Tony Todd em Premonição: Laços de Sangue (Reprodução)

Créditos da imagem: Tony Todd em Premonição: Laços de Sangue (Reprodução)

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Premonição 6 finalmente abraça a filosofia da franquia - com ajuda de Tony Todd

Despedida do ator parece ter alinhado com um filme que trata a morte com mais sobriedade

Omelete
5 min de leitura
16.05.2025, às 06H30.

Os anos 2000 não estavam preparados para Premonição. A franquia de terror chegou aos cinemas - e, mais importantemente, às locadoras - servindo ao mesmo público adolescente que queria se mostrar adulto e “descolado” alugando a cópia local de algum dos Faces da Morte. Se você é dessa época, talvez se lembre do título: falamos daquela franquia que começou nos anos 1970, mostrando “cenas reais” de acidentes e mortes sangrentas, mas que ganhou status de cult com as sequências direto-para-vídeo que se seguiram e atingiram em cheio um par de gerações de jovens facilmente impressionáveis que assombravam os corredores as lojas de vídeo em qualquer cidadezinha do Brasil e do mundo.

Nesse contexto, é claro que Premonição virou terror-pipoca, sujeito de inúmeras festas do pijama entre turmas de amigos do ensino fundamental e médio - um meme das antigas, espalhado no boca-a-boca, fundado mais na criatividade e fator gore de cada morte incluída nos filmes, e menos no que elas representavam como história. E, como acontece sempre em Hollywood, as sequências capitalizaram em cima dessa popularidade rasa até o ponto da exaustão, quando o meme se tornou frágil demais para justificar até o investimento baixo de um caça-níqueis de estúdio. Não que Premonição 5 (2011) tenha sido um fracasso de bilheteria, mas difícil argumentar que o filme tenha tido a relevância cultural dos antecessores. Se a franquia ia voltar, enfim, era preciso fazer algo a mais.

E sim, eu sei, lá vem o chato analisar demais. Em minha defesa, não estou dizendo que Premonição precisa ser algo muito além de terror pop com apelo adolescente, com sangue de CGI adicionado a cenas cujo prazer confortável é muito similar ao que sentimos assistindo um daqueles vídeos de efeito dominó insanamente populares nas redes sociais. Mas Premonição, até pelo peso acumulado de seus 25 anos no inconsciente coletivo, pode ser tudo isso sem abrir mão de ter também algo de discursivo - e Laços de Sangue, o sexto filme da saga, é a evidência perfeita de que eu estou certo.

O momento para mergulhar mais fundo na filosofia de Premonição não poderia ser mais perfeito. Este sexto filme é o primeiro da franquia em 14 anos, chega em uma era no qual Hollywood está obcecada pelo conceito da legacy sequel - uma forma espertinha de lucrar em cima da nostalgia do público e renovar o interesse em uma história -, e aporta nos cinemas em um ambiente cultural que (não por acaso, nesse mundo pós-pandêmico) parece encarar a morte como parte mais natural das nossas narrativas. Se em 2000 alugávamos Faces da Morte, hoje em dia os jovens fãs de cinema perseguem status nos Letterboxd da vida vendo e revendo Hereditário e outros terrores que são "sobre trauma”.

Cena de Premonição: Laços de Sangue (Reprodução)
Cena de Premonição: Laços de Sangue (Reprodução)

Premonição: Laços de Sangue marca esse outro contexto logo na premissa que move o roteiro de Guy Busick e Lori Evans Taylor, ambos estreantes na franquia. Aqui, ao invés de um grupo de jovens sortido - algo entre amigos, colegas e desconhecidos - que são salvos de um acidente pela premonição de um deles, temos uma família na mira da morte. A universitária Stefani (Kaitlyn Santa Juana) é o centro dessa dinâmica, que inclui uma mãe ausente (Rya Kihlstedt), um irmão mais novo (Teo Briones) que ressente a protagonista por ter deixado a cidadezinha onde ambos cresceram para trás, e mais alguns segredos de família genuinamente chocantes.

O núcleo de personagens central de Laços de Sangue, enfim, é um embolado nervoso de mágoas e birras inflamadas pelo tempo. Mas há também uma afeição muito mais sólida entre essas pessoas, e muito mais explorada pelo filme em si, do que as ligações entre os protagonistas de capítulos anteriores da saga. Se, nos cinco predecessores, víamos um bando de adolescentes correndo pela própria vida, com uma atitude cada vez mais egoísta conforme o perigo se tornava mais claro, em Laços de Sangue vemos uma união maior entre os personagens para tentar derrotar a Morte - e também sentimos de forma mais concreta o pesar que vai se espalhando pela família conforme eles vão falhando.

Não deixa de ser curioso e um pouco trágico, num espírito que parece até refletir o ethos de Premonição, que Laços de Sangue tenha se tornado também um dos últimos filmes de Tony Todd. O ator, que faleceu em novembro do ano passado em decorrência de um câncer no estômago, é parte integral da franquia desde o primeiro filme, lá em 2000, como o misterioso William Bludworth. Aparecendo em doses homeopáticas a cada capítulo da saga, ele é um médico legista que dá conselhos enigmáticos para os protagonistas da vez - a teoria que correu entre os fãs de Premonição por décadas, graças ao vasto conhecimento do personagem sobre as regras do jogo, era que Bludworth simbolizava uma personificação da própria Morte.

Cena de Premonição: Laços de Sangue (Reprodução)
Cena de Premonição: Laços de Sangue (Reprodução)

Laços de Sangue revela que não é bem por aí, mas essa é a parte que menos importa na aparição de Bludworth no filme. Reprisando o segundo papel mais icônico de sua filmografia (não aceitaremos o rebaixamento de Candyman por aqui, ok?!), um Todd claramente emaciado pela doença agarra com unhas e dentes a oportunidade de falar sobre morte sem muitos rodeios. A cena final de Bludworth, um recado entregue pelo ator quase diretamente para a câmera, se destaca dentro do roteiro de Busick e Taylor pelo tom inteiramente diferente - se um dia tivermos a confirmação de que o próprio Todd escreveu ou improvisou este momento do filme, não seria nenhuma surpresa.

É uma despedida sincera e sábia, que num lance de sorte do destino rima belamente com o todo de Laços de Sangue, um filme que faz Premonição encarar a verdade subterrânea que sempre foi combustível para o seu sucesso: todos estamos na lista da Morte, e é impossível sair dela. O filme parece ser o primeiro da franquia a entender que há algo de amargo, também, no sorrisinho de escárnio que surge no rosto do espectador enquanto ele acompanha a liquidação de mais um grupo de personagens que se esforça para sobreviver. Um dia seremos nós, como foi Stefani, como foi Tony Todd. Dos dois lados da tela, só nos resta fazer filmes sobre.

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