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Crítica

A Longa Marcha caminha pelas pernas de Cooper Hoffman e David Jonsson

Adaptação de Stephen King é brutal, e um grande holofote para os dois atores em particular

4 min de leitura
18.09.2025, às 09H45.

Créditos da imagem: Paris Filmes

Como o título sugere, A Longa Marcha: Caminhe ou Morra está sempre em movimento. Dramatizando a caminhada de centenas de quilômetros que jovens americanos tomam anualmente no aniversário de uma guerra misteriosa que devastou os Estados Unidos, a adaptação de Francis Lawrence se beneficia do conceito básico da obra original de Stephen King para sempre ter algo a mostrar. Se os personagens estão sempre indo em frente, o filme também vai.

Acontece, porém, que ambos sempre andam em direção ao brutal e ao devastador. Essa caminhada, organizada pelo Major (Mark Hamill, bom nos seus poucos momentos de tela) e transmitida ao vivo para todo o país, têm como suposta premissa inspirar os estadunidenses a se dedicarem novamente ao trabalho, já que a única coisa que sabemos sobre a Grande Guerra é que ela destruiu completamente a economia do país, e agora, mais do que nunca, é preciso que as pessoas se dediquem à indústria. A titular Marcha, porém, também tem como propósito mostrar o que vai acontecer com quem não se dedicar. O vencedor recebe uma quantia enorme de dinheiro e pode realizar um desejo, mas todos os 49 perdedores – eliminados por não andarem rápido o suficiente, saírem da estrada ou pararem de caminhar – são desqualificados de maneira letal. 

Não é à toa, então, que Ray (Cooper Hoffman), Pete (David Jonsson), Hank (Ben Wang) e Arthur (Tut Nyout), assim como todas as outras figuras presentes na 19ª edição da Longa Marcha, continuam caminhando mesmo quando seus pés sangram, sua mente mal processa os arredores ou seus intestinos precisam ser aliviados. Os quatro rapazes acima são o foco do longa de Lawrence, que dá um destaque a mais para a amizade instantânea formada entre os dois primeiros, mas o maior mérito do filme é como, ao longo de seus quase 110 minutos, o diretor encena o roteiro de JT Mollner como um microcosmo, povoado de rostos, se não memoráveis, pelo menos marcantes.

Alguns personagens sequer recebem nomes, mas suas características particulares ajudam a estabelecer a dinâmica de grupo entre os 50 caminhantes. Há o rapaz que escuta o rádio, há o que quer escrever um livro sobre a Marcha, há o “entrão” que quer – de todo jeito – se enturmar com o quarteto protagonista. Alguns são mais desenvolvidos. O nativo-americano Collie (Joshua Odjick) participa da competição com desgosto instantâneo pela mesma, e por quem a organiza, enquanto o musculoso Stebbins (Garrett Wareing) rapidamente se apresenta como um rival forte, mas se há algum antagonista (além do Major), este é Gary Barkovitch (Charlie Plummer).

Mas mais do que destaques individuais, o que estes personagens e atores conseguem é, acima de tudo, pintar a ideia de um grupo vivo. Relacionamentos são construídos, rivalidades são forjadas. Dinâmicas de liderança e suporte surgem naturalmente, assim como aqueles que querem desafiá-las. Para um filme feito em trilhos, A Longa Marcha brilha principalmente em como essas dinâmicas são pintadas de maneira orgânica. Histórias passam de um para o outro, e, aos poucos, aqueles 50 – que pouco a pouco passam a parecer um mix de amigos de escola e recrutas enviados para o perigo da guerra – começam a diminuir. Uns duram mais, outros menos. A maior parte das mortes, porém, impacta justamente porque cada uma é um ataque ao companheirismo que estamos vendo aparecer. Além, é claro, de serem profundamente violentas.

Paris Filmes

Cooper Hoffman e David Jonsson em A Longa Marcha: Caminhe ou Morra.

E isso é antes de chegarmos aos protagonistas, a maior parte dos quais podemos descrever como finalistas. Deles, não há dúvidas de que Cooper Hoffman e David Jonsson são os melhores. Quando Lawrence não tem uma nova sequência de violência ou intensidade para filmar, ele pode sempre se apoiar nos planos centrados nesses dois. Ray e especialmente Pete são instantaneamente simpáticos, e isso só melhora quando os dois passam a interagir um com o outro. Já excelentes em trabalhos passados, os dois jovens atores reforçam, aqui, sua capacidade de segurar um filme inteiro com seus rostos (e pés), alternando entre o riso vindo da camaradagem, o cuidado proveniente da seriedade e o desespero inerente ao que estão passando num piscar de olhos. Não é exagero dizer que há horas em que A Longa Marcha caminha pelas pernas de Hoffman e Jonsson, e os dois não dão um passo em falso se quer.

Entretanto, é o grande trabalho dos dois, aliado ao ritmo constante do filme, que elevam A Longa Marcha. Seus méritos como analogia ao complexo militar norte-americano e sua longa história de recrutar jovens para o matadouro são mais rasos, e alguns dos movimentos mais políticos da obra mais parecem inserções obrigatórias que visam respeitar o texto do King do que ideias amadurecidas por Mollner ou Lawrence. 

Aqui e ali, há alguma declaração mais gloriosa contra o sistema representado pelo Major, uma figura que Hamill acerta ao interpretar menos como um vilão autoritário e mais como um psicopata de humor sádico, e sobre a ideia de ir contra a Marcha e mudar as coisas. São discursos válidos, mas pouco convincentes. Pinceladas nessas direções funcionam menos do que a identificação de bons personagens. No fim das contas, são eles que nos carregam até a linha de chegada.

Nota do Crítico

A Longa Marcha: Caminhe ou Morra

The Long Walk

2025
108 min
País: EUA
Classificação: 18 anos
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: JT Mollner
Elenco: Ben Wang, Mark Hamill, Garrett Wareing, Joshua Odjick, Tut Nyout, Cooper Hoffman, Judy Greer, David Jonsson, Charlie Plummer