Tawny Cypress e Lauren Ambrose em Yellowjackets (Reprodução)

Créditos da imagem: Tawny Cypress e Lauren Ambrose em Yellowjackets (Reprodução)

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Yellowjackets faz drama de tribunal e aproveita para falar da natureza da culpa

4º episódio da nova temporada está cheio de menções ao karma - e não é por acaso

Omelete
3 min de leitura
28.02.2025, às 05H00.

Yellowjackets não é o tipo de série que você espera que faça um episódio de tribunal - de fato, não é como se a produção do Paramount+ tenha se mostrado muito dada a explorar subgêneros e formatos diferentes em sua trajetória até aqui. O pique de Yellowjackets, na verdade, sempre foi encontrar seu ritmo (por mais peculiar que ele seja) e se manter nele para conquistar a fidelidade do público… mas isso muda definitivamente em “12 Angry Girls and 1 Drunk Travis” (3x04), que se dedica quase integralmente ao julgamento do treinador Ben (Steven Krueger) na floresta, recapturado por suas ex-pupilas e acusado de colocar fogo na cabana que elas chamavam de lar até o fim da segunda temporada.

A série, é claro, implica fortemente que Ben é inocente - mas isso não importa para Shauna (Sophie Nélisse) e algumas de suas colegas, decididas a encontrar um bode expiatório pela perda do único abrigo que conheceram na floresta. Aí o roteiro de Julia Bicknell e Terry Wesley, ambos produtores de longa data da série, encontra a sua tensão, mas também o seu bom humor: como já ficou claro, as Yellowjackets se agarraram a rituais e mitologia para manter um fiapo que seja de sanidade na selva, o que significa que elas montam toda a estrutura de um julgamento bem ali, no meio do acampamento. Nat (Sophie Thatcher) veste um robe uma coroa de ossos como juiza, enquanto Tai (Jasmin Savoy Brown) e Misty (Sammi Hanratty) viram promotora e advogada de defesa.

O que se segue é uma tentativa, por vezes deliciosamente capenga, e por vezes extraordinariamente dramática, de simular um clímax de Law & Order. Objeções são levantadas (mas às vezes em momentos equivocados), formalidades são observadas (até o momento em que a coroa de ossos começa a coçar demais), interrogações são feitas (embora a juiza não seja muito fluente no linguajar judicial), e o destino de um homem está em jogo. A culpa de Ben está “acima de qualquer suspeita”? Ele é “inocente até que se prove o contrário”? O quanto as regras se aplicam ali, na floresta, e o quanto tudo isso é apenas um teatro para afirmar ou usurpar o poder, confortar ou confrontar as ambiguidades da culpa e da justiça?

Bicknell e Wesley, que não são bobos nem nada, estendem essas reflexões também para as cenas que se passam no presente. Daí que Jeff (Warren Kole) fica obcecado pelo conceito de karma, e praticamente arrasta Shauna (Melanie Lynskey) para um dia de voluntariado no mesmo asilo em que Misty (Christina Ricci) trabalha, sem saber que as duas ex-colegas de time tiveram uma briga. Enquanto isso, Tai (Tawny Cypress) e Van (Lauren Ambrose) testam a ideia de deixar “a Selva” escolher outro sacrifício para que o câncer desta última melhore. E, por fim, Lottie (Simone Kessell) ensaia um pedido de desculpas misterioso na frente do espelho: “Eu tenho muito pelo quê me desculpar. Eu entendo que te machuquei.

Por trás das câmeras, a diretora Jennifer Morrison (ela mesma, que atuou em House e Once Upon a Time) trabalha duro para traçar o paralelo temático entre passado e presente - Yellowjackets nunca teve tantos cortes entre as contrapartes jovens e adultas de suas personagens. Como resultado, o fio que liga essas histórias fica até mais claro do que o normal: eis aqui, é claro, um episódio sobre culpa. Sobre quem carrega culpa, quem consegue entender que a carrega, quem prefere fugir dela, quem tem a coragem de assumi-la mesmo nas circunstâncias mais complicadas, e o que podemos ou estamos dispostos a fazer para aliviá-la dentro de nós.

É atestado da excelência de Yellowjackets que, ao se jogar finalmente em uma experimentação de gênero diversa, a série tenha retirado dela o seu texto mais puro e mais oportuno.

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