Em uma conferência com analistas de Wall Street, os co-CEOs da Netflix, Ted Sarandos e Greg Peters, detalharam as razões por trás da histórica aquisição da Warner Bros. Discovery.
Em outubro, quando a Warner foi colocada à venda, Peters havia declarado que a empresa não estava buscando tal aquisição, argumentando que fusões similares não mudavam o cenário competitivo. Questionado sobre a mudança, Peters atribuiu o sucesso da operação ao conhecimento profundo do negócio.
"Historicamente, muitas dessas fusões não deram certo", disse Peters. "Muitas das falhas que vimos historicamente ocorreram porque a empresa que fazia a aquisição não entendia o negócio do entretenimento. Nós entendemos esses ativos que estamos comprando."
O executivo enfatizou que, diferentemente de empresas em busca de um "salva-vidas", a Netflix é um negócio em crescimento que compreende o setor. Ted Sarandos rebateu os temores de que a fusão prejudicaria a indústria, especialmente a produção cinematográfica.
"Acho que esta é uma boa história, porque este é um negócio saudável e em crescimento que vai ajudar outro negócio a crescer de forma mais saudável", afirmou Sarandos. "As oportunidades são grandes para a produção americana e para a indústria do entretenimento como um todo."
Sobre as preocupações antitruste e o escrutínio regulatório — incluindo uma carta de profissionais do setor ao Congresso solicitando análise rigorosa —, Sarandos se mostrou confiante. Ele descreveu o acordo como "pró-consumidor, pró-inovação, pró-trabalhador, pró-criador e pró-crescimento".
"Vamos trabalhar muito de perto com todos os governos e reguladores apropriados, mas estamos realmente confiantes de que obteremos todas as aprovações necessárias", declarou o co-CEO.
Foi revelado ainda que a Netflix planeja combinar seu orçamento anual de conteúdo, estimado em US$ 16 bilhões, com o da Warner Bros. No entanto, o CFO Spence Neumann sinalizou que buscarão "eficiência de conteúdo [...] ao longo do tempo", sugerindo uma possível redução no volume de produção do estúdio adquirido.
Tudo sobre a aquisição da Warner pela Netflix
Netflix anunciou um acordo para adquirir a Warner Bros. Discovery (WBD) num dos maiores negócios da história do entretenimento global. A operação combina dinheiro e ações — avaliando a WBD em US$ 27,75 por ação — e totaliza quase US$ 83 bilhões em valor empresarial, com US$ 72 bilhões em valor de mercado para os acionistas.
O que muda para a Netflix?
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A Netflix alavanca seu crescimento ao incorporar um vasto catálogo histórico de filmes e séries, incluindo ativos premium como HBO/HBO Max, além de estúdios e franquias icônicas.
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A ação representa uma mudança significativa no modelo tradicional da Netflix, que até então crescia principalmente por produção orgânica e licenciamento, e agora passa a integrar grandes ativos tradicionais de Hollywood.
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A operação ainda dependerá de aprovações regulatórias, podendo enfrentar escrutínio antitruste.
Expansão estratégica e pressões regulatórias
A aquisição marca uma mudança na estratégia da Netflix, que historicamente cresceu com produções próprias e licenciamento. Sob seu guarda-chuva, o estúdio Warner passaria a operar com fluxo próprio, mantendo lançamentos de cinema com janelas tradicionais e uma estrutura híbrida entre streaming e exibições teatrais — uma expansão do modelo atual da plataforma.
O negócio, porém, enfrenta resistência. Cineastas e produtores pediram ao Congresso dos EUA um escrutínio antitruste rigoroso, alegando risco de concentração de mercado. Legisladores também solicitaram avaliações detalhadas sobre impacto em concorrência, distribuição e relações trabalhistas no audiovisual.
Disputa acirrada e críticas entre concorrentes
Durante o processo, a Paramount Skydance questionou a lisura da venda e acusou a WBD de favorecer a Netflix. A empresa defendeu a criação de um comitê independente para avaliar as propostas, enquanto grupos políticos republicanos também demonstraram preocupação pública com a expansão da Netflix sobre operações de TV e cinema.
O que acontece agora e resposta do governo
As negociações seguem exclusivas por prazo limitado e podem resultar num anúncio oficial caso Netflix e WBD alinhem os termos finais. Depois disso, o acordo ainda precisará passar pelo crivo dos reguladores — etapa que pode se prolongar ao longo de 2026.
A proposta da Netflix chamou atenção dos órgãos regulamentadores nos Estados Unidos, com a representante republicada Darrell Issa fazendo uma carta em novembro para a Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, e ao presidente da FTC, Andrew Ferguson, e à Procuradora-Geral Adjunta da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça, Gail Slater.
A Netflix é a principal líder no mercado de streaming, e a aquisição da HBO Max, representaria uma grande disrupção no cenário dos serviços de streaming. Devido a esses problemas, a Paramount teria enviado uma carta ao time legal da Warner avisando que a negociação com a Netflix pode não se concretizar devido aos órgãos regulamentadores, e também acusando a empresa de favorecer o streaming nas negociações.