Diego Luna como Cassian Andor

Créditos da imagem: Andor/Lucasfilm/Reprodução

Séries e TV

Artigo

Mais madura e pé no chão, Andor apresenta uma visão particular para Star Wars

Ainda que seja um derivado, nova série do Disney+ se sustenta em si mesma para narrar jornada de Cassian Andor antes de qualquer lampejo de heroísmo

Omelete
4 min de leitura
21.09.2022, às 07H00.

É no mínimo surpreendente que uma série como Andor, literalmente um derivado de outro derivado, se apresente como uma obra tão particular e autossuficiente dentro da franquia Star Wars. Ao contrário das suas antecessoras, os três primeiros episódios do seriado, lançados nesta quarta-feira (21) no Disney+, não apenas se esquivam de quaisquer lastros da saga Skywalker, sem demonstrar muita reverência ou apreço por easter eggs, como se permitem olhar com maturidade para a jornada que levou Cassian Andor (Diego Luna) a se tornar um herói da Rebelião. Para isso, a série dá um choque de realidade necessário na galáxia muito, muito distante que, mais do que abrir mão do caráter fantástico que vem com a Força e os Jedi, implica em construir do zero, diante dos olhos do espectador, a bravura e a determinação que o tornaram uma figura querida em Rogue One.

Cinco anos antes de conhecer Jyn (Felicity Jones) e se sacrificar no roubo dos esquemas da Estrela da Morte, Cassian não tem qualquer intenção de derrubar o Império. Embora já despreze, sim, o regime autoritário e a arrogância dos seus adeptos, seu foco está quase que única e exclusivamente na sua sobrevivência. Endividado até o último fio de cabelo, ele tem a sorte de contar com a compreensão e a paciência de alguns amigos que fez pelo caminho, como a carismática Bix (Adria Arjona) e o leal droid Bê (Dave Chapman), enquanto tenta conseguir algum tostão através de seus planos ousados. Paralelamente, porém, ele tenta, em segredo, encontrar alguma pista do paradeiro da sua irmã, de quem foi separado em um evento traumático na sua infância.

Andor intercala o desenrolar dos dramas presentes da vida do herói com flashbacks deste período obscuro da sua vida — e vale notar que o obscuro aqui não se deve só pelas suas memórias dolorosas, mas também porque, se vierem a público, ele será perseguido e executado. Essa estrutura narrativa dá uma cadência mais lenta para a série, que não tem pressa alguma de revelar as peças do quebra-cabeça do passado de Cassian. A morosidade, embora se sobressaia em contraste com os eventos mais recentes, é bem aproveitada para apresentar as especificidades da comunidade de onde ele veio, mais rudimentar e ligada à natureza do que suas jaquetas deixam transparecer. Esses são detalhes, porém bastante essenciais para uma obra como Andor, que faz questão de deixar aparente seu teor político. Até porque se Cassian é um imigrante em um regime despótico, isso pressupõe falar, direta ou indiretamente, de preconceitos, marginalização e perseguições.

É evidente, portanto, que a narrativa está envolta ora por ansiedade, ora por medo, e não há Baby Yoda ou qualquer equivalente de fofura para amenizar tais sentimentos. Quer dizer, Andor tem uma boa dose de humor com Bê, que oferece um respiro nos intervalos das ações, mas, mesmo assim, com um quê mais irônico do que a bobeira tradicional de Star Wars. No fundo, o novo seriado da franquia opera através da tensão: política com o Império e seus aliados; provocativa nas relações mais íntimas do herói; e sexual com Bix, tudo em função de uma só história, sem desvios.

Essa dinâmica permite que os espectadores criem laços com os personagens, e se importem com toda a jornada, mesmo que seu final já esteja dado. Além da volta de Diego Luna como um Cassian mais malandro, o que por si só deve despertar reações fervorosas de fãs e haters de Rogue One, todos ali entregam performances cativantes, sobretudo Fiona Shaw com a matriarca durona e de grande coração Maarva.

A vida clandestina apresentada em Andor, com saídas após o toque de recolher, comércios paralelos e encobrimentos, se revelou uma grata surpresa após tantas tentativas recentes da franquia de se reerguer não com um olhar original, mas na base da pura e simples nostalgia. Isso não quer dizer, porém, que a série é incrível. Ela tem suas inconsistências, como os finais anticlimáticos dos primeiros dois episódios e o por vezes cansativo vai-e-vem das linhas temporais. De todo modo, é um começo sólido e promissor para um seriado que mal estreou e já tem uma segunda temporada garantida.

Andor é exibida às quartas no Disney+. Antes do próximo episódio, confira a nossa entrevista com o ator Diego Luna:

O Omelete agora tem um canal no Telegram! Participe para receber e debater as principais notícias da cultura pop (t.me/omelete).

Acompanhe a gente também no YouTube: no Omeleteve, com os principais assuntos da cultura pop; Hyperdrive, para as notícias mais quentes do universo geek; e Bentô Omelete, nosso canal de animes, mangás e cultura otaku.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.