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Crítica

Crítica: Zona Verde

Paul Greengrass e Matt Damon adaptam o estilo, a estrutura e o heroísmo Bourne à Guerra do Iraque

15.04.2010, às 16H52.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 02H09

Corre uma história de sobressaltos na produção de Zona Verde (Green Zone, 2010). A Universal teria se ressentido por gastar mais do que o esperado - Paul Greengrass ajusta seus roteiros ao longo do processo, o que pode acarretar refilmagens e estouro de orçamento - em um projeto que deveria ser apenas um respiro do diretor antes de voltar a dirigir os filmes de Jason Bourne. O desarranjo foi tamanho que Greengrass se sentiu desprestigiado, chutou o balde e deixou a franquia do espião.

zona verde

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Zona Verde foi um fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, mas não dá pra acusar Greengrass de surto. Ele não tentou realizar um filme difícil ou diferente. Pelo contrário: Zona Verde é Bourne do começo ao fim.

Matt Damon agora interpreta o sargento Roy Miller do exército dos EUA, encarregado de um pelotão que procura armas de destruição em massa no Iraque, nos primeiros dias da ocupação de 2003. Dentro da tal zona verde - a área isolada de diplomacia ao redor do palácio tomado de Saddam Hussein em Bagdá - tudo é otimismo. Já no dia a dia de Miller, receber pistas infundadas sobre localizações das supostas armas já está se tornando um constrangimento.

Eis então que baixa o Jason Bourne em Roy Miller. Assim como nas tramas criadas por Robert Ludlum, o herói chama a responsabilidade para si e se vê rapidamente no epicentro de uma conspiração. Orbitado por um civil iraquiano, um agente da CIA, uma jornalista e um burocrata da inteligência do governo, Miller tenta descobrir a verdade sobre a fonte anônima que tem fornecido ao exército as coordenadas falsas.

A patrulha da verossimilhança vai se deliciar com Zona Verde. Porque há uma diferença entre promover ação inverossímil num filme assumidamente pop como Bourne (surra de revista?) e tentar convencer o espectador dos mesmos exageros num filme de guerra baseado em fatos. Todo mundo zoa Michael Bay por sua falta de senso geográfico ou de noções de hierarquia militar, mas nesses quesitos Greengrass não se sai muito melhor.

Fica até chato listar as incongruências. Digamos só que o sargento despiroca sem ser questionado por seus superiores (os subalternos só sabem dizer "hooah") e que, dentro do esquema ritmo-de-aventura de Greengrass, uma sucata dirigida por um perneta se move mais rápido do que o helicóptero das Forças Especiais.

As "licenças poéticas" em si não são o problema. A questão crítica é que o inverossímil em Zona Verde acaba com a nossa suspensão de descrença, e deixa mais visível o arsenal de muletas de que Greengrass dispõe para dar um verniz a seus filmes de ação.

A principal delas, a já famosa câmera tremida na mão, consegue dar um pique bom ao filme, mas pesa quando usada sem critério ou sem distinção entre câmera objetiva e subjetiva. Os diálogos martelam sermões sábios sobre a guerra (todo iraquiano que sabe um mínimo de inglês se torna um grande orador). E a distribuição de coadjuvantes, pensada para gerar um painel "complexo", soa esquemática: temos o cara que acredita num novo país feito só por iraquianos, outro que acredita na democracia americana, outro que pensa numa terceira via que junta o exército iraquiano e os EUA etc.

Dois personagens repetem que, naquele contexto, é importante não ser inocente. Pois Greengrass não deveria ser simplista. Seu apego à fórmula Bourne é tamanho que gera, no fim, a obrigação de um desfecho triunfante. Mas todos conhecemos o ocaso lento dessa guerra administrativa, e a emenda fica capenga. Heroísmo vigilante, mesmo com as melhores intenções, também tem limite.

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Nota do Crítico
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