Ahsoka

Créditos da imagem: Lucasfilm/Divulgação

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Dave Filoni reforça sua idolatria por George Lucas em estreia de Ahsoka

Cineasta leva sua principal criação no cânone de Star Wars a um novo patamar em série do Disney+

Omelete
5 min de leitura
23.08.2023, às 10H56.
Atualizada em 29.08.2023, ÀS 13H52

Vendo o alcance que Dave Filoni e Ahsoka Tano têm dentro de Star Wars hoje em dia, é difícil imaginar que ambos foram mal recebidos quando o longa animado original de Star Wars: A Guerra dos Clones chegou aos cinemas em 2008. Piloto para a eventual série de sucesso, o filme era espirituoso demais comparado à então recém-lançada Trilogia Prelúdio e a aprendiz de Anakin representava uma grande quebra de cânone inesperada que, como costuma acontecer em grandes franquias, irritou muitos fãs — isso e sua construção pirracenta inicial. Ao longo dos anos seguintes, no entanto, criador e criatura foram conquistando um lugar especial no coração do público, em um arco de redenção que os transformou em verdadeiros ídolos da saga. Após trabalhar em bastante proximidade com George Lucas para desenvolver o que eventualmente se tornaria uma das séries mais elogiadas da franquia e sua sequência espiritual, Star Wars Rebels, o cineasta usa a estreia Ahsoka como uma prova de tudo o que aprendeu com seu antigo mestre.

Mais do que qualquer outro cineasta que tenha se aventurado na franquia, Filoni é o que melhor entende o espírito de Star Wars. Cria do antigo Universo Expandido, o cineasta sabe quais lacunas da mitologia devem ser preenchidas e quais devem ser deixadas para a imaginação dos fãs (percepção claramente não compartilhada por executivos da Disney) e, em Ahsoka, não é diferente. Assim como ao longo dos seis filmes originais, a série introduz eventos nunca mostrados que atiçam o espectador por contexto, mas que não distraem das tramas principais. Seguindo seu mestre, o padawan de Lucas lembra que o desconhecido e a curiosidade fazem parte do apelo da franquia e que cada nova pergunta apresentada pela série apenas a torna mais suculenta. Como e por que Ahsoka (Rosario Dawson) e Sabine (Natasha Liu Burdizzo) deixaram de treinar juntas? Skoll (Ray Stevenson) e Hati são realmente Sith? Como Huyang (David Tennant) se juntou a essa família Jedi disfuncional? Em pouco mais de cinco minutos de episódio, o diretor cria todas essas perguntas sem indicar com clareza se pretende ou não respondê-las nas próximas semanas.

Além de trazer essa curiosidade de volta a Star Wars, Ahsoka tem também algumas referências mais literais ao restante da saga. O primeiro episódio, especificamente, recria momentos e tomadas de Episódio I — A Ameaça Fantasma, não necessariamente por nostalgia, mas por apreço ao que veio antes — ou como diria Lucas, uma “rima”. Assim como fez em Rebels, Filoni usa esses momentos como forma de lembrar que, apesar de não contar com personagens ou continuar tramas da Trilogia Original, a série ainda está inserida no universo fantástico unido pela Força.

Mesmo repetindo Lucas aqui e ali, Filoni sempre deixa claro que Ahsoka é sua criação. Os dois primeiros episódios, roteirizados pelo cineasta, têm os diálogos ágeis, embora às vezes cartunescos, que por anos definiram A Guerra dos Clones e Rebels e uma construção cuidadosa de seus personagens. Sem se censurar, o cineasta tira da caixa todos os brinquedos que ajudou a criar desde 2008 e transforma a nova série em uma sequência natural para suas elogiadas animações.

Dirigido por Steph Green, o segundo capítulo deixa a reverência a Lucas de lado para voltar o foco à relação central de Ahsoka. Embora a personagem título e Sabine passem praticamente todo o episódio separadas, seu passado ainda misterioso juntas as afeta de forma evidente e cada decisão que uma toma impacta e é impactada pela reação da outra, em uma dinâmica simbiótica que deve ser o grande norte da série nas próximas semanas. Menos “óbvia” que Obi-Wan e Anakin ou Anakin e Ahsoka, a combinação de Ahsoka e Sabine parece, ao menos neste primeiro momento, uma base sólida para construir a sequência de Rebels sem torná-la uma mera repetição de outras histórias de mestres e aprendizes do universo Star Wars.

Por ter criado e escrito praticamente toda a história da maioria dos personagens em tela, Filoni sabe até onde é possível dobrá-los sem anular seu desenvolvimento passado. Apesar de terem personalidades mais sóbrias em relação às versões da animação, Ahsoka e Hera (Mary Elizabeth Winstead) seguem extremamente reconhecíveis em cada tirada seca ou discussão sobre o futuro de Sabine, que, mesmo desiludida, ainda mantém o espírito, bem, rebelde que fez dela uma favorita do público. Ao contrário de O Livro de Boba Fett e da terceira temporada de The Mandalorian, esse começo de Ahsoka tem um tom mais autoral e com a assinatura de seu criador e parece ter nascido mais do desejo de Filoni de continuar suas histórias do que mais uma ordenha desnecessária de uma propriedade intelectual lucrativa.

De certo modo, Ahsoka é Star Wars à moda antiga, em que a dinâmica entre os personagens é tão ou mais importante que a mitologia que os cercam. Assim como a franquia fazia em seus anos pré-Disney, a minissérie estreia não como uma sacramentação de um cânone absoluto, mas como um convite para que fãs de todas as idades recuperem o fascínio pelo desconhecido e se sintam à vontade para expandir essa galáxia. A questão que fica agora é quanto tempo esse convite continuará de pé até a Casa do Mickey substituí-lo por uma nova decepção saída da linha de produção algorítmica do estúdio.

Ahsoka é exibida às terças, no Disney+. A seguir, conheça a origem da personagem nesse OmeleTV:

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