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Crítica

Crítica: O Rei do Ping Pong

Produção sueca tenta maquiar o filme de formação com mistério e excentricidades

28.10.2009, às 22H00.
Atualizada em 16.11.2016, ÀS 16H08

As histórias de amadurecimento adolescente conhecidas como romances de formação implicam, frequentemente, em três descobertas: do sexo, da morte e das mentiras que os adultos contam. O Rei do Ping Pong, assim como outra produção sueca, Deixa Ela Entrar, maquia essa previsibilidade optando por um gênero diferente. Desta vez não é o terror de vampiro, mas o filme de mistério.

rei do ping pong

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O enigma que ocupa a cabeça de Rille - a ponto do garoto de 16 anos esquecer o torneio de tênis de mesa que estava organizando - é a identidade de seu pai. Por anos Rille acreditou que fosse o mergulhador de quem tem várias fotografias; o cara é bonito, atlético e faz sucesso com as mulheres, como o irmão caçula de Rille, Erik. O caso é que a sua mãe vive com outro homem, um perdedor, tímido, careca - mais parecido com o perfil do gordo e impopular Rille.

Não bastassem todas as inseguranças da juventude, Rille ainda depara, então, com esse mistério: como pode seu caçula ser tão desigual? Será que os dois são filhos de pais diferentes?

O diretor estreante Jens Jonsson trabalha com esse suspense para falar da ausência (e da substituição) de figuras paternas, como elemento central das dores do crescimento. Como em Deixa Ela Entrar, adolescentes parecem forçados a se tornar adultos - Rille se comporta como o tal rei do ping pong, ajuda a mãe como o homem da casa, solta frases "de adulto" que começam com "como eu gosto de dizer...".

São adultos jovens e já estão sozinhos no mundo - o que o formato de tela horizontalizado, 2,35:1, e a paisagem brutalmente vasta e branca da Suécia reforçam. Pode parecer miopia comparar O Rei do Ping Pong com dois filmes suecos que recentemente chegaram ao circuito brasileiro, mas o fato é que o trabalho de Jonsson lembra também Vocês, os Vivos - com suas cores desbotadas e seus enquadramentos rigorosos, cheios de detalhes pelos cantos e personagens caricatos. Em O Rei do Ping Pong, a vida não só é fria e doída, como já parece nascer velha.

No geral, as excentricidades de O Rei do Ping Pong, embaladas com música de thrillers, conservam o ar de novidade do filme - ainda que no fundo exista sempre a obrigação de cumprir o caminho clássico do romance de formação. Há cenas funcionais que existem só pra justificar esse rito de passagem (quando eles acham a espingarda, quando abrem o buraco etc.), e aí não há bizarrice que esconda o que o arco de Rille tem de previsível.

Nota do Crítico
Bom