Como a maquiagem e o cabelo ajudam a contar histórias no cinema
Conversamos como Peter King, maquiador de filmes como O Senhor dos Anéis e Star Wars e, mais recentemente, Alice Através do Espelho
Falar de Alice no País das Maravilhas já remete a uma grande presença visual, com muitas cores, muita personalidade e é exatamente isso o que temos nas versões em live action da Disney, com o primeiro filme de 2010 e a continuação Alice Através do Espelho, que estreou em maio deste ano e chega às lojas este mês em DVD e Blu-ray.
Para atender a essa “demanda criativa”, o departamento de cabelos e maquiagem trabalha junto com o diretor, como explica Peter King ao Omelete, responsável por essa área no último longa baseado nos personagens de Lewis Carroll: “Quando começamos o design dos personagens, eu leio o roteiro, para saber do que se trata, e então converso com o diretor sobre os personagens. Neste momento, não falamos sobre como eles se parecem, e sim sobre o que os personagens estão tentando mostrar”.
King teve sua primeira experiência na área em 1982, com O Contrato do Amor (de Peter Greenaway), e desde então desenvolveu uma sensibilidade fundamental ao trabalho: “Sempre que colocamos a maquiagem em algum personagem, estamos tentando mostrar alguma coisa, tentamos ajudar o curso da história. O filme não é sobre a maquiagem, mas ela é importante”.
Outra detalhe que King não deixa passar é levar em consideração a opinião dos atores que vão usar tanto a maquiagem, quanto o cabelo. “Eu falo com o ator e mostro tudo a ele. E podem haver mudanças, como a questão das perucas. Começamos então os testes de maquiagem, colocando as ideias em prática. Somente neste momento você começa a ver o que vai funcionar. Algumas ideias são ótimas, mas não funcionam quando você coloca na pessoa, e então é preciso repensar tudo, porque aquilo está passando a impressão, a ideia errada sobre o personagem. E há também a questão do ator, ele precisa se sentir confortável em como está a aparência dele, para ir até a frente das câmeras e interpretar o personagem”.
No caso de Alice Através do Espelho, o cabelo e a maquiagem também tiveram o propósito de marcar as mudanças do Tempo, que virou um personagem interpretado por Sacha Baron Cohen. Alguns personagens, como o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp), são vistos em momentos diferentes e essas pequenas mudanças no visual são primordiais para que o público entenda isso: “Com essa questão de voltar no tempo, tivemos que reproduzir alguns visuais do primeiro filme. No final, quando Alice cura o Chapeleiro e todos percebem o que estava acontecendo, ele pode voltar ao que conhecemos. Ele está em um ponto em que seu cabelo está quase cinza, e então a cor começa a voltar. É difícil de explicar, eu leio o roteiro e esses visuais começam a surgir. Isso é grande parte do trabalho: ler o roteiro e decidir como será a aparência das pessoas e as mudanças”.
Atualmente, praticamente todos os departamentos de um filme contam com o auxílio da tecnologia, incluindo também a parte de maquiagem e cabelos. King acompanhou as mudanças em sua forma de trabalhar, mas vê tudo isso de forma positiva: “Hoje fazemos próteses e coisas assim, com materiais que se aproximam muito de como é a pele, incluindo a reprodução dos músculos e etc. Lembro que há alguns anos tínhamos materiais que eram muito mais difíceis de parecerem reais. É incrível as inovações que as pessoas conseguem fazer hoje. Há também a questão das câmeras, que possuem uma definição absurda e isso torna meu trabalho mais desafiador. Enfim, essas mudanças aconteceram em todos os departamentos, mas é uma coisa boa. É fantástico você ter a certeza de que está fazendo o melhor possível”.
Pela Terra-Média e outras galáxias
Antes de chegar ao País das Maravilhas, Peter King teve uma das maiores experiências de sua carreira ao trabalhar na trilogia de O Senhor dos Anéis e, posteriormente, em O Hobbit. Sua dedicação em criar a maquiagem e o cabelo dos habitantes da Terra-Média foi tão grande que lhe rendeu um Oscar em 2004, por O Retorno do Rei.
“Era como uma família. Especialmente retornando para fazer O Hobbit, já que todo mundo de O Senhor dos Anéis estava lá, foi como encontrar velhos amigos. É uma grande família e precisa ser desse jeito. Quando um filme demora tanto assim para ser feito - acho que foram dois anos em O Senhor dos Anéis e três em O Hobbit - você precisa se divertir. Foi um trabalho difícil, levou muito tempo para ser feito e é emocionante quando termina também. Você fica tanto tempo com essas pessoas e, de repente, tudo isso acaba”.
Entre seus projetos ainda inéditos, King assina o visual de Star Wars: Episódio VIII e Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar. Ele não dá muitos detalhes, mas não esconde a empolgação e diz que podemos esperar coisas grandiosas de uma galáxia muito distante: “Star Wars VIII terminou há alguns meses, e foi absolutamente fantástico, muito bom mesmo. Sempre fui um grande fã da saga e trabalhei com um time incrível de pessoas. Não podemos falar muito sobre isso, mas fizemos coisas extraordinárias nesse filme. Já em Piratas do Caribe, foi incrível filmar na Austrália e em Gold Coast. É muito legal quando você viaja ao redor do mundo fazendo essa coisas. Sou fã de Piratas e temos muitos visuais de época nesse filme, que eu adorei fazer. Em resumo, tudo foi incrível”.