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Por que Hollywood é obcecada por histórias de origem?

Os dois lados dos prelúdios

09.10.2015, às 12H53.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

Quando não é mais possível seguir em frente, é preciso olhar para trás”. Ou é pelo menos o que Hollywood tenta nos ensinar, justificando seus prelúdios como um olhar imprescindível sobre temas e personagens já conhecidos do grande público.

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É o caso do recente Peter Pan (Pan, 2015), que se propõe a contar o “início da lenda”. Com inúmeras adaptações para o cinema, incluindo Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991), que já mostrava uma visão diferente sobre os personagens criados por J. M. Barrie, a Warner Bros. encontrou no roteiro de Jason Fuchs a oportunidade para começar uma franquia mostrando a origem do garoto que não envelhece. Nas mãos do diretor Joe Wright, porém, a procedência de Peter Pan acaba sobrando, com todo um universo de personagens e objetos mais interessantes do que o protagonista. Um filme que poderia ser melhor aproveitado se não batesse tantas vezes na tecla da formação de um personagem que já nasceu completo pelas mãos de Barrie - leia a nossa crítica do filme.

Foi assim, pronto, que também nasceu Star Wars. A ideia original de George Lucas era lançar imediatamente o público a esse universo desconhecido, sem grandes explicações. Assim, logo nos primeiros instantes de Uma Nova Esperança, surgem na tela uma misteriosa mulher de branco, dois robôs e um impiedoso vilão de armadura negra. O estranhamento leva o espectador a seguir em frente, intrigado com cada informação daquele novo mundo. Aí vieram os prelúdios no início dos anos 2000 e uma galáxia feita em computação gráfica serviu para explicar detalhadamente o que não precisava ser esclarecido.

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Se por um lado a LucasFilm aprendeu com seus erros, resolvendo seguir em frente com a saga dos Skywalker em O Despertar da Força, a necessidade da Disney em fazer valer seu investimento na franquia pode resultar em novas ciladas, com os prometidos filmes derivados sobre os primeiros anos de Han Solo e Cia. É uma lição que nunca é completamente compreendida. Mesmo que esse novo Peter Pan não atenda às expectativas do estúdio nas bilheterias, existindo apenas em um único filme, Hollywood continuará a usar a fonte das “histórias nunca contadas”. Foi assim que Drácula ganhou um longa de origem para mostrar o seu lado pai de família - leia a crítica.

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É uma mistura de ganância - aproveitar o que já foi comprovado como lucrativo -  e falta de imaginação - a necessidade de preencher oficialmente as lacunas deixadas por grandes histórias. Mas há casos em que a fórmula funciona. Foi um prelúdio que fez a franquia do Homem-Morcego renascer no cinema, iniciando a trilogia de Chirstopher Nolan. Na TV, Gotham segue explorando na TV um universo pré-Batman.

Os X-Men também foram beneficiados pela receita. Depois de uma tentativa de renovar a franquia com filmes solos de origem, começando por Wolverine (que apesar de tudo não foi mal nas bilheterias, arrecadando mais de US$ 373 milhões mundialmente), a Fox investiu em X-Men: Primeira Classe, usando um novo elenco para narrar a gênese do grupo de mutantes. Foram US$ 353 milhões arrecadados mundialmente, superando apenas a bilheteria do filme de estreia, em 2000. O suficiente para renovar o interesse do público e criar terreno para X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, que reuniu os dois elencos no filme de maior arrecadação dos mutantes no cinema (US$ 748 milhões no mundo todo).

Ao invés de renovar, porém, os prelúdios podem tirar o brilho de franquias já bem estabelecidas. Aconteceu com Star Wars e com O Senhor dos Anéis. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012) conseguiu ser fiel ao espírito de aventura do livro de Tolkien, mas a necessidade de reproduzir o tom épico da trilogia O Senhor dos Anéis nos filmes seguintes - A Desolação de Smaug (2013) e A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) - transformou a segunda  trilogia em uma adaptação de pouca substância. A maior parte do público, porém, não se importou, feliz em passar mais algumas horas na Terra-Média: cada filme da trilogia O Hobbit passou dos US$ 950 milhões em bilheteria mundial, com o primeiro chegando na casa do bilhão.

Há quem acredite, contudo, que algumas histórias não precisam ser contadas. Ficar intrigado por uma origem não explicada pode ser inspirador, estendendo a vida do filme para além das suas duas horas na tela. E você? Gosta dos prelúdios? Acha que a fórmula é mais do que uma exploração hollywoodiana?

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