The Walking Dead | Dilemas morais e retorno de personagem são destaques do 2º episódio
Produtores apostaram em trazer de volta um rosto sumido desde o primeiro ano
A guerra de Rick (Andrew Lincoln) contra Negan (Jeffrey Dean Morgan) continua caminhando a passos agitados, ainda que não tão rápidos quanto a chuva de tiros faz parecer, em The Walking Dead. Em "The Damned", segundo episódio da oitava temporada, o grupo de Alexandria deu um novo passo no confronto indo atrás do arsenal de armas do inimigo. Em meio a conflitos éticos sobre matar ou não os inimigos vindo de todas as partes, o episódio surpreendeu nos minutos finais por trazer de volta um personagem guardado na manga de Robert Kirkman desde a primeira temporada.
É possível que muita gente não tenha reconhecido de primeira o homem que termina o episódio apontando uma arma para a cabeça de Rick, mas ele é um rosto veterano na série. Agora aliado ao grupo de Negan, o homem em questão é Morales (Juan G. Pareja), um dos integrantes do grupo de Atlanta na primeira temporada. Na época, Morales, sua esposa e os dois filhos pequenos do casal decidem se separar do grupo de Rick, indo em direção a Birmingham, ao passo que os demais vão atrás do Centro de Controle de Doenças em Atlanta. Ninguém nunca mais soube se ele estava vivo ou morto - convenhamos que ninguém nunca ligou muito para isso já que o personagem teve uma participação praticamente irrelevante -, mas foi uma escolha interessante amarrar anos depois uma das mais antigas pontas soltas.
O confronto moral entre Jesus (Tom Payne) e Tara (Alanna Masterson) - que, verdade seja dita, não acrescentou absolutamente nada à trama - não tem lado certo: os dois estão errados por serem extremos de uma mesma linha de raciocínio. Tara não tem clemência do inimigo por razões emocionais demais, pela sua busca de vingança, ao passo que Jesus impede que os antagonistas do grupo sejam mortos por não querer desafiar as convicções pessoais. Tara claramente não é alguém capacitada para ficar na linha de frente de uma guerra por não estar em suas melhores condições psicológicas, mas surreal mesmo é ver que a essa altura do campeonato Jesus quase tenha morrido por usar protocolos morais de uma realidade que, ainda que estejam em busca de resgatá-la, não está em vigor no momento.
Não foi só Jesus e Tara que tiveram problemas em manter a balança dos dilemas morais equilibrada: o próprio Rick sofreu com isso em "The Damned", titubeando brevemente ao esbarrar no berço de um bebê chamado Grace e observando fotos de seus inimigos de guerra. O episódio anterior foi um prelúdio de que, para Rick, vencer Negan não é só questão de sobrevivência, mas também é a possibilidade de resgatar a civilidade perdida pela população após o apocalipse zumbi. O problema é entender que, na situação atual, às vezes a razão precisa se sobrepor à emoção - Rick não pode deixar seus sentimentos comprometerem sua missão tão facilmente.
Sobre o núcleo do Reino, "The Damned" foi um atestado de que Ezekiel (Khary Payton) é um péssimo líder. Ainda que nada tenha acontecido especificamente ao grupo sob sua responsabilidade, o posicionamento dele é muito complicado por se basear na manutenção da ilusão motivacional de que está tudo bem - faz sentido não demonstrar a perda de controle para não afetar o aproveitamento do seus soldados, mas é burrice não ser minimamente realista. É contraditório que uma pessoa centrada e calculista como Carol (Melissa McBride) seja seduzida pela overdose de positivismo de Ezekiel, ao invés exigir que ele mantenha os pés no chão e pense racionalmente sobre os riscos do que faz. O discurso romântico para seu pequeno exército de ir ao combate mesmo sob condições adversas não é corajoso, é suicida.
No fim das contas, o episódio inteiro girou mais ao redor de confrontos éticos do que na guerra em si. Depois de tantas críticas quanto à velocidade da sétima temporada, dá para ver que os produtores adotaram novas estratégias no novo ano. Cria-se a falsa impressão de que muita coisa está acontecendo: há muito tiro, muita tensão voltada para coisas pequenas, mas a trama em si avança homeopaticamente. Isso ratifica a inabilidade dos responsáveis por The Walking Dead de conferir dinamismo à história em temporadas de 16 episódios, mas, pelo lado positivo, pelo menos o espectador não morre de tédio. No meio de tanto close cafona no rosto dos personagens e de toneladas de munição desperdiçada, "The Damned" foi importante especialmente por, além do retorno de Morales, colocar em dúvida a fidelidade de Dwight (Austin Amelio). O episódio terminou sem que Rick encontrasse as armas - pode ser que venha uma reviravolta positiva para Negan no próximo capítulo.
"Monster", terceiro episódio da oitava temporada, vai ao ar em 5 de novembro. The Walking Dead é transmitido no Brasil aos domingos pelo canal pago Fox, às 23h30.