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Austenland | Crítica

Roteirista de Napoleon Dynamite leva o consumo irônico aos tempos de Jane Austen

30.09.2013, às 13H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Conhecida como a roteirista dos filmes de seu marido, Jared Hess, como Napoleon Dynamite e Nacho Libre, Jerusha Hess faz sua estreia como diretora em Austenland. Embora alguns traços de estilo sejam inequívocos (enquadramento tableau, câmera lenta, tratar os personagens com um misto de ridículo e empatia), neste filme Jerusha se aproxima mais das convenções do cinema de gênero do que seus trabalhos anteriores davam a supor.

austenland

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O filme é uma adaptação do romance homônimo de Shannon Hale. Na trama, Jane Hayes (Keri Russell) tem 32 anos e ainda espera o príncipe encantado. Como ela é obcecada pela escritora Jane Austen, seu príncipe encantado é bem específico: Mr. Darcy, o ícone do amor romântico de Orgulho e Preconceito. Com suas economias, Jane compra um pacote de férias para Austenland, uma propriedade no interior da Inglaterra onde atores profissionais estrelam situações austenianas: caçam faisões, comandam bailes e, claro, "apaixonam-se" pelas donzelas turistas.

Como Jane comprou o pacote mais barato, ela é relegada aos aposentos mais afastados do casarão, e logo se aproxima de Martin (Bret McKenzie), o responsável pelo estábulo - tipo humilde que toca saxofone e escuta hits cafonas de rádio (a antiga Jerusha em ação...) e desdenha o tal teatrinho. Aos poucos Jane atrai a atenção de Mr. Henry (J.J. Field), porém, o "Mr. Darcy" da mansão, e o triângulo se estabelece entre a americana, o cara pobre e sincero e o tipo aristocrático e convencido.

Por conta da premissa, Austenland vai mais longe do que O Diário de Bridget Jones na brincadeira metalinguística com o clássico impasse austeniano. Se Renée Zellweger era a própria narradora do triângulo de Bridget Jones (ter a consciência da sua condição é o que dava o tom de metalinguagem), Keri Russell tem em Austenland não só a consciência de sua condição mas a consciência da própria fórmula: ela sabe que terá que escolher entre um homem ou outro porque, afinal, esse é o script que lhe cabe na viagem.

A Jerusha Hess não interesse levar essa ideia ao limite, a um labirinto à la Charlie Kaufman de simulacros e representações. A diretora e seu ótimo elenco coadjuvante na verdade parecem se divertir mais ao imitar as afetações britânicas, fazendo algumas graças com o gênero (claro que tem cena de aeroporto), sem transformar Austenland numa experiência cabeçuda.

Na verdade, embora o filme todo transpire vocação hipster - fica piscando, invisível, sobre a cabeça dos personagens o neon "consumo irônico" - a Senhora Hess parece mais disposta aqui a se aproximar do cinema comercial, com suas fórmulas e suas soluções pré-aprovadas, do que se poderia imaginar.

Acompanhe as nossas críticas do Festival do Rio 2013

Nota do Crítico
Bom