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Artigo

DVD: Nacho Libre

Uma das melhores comédias de 2006

20.12.2006, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 20H06

Nacho Libre
Nacho Libre
EUA, 2006
Comédia - 92 min.

Direção: Jared Hess
Roteiro: Jared Hess, Jerusha Hess, Mike White

Elenco: Jack Black, Ana de la Reguera, Héctor Jiménez, Darius Rose, Moises Arias, Eduardo Gómez, Rafael Montalvo, Julio Sandoval, Enrique Muñoz, Carla Jimenez, Agustín Rey, Troy Gentile, Peter Stormare


Se você, como o magrelo e risonho Esqueleto, não acredita em Deus mas acredita na ciência, já está a um passo da constatação: Nacho Libre deve muito ao ator Jack Black (King Kong, O amor é cego), a divindade carismática da comédia hollywoodiana, mas não seria o melhor filme do gênero em 2006 se não fosse a sapiência cartesiana e a mundana insolência do diretor Jared Hess.

Ao mesmo tempo em que Nacho chega às locadoras, está saindo também o primeiro longa de Hess, Napoleão Dynamite. É a chance de perceber a sua linha autoral. Há muitos cineastas que exploram estereótipos para fazer graça. Hess leva essa idéia ao extremo - as minorias, os disprivilegiados, os marginalizados são, nos seus dois filmes, tratados ao mesmo tempo com escárnio e com carinho.

No filme, Black vive Ignacio, um padre mexicano que à noite veste a máscara de Nacho e participa de lutas-livres para ajudar o orfanato do monastério em Oaxaca. A primeira cena de Esqueleto (Héctor Jiménez), personagem que se tornará parceiro de luta de Nacho, é um exemplo limítrofe do estilo de Hess. Ignacio acabou de pegar a doação diária do saco de batata chips que sempre leva de bicicleta para os órfãos. Eis que Esqueleto ataca, pulando, grunhindo e mordendo como um macaco, puxando o cabelo de Ignacio e tomando-lhe a comida.

Se associar chicanos com primatas é, na sua opinião, um tipo de preconceito que não serve nem pra fazer piada, então passe longe do filme. O caso é que Hess, apesar de zoá-lo, adora Esqueleto - e, mais importante, aos poucos nos ensina a adorá-lo também. A relação de amor e ridicularização acompanha todos os outros personagens, desde o inglês que Jack Black fala errado, com sotaque espanhol, até o pequeno Chancho (Darius Rose), moleque gordo que não demora a virar um mini-herói também.

O lance de Hess desde Napoleão Dynamite é oferecer a cada um dos excluídos a chance de uma redenção. Por trás do aparente deboche há uma solidariedade imensa - e é essa a mágica que Nacho Libre opera no espectador, transformando a mais batida fórmula do self-made man, a da superação estilo Rocky, em uma coisa original. Nesse ponto, é uma reciclagem tão competente quanto Escola do Rock. Nada disso seria igual, sublinhe-se, se não fosse o poder da gema do ovo de águia, os eagle powers.

Claro que entra aí a atuação inspirada do protagonista, emoldurada pelo domínio de Hess do timing das piadas e da composição do enquadramento. O jeito de Black andar, saltar, pronunciar palavras com caretas diferentes... Tudo isso se potencializa, por exemplo, quando o diretor injeta uma câmera lenta, estende o tempo do plano ou filma uma gag à distância.

Toda a sequência do deserto é hilariante. Black incorpora o chavão do loser-que-dá-a-volta-por-cima com a maior liberdade, rindo das convenções do subgênero. Quando achamos que já é tempo de a dupla ganhar uma no ringue (afinal, uma hora a redenção tem que aparecer), eles se ferram de novo, e Nacho não se conforma: Man... We suck!. De certa maneira, ele está dialogando (ou discutindo) com a própria estrutura do filme, como se soubesse que há esperando por ele uma conquista que nunca chega.

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