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Entrevista

Seu Jorge: Viver marido abusivo em A Melhor Mãe do Mundo foi "desconfortável"

Omelete conversa com ator e com a diretora Anna Muylaert sobre o novo longa

5 min de leitura
08.08.2025, às 08H00.

Créditos da imagem: Seu Jorge e Shirley Cruz em A Melhor Mãe do Mundo (Reprodução)

Seu Jorge faz questão de agradecer a todas as mulheres envolvidas na produção de A Melhor Mãe do Mundo por ajudarem a construir Leandro, seu personagem violento e abusivo no longa de Anna Muylaert, que já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

"Foi desconfortável mesmo, para todos nós", comenta ele, durante entrevista ao lado de Muylaert para o Omelete. "Então, pô, eu só agradeço a sabedoria dessas mulheres, a paciência, a generosidade - o tempo todo olhos, ouvidos atentos, com os chacras abertos, mas também muito cuidado, muita sutileza. O Leandro é muito diferente, distante de mim, então a melhor opção para mim era ouvir, porque senão eu teria feito caricatura".

A seguir, o ator e a diretora discutem tudo sobre o drama estrelado por Shirley Cruz como Gal, uma catadora de lixo que foge da casa do namorado abusivo com os dois filhos na sua carroça, buscando abrigo na casa de uma parente. Confira o papo!

OMELETE: Olá, gente! Prazer, e parabéns pelo filme.

SEU JORGE: Obrigado.

MUYLAERT: Obrigada!

OMELETE: Queria começar perguntando para a Anna: a maternidade é um tema muito central na sua filmografia. Como é que a Gal, desse A Melhor Mãe do Mundo, se conecta com as outras mães que você já fez? A Val do Que Horas Ela Volta, as personagens da Dani Nefussi no Mãe Só Há Uma…

MUYLAERT: Desde o Durval Discos, né, a gente fez mães ali. Eu acho que essas personagens vão saindo do psicológico, entrando no social - e acho que a Gal é mais política. Ela expõe como a figura da mãe é santificada, é sagrada, mas também é abandonada completamente, em termos sociais e políticos. Não há formação, não há apoio. Cada mãe solteira do mundo está sozinha se virando com o que tem.

SEU JORGE: Sem seguridade social, né? Totalmente.

MUYLAERT: Sim, e eu acho que a Gal é a mais forte das mães dos meus filmes, mas também é a mais vulnerável e a mais política.

OMELETE: Seu Jorge, o Leandro é um personagem que, apesar de não ter o maior tempo de tela, precisa deixar uma impressão muito forte quando aparece. Queria saber: como você trabalhou isso, a intensidade dele, quais são os impactos que você tentou trazer?

Cena de A Melhor Mãe do Mundo (Reprodução)

SEU JORGE: O Leandro é uma pessoa destruída, né? Quebrada por dentro, em vários aspectos. Refletindo sobre ele, eu vi um cara perdido, um cara que se vê abandonado - mas eu não podia julgar esse cara enquanto fazia. Eu tinha que ter uma escuta maior para esse grito das mulheres, né? Mesmo sendo um grito silencioso, ainda é um grito. Esse filme me trouxe a possibilidade de desconstruir ideias, coisas que tinha na minha cabeça. A possibilidade da escuta, de ouvir, perceber a Anna, a Shirley, a Lilis [Soares, diretora de fotografia] - todas essas mulheres que foram extremamente fundamentais no desenho do Leandro, contribuíram no trabalho de mesa [de leitura do roteiro], na discussão, no debate, em definir o papel dele no filme, suas ações, seu comportamento nesta relação. Ele é um cara que está numa relação com uma mulher, mãe de dois filhos, e se vê chefe de uma família da qual ele não é genitor. Ainda tem essa camada. Tinha muitas camadas que eram necessárias para entender sem julgar, criar a sutileza de um homem que está no fio da navalha, né? E é onde o filme também transita.

OMELETE: E eu acho muito interessante que, quando o Leandro aparece, também tem aquelas cenas - não sei nem como definir - sombrias, incômodas…

SEU JORGE: Elas são desconfortáveis.

OMELETE: Perfeito, desconfortáveis, entre ele e a Gal. Eu queria saber como vocês trabalharam isso - você com a Anna, vocês dois com a Shirley, como foi coreografar as idas e voltas dessas cenas?

MUYLAERT: Uma coisa interessante é que a gente fez mesa no dia e foi entendendo que era melhor tirar todas as falas da Shirley naquela cena. Do jeito que a gente fez, as falas do Leandro não têm resposta, o empurrão não vêm. E com isso se criou um domínio total dele sobre ela. Aí eles entraram em cena e solaram ainda, improvisaram, criaram o tempo deles, né? E ficou uma cena robusta!

SEU JORGE: E foi desconfortável mesmo, para todos nós. Então tudo precisou ser feito com muito amor, muito cuidado com o outro, muito espaço e tempo. A gente estava fazendo uma cena no banheiro, onde nem cabia a câmera direito, não cabe a diretora de fotografia, tem que tomar cuidado para não molhar o equipamento. E, no meio de tudo isso, o ator tem que ter potência e preenchimento. Então, pô, eu só agradeço a sabedoria dessas mulheres, a paciência, a generosidade - o tempo todo olhos, ouvidos atentos, com os chacras abertos, mas também muito cuidado, muita sutileza. O Leandro é diferente, distante de mim, e a gente acaba... a melhor opção para mim era ouvir, porque senão eu teria feito uma caricatura, levando uma mensagem completamente fora do que era preciso ali.

OMELETE: Anna, uma coisa que eu também observei no filme é que ele explora lugares de São Paulo que fogem do lugar-comum, do cinema cartão-postal. Eu moro em São Paulo há cinco anos já, e não vejo esses lugares na tela. Como você abordou isso, como foram as escolhas dos lugares e dos cenários?

MUYLAERT: Então, no roteiro a Gal já tinha um trajeto, que partia do Glicério [bairro central de SP], porque a cooperativa de reciclagem é lá, e ia até algum lugar no Corinthians [Itaquera, na Zona Leste]. Esse trajeto que passava pelo centro, pelo Brás, deitava um filme que fosse meio  um road movie, dava para a gente os lugares que iríamos filmar. E ele mostra uma São Paulo que realmente eu nunca vi no cinema. Nada ali é turístico - mesmo que tenha o Anhangabaú ali, o prédio do Banespa no fundo, é uma cidade bem diferente.

OMELETE: Muito obrigado, gente! E boa sorte com o lançamento do filme.

MUYLAERT: Obrigada!

SEU JORGE: Muito obrigado.