Cena da temporada 11 de The Walking Dead

Créditos da imagem: Divulgação

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The Walking Dead perde fôlego na 2ª parte de ano final, mas segue promissora

Com ares de Expresso do Amanhã, essa é a leva mais fraca da excelente fase que a série passa nos últimos anos

Omelete
5 min de leitura
11.04.2022, às 15H31.
Atualizada em 11.04.2022, ÀS 15H57

Em tempos normais, as temporadas de The Walking Dead eram divididas em apenas duas partes. Isso mudou com a chegada da pandemia, que rendeu capítulos extras para o décimo ano, e uma temporada final ainda maior, com 24 episódios em três partes. Assim, a série permanece na televisão por mais alguns meses, e agora chega em seu segundo - e último - hiato antes do fim.

A temporada final, que começou lá em agosto de 2021, teve uma primeira parte bastante forte, marcada pela dinâmica intensa entre Maggie (Lauren Cohan) e Negan (Jeffrey Dean Morgan), e também pelo maior protagonismo de Daryl (Norman Reedus), em uma posição quase de agente duplo. A segunda metade se distancia das figuras fortes do programa para estabelecer uma das peças fundamentais para a conclusão: a Commonwealth (ou o Império), a comunidade-cidade de mais de 50 mil sobreviventes. No processo, se perde um pouco do impacto.

A forma que The Walking Dead entra em sua segunda metade é bastante brusca. O nono capítulo retoma a briga contra os Reapers, após Daryl ser acusado de assassinar Pope (Ritchie Coster), o líder. A intensa batalha é explosiva - literalmente, com zumbis destroçados como balões cheios de sangue. É até curioso ver a série se divertindo com ação bem feita, apenas alguns anos após os vergonhosos tiroteios entre o grupo de Rick Grimes (Andrew Lincoln) e o de Negan.

É só o conflito chegar ao fim que o seriado não perde tempo em apresentar um salto temporal de seis meses, com Alexandria espalhada entre alguns poucos sobreviventes nas ruínas da antiga comunidade, e vários outros seduzidos pela promessa do velho mundo oferecida pela Commonwealth. Em uma cena, é até sugerido que Maggie e Daryl estarão em lados diferentes do conflito. Isso nunca chega a se concretizar, claro.

Expresso do Apocalipse

O santo desconfia quando a esmola é muito alta, e os protagonistas - assim como os espectadores - nunca realmente compram a promessa da comunidade gigantesca. Isso tira o fôlego dessa metade da temporada, que se dedica a um tom de conspiração sem antes estabelecer uma relação de confiança para ser desvirtuada. Isso vale até para a primeira parte. Naquele primeiro contato do grupo de Eugene (Josh McDermitt), a cidade já foi apresentada como uma distopia com gostinho de fascismo. Escancarar o óbvio aos poucos é uma mudança de tom tão brusca quanto morna.

O que complica a segunda metade é a falta de um bom vilão. Ainda que seja a governadora da Commonwealth e uma das figuras centrais da fase final das HQs, Pamela Milton (Laila Robins) é apagada dentro de sua própria comunidade, com poucas aparições e sem nenhuma presença nos raros momentos que tem para brilhar. Até seu filho, o mimado Sebastian Milton (Teo Rapp-Olsson), representa melhor a excentricidade da elite da cidade, mas também nunca se envolve em nada maior do que picuinhas bobas com Daryl e Rosita (Christian Serratos).

O mais próximo que a temporada chega de ter um antagonista é Lance Hornsby (Josh Hamilton), uma das figuras mais midiáticas da cidade que acaba simbolizando bem o problema com toda a abordagem de conspiração. Sua imagem de vendedor de carro, ou então de advogado de porta de cadeia, passa desconfiança imediata. Quando ele começa a agir de forma duvidosa ou anti-ética, a série trata como uma revelação - sendo que, aos olhos do público, era só questão de tempo.

Por si só, a Commonwealth abre oportunidades interessantes para o universo de The Walking Dead, e permite que os sobreviventes revisitem muitos dos conceitos do mundo antigo (vulgo a nossa realidade atual) através de outros olhos, apenas para descobrir como muita coisa já não fazia sentido antes do apocalipse. 

É uma abordagem nobre, mas que não se encaixa bem na fórmula da série, pelo menos não sem migrar para uma estrutura mais próxima de algo como Expresso do Amanhã. O Governador, Negan, Alpha e até mesmo Pope demonstram que o formato do seriado brilha quando há um vilão carismático. Conflito de classes é intrigante, mas um pouco complicado de encaixar nesse molde.

A Saideira

A segunda metade da temporada final de The Walking Dead talvez seja a mais fraca desde que Angela Kang assumiu o posto de showrunner e deu vida nova ao seriado, logo após a saída de Rick Grimes e a introdução dos Sussurradores. Mesmo assim, a série cambaleia, mas nunca cai no mesmo poço fundo dos enfadonhos conflitos contra Negan durante os anos sete e oito. Há atenção especial às jornadas individuais de cada personagem, para garantir que o tédio generalizado nunca mais assuma as rédeas do programa.

Apesar da trama menos impactante, a desconfiança dos protagonistas e o foco em garantir a sobrevivência durante um momento de dificuldade garante que a série sempre continue em movimento - desacelerar um pouco sim, mas nunca parar por completo como já ocorreu no passado. 

Desde a nona temporada, o seriado segue praticamente sem gordura: sem perder tempo com núcleos irrelevantes ou com drama barato. Os personagens têm boas motivações, e os conflitos surgem a partir de impasses ou falhas de comunicação, e não mais para preencher as lacunas entre grandes eventos das HQs.

É o fato de que Daryl, Eugene, Maggie, Rosita, Aaron e muitos outros foram melhores desenvolvidos ao longo dos últimos anos que dá ânimo para a conclusão de The Walking Dead mesmo após uma segunda metade um pouco mais morna. A parte final deve se dedicar ao conflito e a revolução dentro da Commonwealth, mas é preciso que a trama não se deixe levar pela noção de um final grandioso e vazio, e sim que seja motivado por um desfecho satisfatório para as vidas dessas pessoas.

Há muitas questões a serem respondidas nessa reta final. Como fica a rivalidade entre Maggie e Negan? Veremos o retorno de Rick Grimes? E no que dará as conexões com as derivadas, como a aparição da República Civil Militar (CRM), que aparentemente tem uma comunidade do mesmo porte que a Commonwealth? Frequentemente a série principal parece isolada do próprio universo em que está inserida, e resta saber se a leva final de episódios pretende firmar essas conexões, ou se ficará focada em amarrar suas próprias pontas soltas.

Seja como for,  deu a volta por cima e mantém um bom padrão de qualidade, mesmo levando em conta alguns ocasionais tropeços. Dessa forma, a série tem nas mãos a oportunidade de entregar uma conclusão digna de seu legado na televisão.

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