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Star Trek: The Next Generation – 30 Anos | Como Patrick Stewart se tornou o segundo grande capitão da franquia

Gene Roddenberry era contra a escalação

26.09.2017, às 14H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Em um de seus monólogos no teatro, Patrick Stewart apresentou trechos dos personagens mais marcantes de sua carreira. Estavam lá, Shylock, Oberon, Henrique IV e outros, simbolizando anos de trabalho nos palcos, em especial na respeitada Royal Shakespeare Company, onde atuou ao lado de Ben Kingsley e Helen Mirren. Mas era o último personagem que fazia o teatro vir abaixo. Proibido de usar o figurino do personagem, Stewart limitava-se a segurar a barra do suéter e “acertar” a roupa. Não era preciso dizer nada. O gesto era típico de Jean-Luc Picard, Capitão da Enterprise em Star Trek: A Nova Geração. E o aplauso, um trabalho de conquista de um público que, esperando um novo Kirk, ganhou um personagem muito diferente. Graças ao seriado, o ator ganhour o econhecimento que o público não dá a carreiras teatrais, mesmo as mais brilhantes, e degrau para outra franquia, a dos filmes da Marvel como Professor Charles Xavier.

Voltar à TV com Star Trek nunca esteve longe da mente do criador da série, Gene Roddenberry, caminho desviado para o cinema pelo sucesso de Star Wars. O anúncio da nova produção chegou a ser planejado para a festa de comemoração de vinte anos de Star Trek, mas alguma pessoa de bom senso chegou à conclusão de que o elenco original, que estaria presente, não se sentiria exatamente feliz por saber que em breve não seria a única tripulação da Enterprise. Outro descontente foi o próprio Roddenberry, que rejeitou a ideia da icônica tripulação ser substituída por um grupo de cadetes.

Mas não seria uma premissa rejeitada que impediria a Paramount de seguir em frente com o projeto de uma nova Star Trek na TV enquanto a tripulação original seguia com suas aventuras no cinema. O mesmo, aliás, que acontece agora, com a nova série Discovery em streaming enquanto a franquia segue com Chris Pine como Kirk no cinema. Assim como agora, nos anos 80 o racional era de que se tudo desse certo, o estúdio teria uma marca gerando lucro em duas mídias. Se a série afundasse na TV, os longas no cinema manteriam o nome Star Trek gerando bilheteria. Assim, em dez de outubro de 1986, Mel Harris, presidente da Paramount Television anunciou oficialmente a produção de uma nova série. Além de Roddenberry como produtor-executivo, a equipe no comando tinha três nomes saídos direto da série original, Edward K. Milkis, Robert H. Justman e David Gerrold.

Autor do livro The World of Star Trek, Gerrold apontou em sua análise uma incongruência na série original: um capitão, fosse de uma nave ou de um porta-aviões, jamais se colocaria em perigo arriscando deixar a tripulação acéfala em um momento de crise. Sem ter uma nova série em mente quando fez sua análise, Gerrold acabou definindo o formato de comando e a escalação do novo capitão. Na nova ponte, o trabalho de campo ficaria com um primeiro oficial, enquanto o capitão seria alguém experiente, promovido após longo crescimento pessoal e profissional. Figura-chave na série original, Justman seria responsável por encontrar o ator ideal de forma tipicamente hollywoodiana. Em outras palavras, fora dos testes e por influência do destino. Em outubro de 1986, Justman, a esposa e o filho foram a um curso sobre humor na Universidade da Califórnia. O convidado responsável por fazer leituras de comédias de Shakespeare e Noël Coward era Patrick Stewart, ator britânico com décadas de experiência nos palcos e alguns papeis no cinema, entre eles Leondengrance em Excalibur e Gurney Halleck em Duna.

A apresentação deixou Justman convencido de ter encontrado o homem para interpretar o capitão da nova série, mas Roddenberry detestou o candidato. A queda de braço continuou com Justman, a diretora de elenco Junie Lowry e o produtor Rick Berman defendendo a escalação, enquanto Roddenberry mantinha sua ideia de um francês viril e com uma bela cabeleira, chegando ao ponto de perguntar à sua assistente se as mulheres se sentiriam atraídas pelo ator britânico. E usou a resposta dela de que Stewart não era sexy como mais um motivo para recusar o ator. Só poucas semanas antes do início das filmagens do piloto a maré mudou e Roddenberry despachou Stewart para aprovação dos executivos da Paramount.

Havia dúvidas quanto o sucesso de Star Trek: A Nova Geração quando a série estreou em 26 de setembro de 1987, mas na tela ninguém questionava que Picard era o capitão. Dono de um talento incontestável, postura e voz cheias de autoridade, Stewart imbuiu o personagem da aura de confiabilidade e liderança capaz de levar uma tripulação ao máximo de seu desempenho. Fora da tela, a história era outra. Nos Estados Unidos, o Los Angeles Times relatou que o personagem era interpretado por um “desconhecido ator shakespeariano britânico”. Na Inglaterra a posição foi resumida anos depois por uma frase publicada no Evening Standard dizendo que Stewart havia sido a coluna vertebral da Royal Shakespeare Company antes de trocar o teatro clássico para “voar pela TV num traje espacial absurdo”.

A situação a princípio não preocupava Stewart, que só assinou o contrato após consultar alguns conhecidos que lhe garantiram que A Nova Geração não faria sucesso. O fracasso o livraria de ficar seis anos preso a um só personagem e ele ainda sairia do projeto com algum dinheiro e um bronzeado californiano. O cenário era tal que Stewart trabalhou durante toda a primeira temporada, que incluiu uma greve de roteiristas, a demissão de Gates Mcfadden, intérprete da Dra. Crusher, e a saída de Denise Crosby, a tenente Tasha Yar, preparado para voltar à Inglaterra. Mas, passada a tormenta, Stewart entusiasmou-se pelo trabalho e pelo legado de Star Trek, atribuindo ao papel o máximo de complexidade possível em uma produção em ritmo industrial. Concluindo ainda que o trabalho numa série de longa duração era similar ao de uma companhia teatral, Stewart assumiu a liderança do elenco e da equipe técnica, tornando-se o porta-voz de todos perante o estúdio.

Sete temporadas depois, quando Star Trek: A Nova Geração encerrou sua passagem pela TV e seguiu para o cinema, a história de como alguém teve de ser convencido da escalação de Patrick Stewart soava absurda. A série que a indústria apostava que daria errado provou ser possível criar novas fases de programas icônicos. Não houve dúvidas quanto a quem deveria interpretar Xavier em X-Men e em sua volta ao teatro britânico, Patrick Stewart recebeu elogios retumbantes por trabalhos como Hamlet ao lado de David Tennant, e foi considerado o melhor Macbeth já visto pelos mesmos críticos que o condenaram quando se rendeu à TV americana. Onde, ao contrário do que a assistente de Roddenberry achava, também ganhou o status de sex symbol.

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