Barbara Hershey em cena de A Mansão (Reprodução)

Filmes

Crítica

Barbara Hershey tenta manter dignidade no indeciso e pouco divertido A Mansão

Maior mistério do filme da Blumhouse é como a atriz indicada ao Oscar foi parar nessa trasheira pouco inspirada

08.10.2021, às 17H06.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H47

Há pelo menos dois filmes interessantes enterrados em A Mansão, longa da antologia Welcome to the Blumhouseque que chegou hoje (8) ao Amazon Prime Video. O primeiro é um drama de horror sério sobre a natureza do envelhecimento e as estruturas sociais construídas especificamente para privar os indivíduos idosos de agência sobre o próprio destino - uma história sobre como o mundo deixa de entendê-los como pessoas adultas, e como os direitos humanos se tornam difusos, de maneira quase cruel, uma vez que eles entram no complexo industrial de asilos e instituições similares.

O segundo filme enterrado em algum lugar de A Mansão, diametralmente oposto ao primeiro, é uma comédia de horror esperta que faz mil referências e, ao mesmo tempo, desmonta as convenções da hagsploitation. O nome em inglês faz referência ao subgênero que surgiu na Hollywood dos anos 1960, em que atrizes renomadas da “era de ouro” eram trazidas de volta aos holofotes para estrelar filmes chocantes de suspense que usavam, às vezes desrespeitosamente, suas idades como chamarizes ou instrumentos de plot.

Judith (Barbara Hershey), a protagonista de A Mansão, não é nenhuma Baby Jane - personagem clássica de Bette Davis no maior expoente da hagsploitation, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962). Ex-bailarina e ainda física e mentalmente capaz, ela decide por conta própria se internar em uma instituição para idosos após sofrer um desmaio em sua festa de 70 anos. Quando chega lá, no entanto, começa a ter pesadelos e alucinações, e passa a acreditar que uma força sobrenatural está matando os residentes.

O roteiro de Axelle Carolyn parece esbarrar, meio que sem querer, em alguns subtextos pungentes. A relação de Judith com o neto, Josh (Nicholas Alexander), é central para o filme, e garante o conflito mais envolvente da história, enquanto o jovem se vê dividido entre o conselho dos médicos, que dizem que Judith está apresentando sinais de demência, e a vontade de acreditar na avó. Há algo de genuinamente angustiante, difícil e verdadeiro nesse cabo de guerra, e ele é a fundação das cenas mais eficientes de A Mansão, tanto no terror quanto no drama.

Ao mesmo tempo, Carolyn claramente se esforça para injetar humor e vivacidade ao filme. Os muitos palavrões das falas da protagonista são uma fonte recorrente de piadas, e não da forma preguiçosa de sempre - o engraçado aqui não é que uma mulher idosa seja “boca suja”, mas que as pessoas fiquem espantadas com uma mulher adulta agindo como tal, e que ela precise se justificar por isso. Enquanto isso, o trio Bruce Davison (X-Men), Jill Larson (A Possessão de Deborah Logan) e Fran Bennett (O Novo Pesadelo) devora cenários na pele dos amigos meio sinistros que Judith faz dentro da instituição.

É bacana ver profissionais tão experientes se divertindo com seus papéis - e o mesmo vale para a própria Hershey, uma genuína lenda do entretenimento americano. Indicada ao Oscar por Retratos de uma Mulher e duas vezes vencedora do prêmio de melhor atriz em Cannes (por Gente Diferente e Um Mundo à Parte), ela mostra firmeza ao sustentar Judith como uma personagem crível, e expressar os subtextos mais delicados e trágicos de sua história, diante de um roteiro tão inconstante. E o timing cômico também está em dia!

Aos 73 anos, Hershey é um dos poucos lampejos de dignidade deste terror barato e raso, que desperdiça tanto o seu potencial dramático quanto o seu fator de entretenimento ao se mostrar incapaz de decidir exatamente qual tipo de filme quer ser.

Nota do Crítico
Regular