Yellowjackets reavalia relações e mistérios em 3º episódio mais convencional
Apesar de sequência de delírio, novo capítulo é a série voltando ao seu território
Créditos da imagem: Christina Ricci em Yellowjackets (Reprodução)
O que significa normal para Yellowjackets? Empoleirada em sua reputação - construída a duras penas! - de série “fora da caixinha”, em que os fãs podem esperar pelo menos um momento chocante por episódio, a criação de Ashley Lyle e Bart Nickerson encontra um ritmo familiar no episódio “Them’s the Brakes” (3x03)... mesmo que esse ritmo só possa ser considerado “convencional” em uma série como ela. Após uma estreia dupla desenhada para pisar no acelerador e manter o público interessado, esse terceiro capítulo tira prazer, por exemplo, de um retorno para o humor irônico (a rotina suburbana em contraste com as circunstâncias extraordinárias dos personagens) que é parte importante do charme de Yellowjackets.
É nesse pique que acompanhamos Misty (Christina Ricci, ainda o destaque claro da temporada) e Shauna (Melanie Lynskey) em uma rápida excursão diurna que leva a primeira a reavaliar sua amizade não só com ela, mas com todas as outras sobreviventes. A energia hiperativa da personagem de Ricci sempre foi uma ferramenta poderosa no arcabouço de Yellowjackets quando se trata de expor o absurdo do seu contraste entre comédia doméstica e suspense de canibalismo. Inserir uma persona que a própria melhor amiga descreve, não equivocadamente, como “uma psicopata verificada” no contexto de uma vida que continua incluindo tarefas triviais como comprar uma cesta de frutas adequada para pedir desculpas aos clientes do seu marido é, infalivelmente, uma mina de ouro para a sátira.
“Them’s The Brakes”, na realidade, está cheio desses momentos. Lottie (Simone Kessell, muito melhor quando não precisa ficar fingindo gravidade como líder de culto) e Callie (Sarah Desjardins) fazendo compras no shopping, como se há pouco tempo uma delas não tivesse tentado matar a mãe da outra; Ben (Steven Krueger) e Mari (Alexa Barajas) compartilhando histórias traumáticas da infância, esquecendo por um instante o seu status de sequestrador e sequestrada; Tai (Tawny Cypress) e Van (Lauren Ambrose) assistindo a VHS’s antigos, pouco depois de especulares que “a Floresta” matou um pobre garçom a fim de fazer com que Van sobrevivesse ao câncer… São cenas que resgatam Yellowjackets como uma história sobre a vida que segue apesar de tudo de inimaginável e absurdo que a cerca.
Nós, humanos, somos capazes de nos acostumar com tudo. Cada momento que nos obriga a repensar quem são nossos mais próximos, onde estão os limites do nosso aceitável e da nossa realidade, é só mais uma curva num caminho cheio delas. Estreando na direção e assinando o roteiro de seu terceiro episódio da série, o também produtor Jonathan Lisco (Animal Kingdom, Halt and Catch Fire) mostra que entende intimamente a mecânica dessa história, e dessas personagens cuja lista de afazeres começa com “descobrir quem é meu novo stalker”, segue adiante com “decidir quem vai ser o próximo do grupo a ser canibalizado” e termina com “limpar a gaiola do meu papagaio de estimação”.
De fato, o normal de Yellowjackets é diferente do nosso… a bizarra sequência de delírio no fim de “Them’s The Brakes”, que culmina na aparição misteriosa de uma das figuras mais emblemáticas do lado “sobrenatural” da trama, que o diga. Mas é importante, até para a longevidade da série, que essa diferença nunca se torne o bastante para nos impedir de entender exatamente o que cada um desses personagens está sentindo - e o episódio de hoje serve, justamente, para garantir esse equilíbrio.