Filmes

Notícia

Festival de Gramado | Aquarius é ovacionado em meio a protesto contra o governo

Filme chega ao circuito nacional na próxima quinta-feira

27.08.2016, às 14H55.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 11H01

Como se esperava, a passagem de Aquarius pelo 44º Festival de Gramado, na abertura do evento, ontem à noite, transformou a Serra Gaúcha em palco para protestos contra o governo interino de Michel Temer. Gritos de "Fora Temer!" e vaias ao atual ministro da Cultura, Marcelo Calero - que abrira o festival em pronunciamento no fim da tarde - aqueceram o primeiro dia de sessões.

Na manhã deste sábado, a coletiva de imprensa do longa-metragem dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Sonia Braga foi igualmente marcada pelo tom politizado. "Aquarius é uma representação da vida no Brasil, e, exatamente por isso, é tenso, é emotivo, é enfurecedor", disse o diretor, que, em maio, durante a passagem do longa pelo Festival de Cannes, na disputa pela Palma de Ouro, fez um protesto contra o governo interino com a equipe do longa.

Aquarius estreia em circuito em 1º de setembro, sob a controvérsia da classificação indicativa de 18 anos, considerada arbitrária por parte da classe cinematográfica (leia mais), e de discussões sobre a legitimidade da comissão do Ministério da Cultura delegada para decidir o filme que representará o Brasil no Oscar 2017.

Prêmio de melhor filme nos festivais de Sydney, na Austrália, e Lodz, na Polônia, Aquarius toma seu título emprestado de um edifício homônimo do Recife, onde vive Clara (Sônia Braga), uma jornalista e crítica de música aposentada que trava uma guerra contra a especulação imobiliária - personificada no engenheiro Diego (Humberto Carrão) - para preservar seu prédio e suas memórias.

O longa foi ovacionado após a exibição de gala em Gramado. "Diego talvez seja o vilão mais plausível do cinema brasileiro contemporâneo, neste momento politicamente conturbado. Sobre a representação do Mal no cinema... Bem, se algum dia, algum roteirista escrevesse um personagem como Donald Trump, alguém o repreenderia, dizendo: 'Não existem pessoas assim'. O mesmo vale, no Brasil, se alguém escrevesse um personagem como Eduardo Cunha. Ele pareceria exagerado. Mas se fosse num roteiro meu, Eduardo não estaria solto", ironizou Kleber Mendonça Filho.

Gramado segue hoje com os primeiros longas nacionais em competição: o musical Elis, de Hugo Prata, e a comédia O Roubo da Taça, de Caíto Ortiz. Neste domingo, o evento sedia um debate sobre dublagem, com a presença de Márcio Seixas, que emprestou sua voz a Bruce Wayne em Batman: A Série Animada, e assume sempre a versão brasileira de Clint Eastwood.