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Zé do Caixão | Da Frigideira

Matheus Nachtergaele traz gravidade teatral à minissérie que conta a carreira de José Mojica Marins

03.11.2015, às 16H55.

José Mojica Marins sempre foi uma figura à parte do nosso cinema, embora sua carreira e seus filmes sigam a mesma mistura de improviso e acaso que marcou toda a história do Cinema Marginal, já tão cercada de folclore. A julgar pelos dois primeiros episódios de Zé do Caixão, produção do canal Space sobre Mojica, essa característica se preserva na TV: o ator Matheus Nachtergaele também é uma figura à parte dentro da minissérie.

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Apoiado por um trabalho impressionante de imitação, no gestual e na voz, Nachtergaele chega com sua entrega teatral para interpretar Mojica na minissérie, baseada na biografia Maldito - A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, de André Barcinski e Ivan Finotti. O que faz de Nachtergaele uma presença estranha é que essa gana de criar um Mojica maior que a vida, complexo e cheio de gravidade, não encontra ressonância no resto da série, de dramaturgia rala e que prioriza causos e curiosidades dos filmes do cineasta.

A própria estrutura de Zé do Caixão tende a favorecer o lado folclórico, já que cada episódio enfoca a produção (e principalmente as dificuldades de produção) de um longa de Mojica. Nos dois primeiros, vemos como o diretor do faroeste A Sina do Aventureiro (1958) se reinventou anos depois com aquele que se tornaria seu maior personagem, em À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1963), primeiro filme da série estrelada pelo coveiro. O que a minissérie oferece é um verdadeiro Zé do Caixão Begins, detalhando as circunstâncias em que germinou o conceito do personagem, da capa preta tirada do candomblé à cartola ganha por Mojica anos antes.

A permissividade do Cinema Marginal e seu cruzamento com a pornochanchada estão presentes, na minissérie, no trato com a mulher e em cenas de nudez (feitas com close-ups e panorâmicas que só a TV por assinatura permite), e é aí que Zé do Caixão pode problematizar a figura de Mojica - e justificar a interpretação carregada de Nachtergaele. A partir do momento, no primeiro episódio, em que ele diz para sua secretária que mulher só se legitima quando gera filhos, a minissérie estabelece um vínculo entre Mojica e Zé do Caixão (vilão que procura uma mulher perfeita que carregue sua cria) que é indissociável. Vale acompanhar para ver se Zé do Caixão é capaz de ir além do anedotário setentista e dar conta desse conflito complicado entre criador e criatura.

Zé do Caixão estreia no Space no dia 13 de novembro - apropriadamente, uma Sexta-Feira 13.

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