Filmes

Crítica

Kaboom | Crítica

O dia em que Richard Kelly e Buñuel se encontraram em Saved By the Bell

07.06.2012, às 19H19.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 00H02

Conhecido por seus filmes de temática gay, o californiano Gregg Araki já fez uma comédia de humor negro com astros B da televisão (o cult Geração Maldita, de 1995) e chegou a dizer que seu Nowhere (1997) era como um episódio chapado de ácido de Barrados no Baile. A relação satírica do diretor com as séries de TV se exacerba com Kaboom.

gregg araki

kaboom

festival do rio

juno temple

O filme mais recente de Araki, depois de Mistérios da Carne (2004) e Smiley Face (2007), o primeiro em scope, exibido este ano fora da competição no Festival de Cannes, talvez seja o mais próximo que Saved By the Bell tenha chegado da Riviera Francesa. Não são das telesséries como um todo que Araki sequestra o imaginário, e sim, especificamente, das sitcoms e dos dramas juvenis californianos, linhagem extensa de subprodutos que a cada geração tem pelo menos um 90210 e um Melrose Place.

Smith (Thomas Dekker) está quase completando 19 anos e não gosta de rótulos. Fantasia com homens mas também se relaciona com mulheres. É o típico protagonista cercado de estereótipos (a fashionista, o latino, o negro, a inglesa, o surfista) que nos seriados aprende uma lição valiosa por episódio, só para depois cometer os mesmos erros na semana seguinte. A diferença, aqui, é que Smith está no centro de uma trama sci-fi.

Mais do que tentar explicá-la, talvez seja mais objetivo dizer que a trama de Kaboom mistura Richard Kelly com The O.C., Pânico com o Speed Racer dos Wachowski, Um Cão Andaluz com a Bíblia Sagrada, ainda referencia conspirações de seitas, bruxarias & sobrenatural, máscaras de animais do paganismo, e finalmente, obrigatoriamente, aborda o fim do mundo como o conhecemos.

Quando diz em certa cena que faculdade de cinema é um anacronismo, porque o cinema talvez não exista mais amanhã no formato de hoje, Araki está no fundo comentando a sua própria disposição para desconstrui-lo. Kaboom tem os cenários visivelmente precários da TV e a narrativa em si segue, sempre com fins satíricos, as regras engessadas dos seriados (toda cena começa com o plano geral da fachada de um prédio, pra nos situar, mesmo que todos os prédios sejam iguais).

Mais do que isso, a história de Smith ridiculariza a seriedade posada com que as séries encaram o tema do amadurecimento. Não há rito de passagem em todas as falsas questões que o universitário, esse ensaio de adulto, se acha no dever de responder. A única experiência autêntica da época da faculdade, do tipo que se guardará para o resto da vida, é o sexo. E sexo em Kaboom não falta (como também não falta nos seriados, vale dizer). Ou seja, Araki traça um caminho de cinismo para retornar ao tema em que acredita. Em alguma coisa, pelo menos, temos que acreditar.

Kaboom | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo