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Festival de Berlim | Filme de terror sobre tragédia na Noruega divide a Berlinale entre vaias e ovações

Rodado num único take de 72 minutos, U-July 22 recria com realismo máximo um tiroteio num camping de jovens

19.02.2018, às 12H01.
Atualizada em 27.02.2018, ÀS 20H04

Rodado num único take, de 72 minutos, como se fosse um videogame de tiro, U-July 22, do norueguês Erik Poppe, foi o primeiro dos 19 concorrentes ao Urso de Ouro do Festival de Berlim 2018 a arrancar vaias, por questões políticas, mas, ao mesmo tempo, arrancou uma salva calorosa de aplausos por seu virtuosismo técnico. Nenhum dos competidores dividiu mais as opiniões do que esta reconstituição, em forma de filme de horror, do massacre ocorrido na Ilha de Utoya, na Noruega, em 22 de julho de 2011, numa zona de camping para jovens estudantes. Os ataques ao filme vieram por sua aposta em abordar o episódio sob uma perspectiva física, como se levasse o espectador para viver o que lá se passou, em tempo real, tendo uma das vítimas, Kaja (Andrea Berntzen), como foco. A narrativa segue a correria da moça para escapar das balas de um atirador de elite: um ativista da Extrema Direita, também ligado a um bombardeio.

"Uma das questões mais desafiadoras do cinema é dominar o Tempo e reproduzir fisicamente as sensações que um espaço demarcado de horas pode transmitir. O importante era transmitir o que se passou naquela ilha e, a partir do incidente, discutir o avanço do fascismo na Europa", disse Poppe ao Omelete, sendo ovacionado várias vezes durante a coletiva de imprensa do longa na Berlinale, por suas reflexões humanistas. "Não quis fazer um memorial da tragédia. Quis fazer um movimento que canalizasse nossa inquietação frente ao que houve".

Frenético do começo ao fim, sobretudo por sua engenharia de som sofisticada, U-July 22 foi construído a partir de depoimentos dos sobreviventes de Utoya. "Muita gente me perguntou por que não fiz um documentário sobre os fatos. A opção pela ficção é que ela pode explorar camadas, sobretudo acerca das inquietações da juventude, que não estão visíveis nas camadas do Real", disse Poppe. "Espero que o contato com este filme faça parte do processo de cura das vítimas".

De todos os filmes das mostras paralelas à briga pelo Urso de Ouro exibidos em Berlim até agora, nenhum tem um boca a boca mais apaixonado do que o documentário brasileiro Bixa Travesti, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman. Espécie de Purple Rain queer, o filme conquistou a capital alemã com as performances da cantora trans Linn da Quebrada.