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The Man Who Killed Don Quixote | Em Cannes, Terry Gilliam ri dos 25 anos de produção do filme

"O roteiro ficou melhor com o tempo", diz o cineasta que encerra o festival com a releitura pop da obra de Cervantes

19.05.2018, às 10H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Esbanjando alegria e vitalidade aos 77 anos, apesar das adversidades enfrentadas nas últimas três décadas para tirar The Man Who Killed Don Quixote do papel, Terry Gilliam fez troça de seu próprio calvário ao falar sobre o filme em Cannes. Cabe a ele ser a atração de encerramento do festival francês esta noite. Passaram-se 25 anos desde o início do projeto, que estreia neste sábado no circuito de salas de exibição França. Mas por pouco o projeto não foi embargado por uma ação judicial de um de seus produtores, o português Paulo Branco, que acabou derrotado na corte francesa.

Alacran Pictures/Divulgação

"O roteiro ficou melhor com o tempo. Como não filmar uma história dessas e não falar de um ícone da fantasia como Quixote e seu parcerio Sancho Pança?", disse o diretor ao Omelete. "Neste momento em que a gente perde tanto tempo com filmes de super-heróis, é bom olhar para a realidade e ver como existe gente interessante, como Quixote, que vive sem superpoderes".

Definido por alguns como "um equívoco sem um pingo de graça" e por outros como uma obra-prima, The Man Who Killed Don Quixote é uma releitura livre, e pop, do texto publicado em 1605 por Miguel de Cervantes (1547-1616) com uma direção de arte magistral. Elogiou-se muito a atuação de Adam Driver como um Sancho Pança dos novos tempos.

"A melhor maneira de encarar um papel desses é não se preparar e se deixar descobrir a verdade de seu roteiro", disse Driver em Cannes. "Ah... e ao contrário do que Terry disse, ter superpoder é legal".

Parceiro de Gilliam em Brazil, O Filme (1985), Jonathan Pryce esbanja romantismo como Javier, sapateiro de uma vila espanhola que, anos atrás, viveu Quixote no filme de conclusão de curso de Toby (Driver, em brilhante atuação). No momento em que volta à Espanha, a fim de rodar um comercial, Toby se vê impelido a voltar às raízes. Por isso decide encontrar Javier, que, tomado pelo contato com as artes, passou a crer que é o próprio Cavaleiro da Triste Figura. Javier pensa que é Quixote e vê em Toby seu Sancho ideal, arrastando o garoto para lutar contra os gigantes do mundo de hoje.

"Eu não faria nunca uma sequência deste longa, pois a historia de Cervantes está inteira neste filme que fiz, sem nada a acrescentar. Mas se tivesse que voltar a esse mundo, teria uma Dueña Quixota e não um homem", disse Gilliam. "Cervantes nos deu uma bem-humorada releitura moral da sociedade e eu tentei ser leal a ele".

Cannes termina esta noite, com a entrega da Palma de Ouro, dada por um júri chefiado pela atriz australiana Cate Blanchett. A diretora libanesa Nadine Labaki, indicada por Capharnaüm, e o americano Spike Lee, no páreo com BlackKklansman, são os favoritos.