Mais esperado dos filmes latino-americanos escalados para o Festival de Cannes, em sua 70ª edição, e já encarado como um potencial concorrente do continente ao Oscar em 2018, La Cordillera, de Santiago Mitre, estreia na Croisette nesta quarta (24), tendo o argentino Ricardo Darín no comando de um conclave de presidentes. Para dar vida aos líderes políticos da América Latina, o cineasta (premiado aqui em 2015 por Paulina) chamou a nata de atores hispânicos, como os chilenos Paulina García (de Glória) e Alfredo Castro (de O Clube), a argentina Dolores Fonzi (de Truman) e o espanhol radicado em solo mexicano Daniel Giménez Cacho (de Má Educação), além do americano Christian Slater (Mr. Robot). Para representar o Brasil, Mitre resolveu chamar um ator que é referência nas artes cênicas, tendo feito mais de 50 peças além de ser um dos sócios do Teatro Solar de Botafogo, no Rio: Leonardo Franco. Seu rosto viajou o mundo graças ao seriado Preamar, da HBO, do qual era o protagonista.
“Você passa 30 anos fazendo teatro e um dia, sem esperar, o telefone toca... e vem um convite para contracenar com Darín”, disse Franco ao Omelete, explicando que vive em La Cordillera o presidente Moreira. “Ele é o ponta de lança no comando da assembleia que movimenta a trama”.
Referência mundial no cinema político desde que despontou para o estrelato com O Estudante (2011), Mitre narra em La Cordillera um conclave presidencial das Américas cuja discussão central envolve a exploração de petróleo. E no meio do debate, Blanco (Darín), o presidente argentino, vai encarar problemas pessoais e o assédio político de um emissário dos EUA vivido por Slater. Respeitado nos palcos por seu desempenho na premiada montagem de Traição (2008), de Harold Pinter, Franco diz que o Brasil será o alvo de uma virada de mesa nas negociações do filme.
“É Moreira quem junta a todos para fundar uma exploradora de petróleo multinacional, mas todos vão se posicionando contra os interesses dele”, diz Franco, que integra o elenco da esperada superprodução nacional Polícia Federal – A Lei é Para Todos, sobre corrupção no país. “Mitre me chamou depois de ver Preamar, que foi um sucesso nos outros países latinos e me deu a chance de viver uma grande aventura”.
Não houve projeções para a imprensa de filmes em concurso na noite desta segunda, pois o Palais des Festivals foi usado para uma homenagem ao diretor francês André Téchiné (de As Testemunhas), pelo conjunto de sua obra. O tributo incluiu a exibição do novo longa do cineasta: Anos Loucos, sobre um soldado que se veste de mulher para escapar do front. À tarde, entretanto, foi exibido, em concurso, o melhor trabalho de atriz do festival em sua mostra principal: The Day After, do coreano Hong Sangsoo (de Hahaha), estrelado por Kim Min-hee. Ela foi premiada com o Urso de Prata em Berlim, em fevereiro, por sua atuação em On The Beach At Night Alone, e pode repetir o efeito na Croisette por esta poética reflexão sobre os enganos nossos do dia a dia, rodada num preto e branco requintado. Na trama, ela é a jovem funcionária de uma editora que é confundida com a amante de seu chefe.
Só houve uma interpretação feminina mais elogiada do que a dela, mas está na mostra paralela Un Certain Regard: o trabalho da romana Jasmine Trinca em Fortunata, um drama de tintas cômicas dirigido pelo ator Sergio Castellitto. O enredo segue as peripécias de uma cabeleireira para driblar a pobreza, criar sua filha, fugir do ex violento e realizar seu sonho. Entre os homens, o trabalho mais comentado é o do francês Louis Garrel como o jovem cineasta Jean-Luc Godard em Le Redutable.
Cannes chega ao fim neste sábado (27) e os favoritos à Palma de Ouro até agora são 120 Batimentos Por Minuto, de Robin Campillo; Happy End, de Michael Haneke; e The Square, de Ruben Ostlünd.