história sem julgar”.
Em contraparte, Nico foi criado pela mãe (vivida por Leandra Leal) e lida com o mundo através de “ferramentas femininas”, como define Youssef: “Ele é mais respeitoso, organizado e afetuoso. Ele tem um outro registro. Pra mim é muito legal ver que a gente se torna diferente a depender da batuta que nos rege. E não é uma coisa alegória óbvia, o Márcio não termina o filme completamente diferente do que era no começo, mas ele passa por uma jornada realista. Nosso filme não levanta bandeira, não fica falando o tempo todo, mas existe uma simbiose legal com esse tema”.
As filmagens de NICO continuam acontecendo pelo interior de São Paulo. Ainda não há data de estreia definida para a comédia.