Cena de Yellowjackets, 3ª temporada (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Yellowjackets, 3ª temporada (Reprodução)

Séries e TV

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Yellowjackets volta provando que ainda consegue prender e surpreender

Na 3ª temporada, série do Paramount+ mostra que sabe conduzir seus personagens

Omelete
4 min de leitura
14.02.2025, às 05H00.

Por quanto tempo você consegue sustentar um mistério, antes do mesmo público que fisgou com ele se voltar contra você? A história da televisão estadunidense não tem falta de exemplos em que essa chave virou muito antes da série acabar (Arquivo X e Lost que o digam), mas o início da terceira temporada mostra que Yellowjackets talvez tenha o jogo de cintura necessário para escapar da armadilha. Parte do segredo está na linearidade da narrativa - aqui, não saber os detalhes das histórias das garotas na floresta é simplesmente uma questão de tempo, uma vez que a série se comprometeu a nos contar as experiências delas de forma bem direta, sem pulos temporais ou arroubos estilísticos.

Essa linearidade dá espaço para a equipe de roteiristas liderada por Ashley Lyle e Bart Nickerson traçar paralelos entre passado e presente sem frustrar o espectador: nada em Yellowjackets parece truque sujo, distração ou pisada no freio. As duas histórias que formam a série vão se desenrolando conforme precisam, e as conexões entre elas servem não só como brincadeira de gênero (a série nunca foi tão Supercine quanto nas reviravoltas e revelações desta temporada), mas também como aprofundamento de personagem. É como se a produção do Paramount+ fosse um grande arco de revelação, ao invés de um jogo de espera - quanto mais a névoa em torno do passado das personagens vai se levantando, mais as entendemos, e por consequência o universo retórico da série.

O terceiro ano começa apenas alguns dias depois dos eventos do segundo, em ambas as timelines. No passado, as Yellowjackets se reorganizam em torno de um acampamento na floresta após o incêndio na cabana: a nova líder Natalie (Sophie Thatcher) se vê obrigada a mediar um conflito entre a traumatizada Shauna (Sophie Nélisse) e a atrevida Mari (Alexa Barajas); o pobre Travis (Kevin Alves) é assediado por Lottie (Courtney Eaton) quando ela acredita ter desvendado uma conexão dele com a selva; e a luta de Ben (Steven Krueger) para sobreviver sozinho é ajudada por uma reviravolta surpreendente. 

Já no presente, as sobreviventes se reúnem para o funeral de Nat, mas cada uma delas tem suas próprias preocupações: a Shauna adulta (Melanie Lynskey) precisa lidar com Lottie (Simone Kassell) pedindo abrigo em sua casa, o que não deve ajudar na relação estremecida com a filha Callie (Sarah Desjardins), e ainda se preocupar com uma possível nova stalker; enquanto isso, Misty (Christina Ricci) entra em conflito com o namorado Walter (Elijah Wood) durante seu processo de luto por Nat; e Taissa (Tawny Cypress) tenta ser a melhor companheira possível para Van (Lauren Ambrose) após descobrir que ela sofre de câncer terminal.

Os episódios “It Girl” (3x01) e “Dislocation” (3x02) equilibram essas seis (!) subtramas com eloquência - nenhuma delas passa mais tempo na tela do que deveria. Com uma notável exceção, sempre que Yellowjackets escolhe gastar tempo em uma tangente, ela se prova um pedaço valioso do quebra-cabeças proposto pela série, e/ou das marés do destino que governam a vida dessas personagens. Qual a diferença entre as duas coisas, de qualquer forma? Lyle e Nickerson construíram, aqui, um tipo de história de mistério que parece perfeito para a TV: aquele em que descobrir a verdade é sobre descobrir quem são essas pessoas. E, uma vez que as duas coisas estão atreladas dessa forma, assistir à série se torna um prazer duplo.

Tecnicamente, também, Yellowjackets se mostra consistente nesse retorno. Em sua estreia na direção com o primeiro episódio da temporada, o showrunner Nickerson exibe domínio deste universo ao fazer escolhas um pouco mais ousadas com a câmera e a montagem - confortável atrás das câmeras de sua própria criação, ele faz de “It Girl” uma hora de televisão cheia de transições surpreendentes, e um senso de movimento promissor. O elenco, enquanto isso, continua sua dança virtuosa ao redor dos holofotes, com Christina Ricci se destacando desta vez ao entrelaçar com cuidado a personalidade neurótica de sua Misty com as garras afiadas do luto, que de um jeito curioso a fazem questionar muito de seu posicionamento no mundo.

A perspectiva de Yellowjackets ainda guardar cartas na manga sobre ela (e Shauna, e Taissa, e todos aqueles às suas voltas) é excitante. Pelo menos por enquanto, a fadiga ainda não ganhou o jogo contra uma das melhores séries da atualidade.

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