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A Desconhecida

Novo filme de Giuseppe Tornatore está mais para Uma Simples Formalidade do que Cinema Paradiso

20.12.2007, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H31

Quem associa o nome do diretor Giuseppe Tornatore a Cinema Paradiso pode se assustar com A Desconhecida (La Sconosciuta, 2006). O suspense policial está muito mais próximo do filme de 1994 do italiano, Uma Simples Formalidade, do que do conhecido drama de 1988.

giuseppe tornatore

Em comum, ambos dividem a tensão constante. A Desconhecida começa a mil, num acúmulo vertiginoso de informações. A ucraniana Irena (Kseniya Rappoport) se instala na cidade italiana de Velarchi e logo procura emprego e moradia. Em tom conspiratório, ela vigia as pessoas na vizinhança e mantém um passo atrás com quem se aproxima. Rapidamente, torna-se empregada e babá no prédio ao lado do seu.

Tornatore começa comprimindo semanas de história em pouco mais de 20 minutos (de um total de duas horas de metragem). A partir daí, começamos a descobrir o que levou Irena a lutar tanto para se tornar empregada no apartamento do outro lado da rua. E as revelações não deixam de surpreender - a certa altura, misturam denúncia social com desejo de vingança, obsessão insana com tragédia familar.

É uma inversão curiosa - e certamente perigosa - essa que Tornatore impõe no compasso do filme. Na introdução, quando tradicionalmente somos apresentados às situações e aos personagens com calma, o cineasta aperta o passo e sobe o volume da música. A exposição é despejada sobre nós. Já do meio para o fim, quando normalmente o clímax se impõe, Tornatore começa a explicar o filme, e mais pausadamente, com flashbacks longos que não são só os relampejos do início.

Não dá pra dizer que o cineasta não sabe o que está fazendo. A inversão visa prender o espectador no início e conquistá-lo no fim com o drama (e não com o suspense). Mas é uma inversão perigosa porque Tornatore pode afastar o público logo de cara. Com dez minutos de filme eu estava quase tapando os ouvidos para tentar manter alguma informação visual que me era arremessada.

Mas não se condene A Desconhecida por tentar. Tudo o que foge à regra é essencialmente perigoso (e bem-vindo), e assumir esse risco é uma das graças de ser narrador.