Quando Fear The Walking Dead encerrou sua quarta temporada, tomou uma decisão que fez jus à reputação de sua série-mãe: chocar com finais sangrentos e seguir seu caminho investindo em novos personagens. Essa não é uma estratégia que sempre funciona, e, de fato, o derivado chegou até seu sétimo ano amargando problemas de ritmo que chegaram até o limite do suportável. Era como se houvesse ocorrido uma transfiguração total, impedindo o público de manter qualquer relação de familiaridade com a produção. Era possível um futuro sem Madison?
Talvez tenha sido por isso que Kim Dickens tenha vindo “salvar” o que ainda restava daquela história. No último episódio da sétima temporada (quando Madison finalmente retorna), os produtores estavam assumindo um compromisso com os fãs: o de entregar uma última temporada que tivesse cara de Fear The Walking Dead.
Na entrevista concedida antes da greve dos atores e atrizes, Kim falou conosco sobre como foi esse convite para retornar à série: “Soube que ia voltar no meio da pandemia, acho que em 2020. Os produtores me mandaram uma mensagem perguntando se eu poderia fazer uma ligação de Zoom com eles. A gente continuou em contato durante os anos, mas mesmo assim eu fiquei muito curiosa. Eu não saí da série com nenhum tipo de ressentimento, então acabou sendo uma conversa tranquila. Achei que eles iam me pedir para fazer um flashback ou coisa assim... Eles me contaram como seria e eu fiquei maravilhada. Tudo foi feito com tanto segredo que eu não contei nem para o meu agente, para os meus amigos...”.
Durante mais de um ano, Kim precisou fazer segredo do que os roteiristas haviam planejado para Madison. Mas, segundo ela, a satisfação dos fãs era garantida: “Eu já sabia tudo que aconteceria com ela antes de aceitar esse retorno. Eles me contaram tudo. E eu fiquei feliz com o que eles planejaram; para todos os personagens, aliás. Foi um círculo completo. Não dava para chegar até o fim da linha desconsiderando tudo que aconteceu antes; e eles quiseram ter certeza de que não fariam isso. Há muito o que se redescobrir sobre o passado. Eu não posso dizer como tudo acaba, mas eu sinto que será satisfatório para os fãs”.
Quem acompanhou como aconteceu o retorno de Madison sabe que a personagem chegou à série depois de anos de ausência; e que assim que ela reaparece, mais sete anos se passam até a história recomeçar a andar. A quantidade de elipses pode ser complicada para a reconstrução de um personagem, mas segundo Kim, ela já está familiarizada com as mudanças: “Eu conversei bastante com os roteiristas sobre esse retorno e sobre todas essas ausências. Eu sinto que antes, quando eu estava na série, todo ano alguma coisa ainda era diferente. Dessa vez também foi assim... Madison estava mais obscura do que jamais foi”.
Essa obscuridade vem da manobra ousada dos roteiros, que colocaram a personagem exercendo uma função que soou – para a maioria dos fãs – bastante estranha. Madison começou a série, lá no passado, como uma mulher decidida a salvar sua família (e especialmente seus filhos) de qualquer maneira. Quando ela retorna para essa temporada final, traz consigo uma missão indigesta, que Kim classificou como “justificável”: “Foi chocante para mim, sim, que aquela pessoa que se movia em prol da família o tempo todo estivesse agora indo contra toda sua moral, tirando crianças de outras pessoas. Eu sei que pode ser difícil entender, mas eles explicam o que aconteceu, como ela foi levada até esse ponto. É justificável. De certa forma, ela ainda está buscando proteção e redenção. Será que ela consegue sair desse lugar obscuro? Será que ela consegue restabelecer para si uma família? Há muitas questões”. Questões essas que ganharam mais expectativas depois de tantas insinuações de mais reencontros na metade final da temporada.
A volta para Fear The Walking Dead também representa para Kim um retorno ao seio de um dos fandoms mais ardorosos do mundo das séries. A atriz já esteve em séries como Sons of Anarchy, Lost, Friday Night Lights, Deadwood, só para citar algumas. Mas, segundo ela, há uma razão para que os fãs de Fear The Walking Dead fiquem no topo da lista de abordagens: “Eu estava em Toronto, em um festival de cinema, divulgando um filme chamado The Good Nurse e chegou aquela hora de sair com a galera do elenco. Um colega me fez essa mesma pergunta: que série costuma te fazer ser mais abordada? E eu falei: ah, eu acho que é com Fear ou com Deadwood... E então a gente saiu do lugar e do lado de fora tinha um monte de fãs de Fear. Virei pra ele e falei: aí está sua resposta. Todas essas séries onde eu estive são séries de nichos específicos e Fear The Walking Dead alcança mais pessoas ao redor do mundo”.
É claro, então, que na hora de encerrarmos a entrevista, Kim falou sobre o Brasil e prometeu (para aqueles que ainda não começaram) uma última temporada com tudo que uma última temporada precisa ter: “Eu tenho amigos no Brasil; já não é de hoje que eu quero visitar o país. Os fãs do Brasil são incríveis e vocês podem esperar uma temporada cheia de coisas muito duras, mas também cheia de redenção e de emoção”.
A segunda e derradeira leva de episódios estreia no próximo dia 22 de outubro, e vocês poderão conferir se Kim acertou em suas previsões sobre como esse fim será recebido por todos nós. Será que depois de tantos anos lidando com as perdas que a série nos lançou, há esperança no fim do túnel? Surpresas aguardam... Nos vemos lá na frente, quando essa resposta finalmente vier.