Evan Rachel Wood em Westworld

Créditos da imagem: Westworld/HBO/Reprodução

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Westworld | Entenda o final da 4ª temporada

“Que Será, Será” oferece última esperança para que Dolores não repita “os finais violentos” de sempre

Omelete
5 min de leitura
15.08.2022, às 18H46.
Atualizada em 16.08.2022, ÀS 11H37

[Atenção: artigo contém spoilers da 4ª temporada de Westworld]

A quarta temporada de Westworld colocou a série de volta nos trilhos na base da repetição — sutil e com algumas reformulações, mas ainda assim uma repetição. Se no cenário macro a dominação de Charlotte/Holores (Tessa Thompson) se provou nada mais que um espelho do que a Delos fez com seus parques, mas com uma nova espécie dominante, nos detalhes também se percebeu acenos a eventos e reflexões que se tornaram marca registrada da criação de Lisa Joy e Jonathan Nolan, sobretudo no seu início. Logo, não é de se surpreender que este ano tenha chegado ao fim com Dolores (Evan Rachel Wood) de volta aonde tudo começou. Quer dizer, com Christine, sua versão que “transcendeu” todo o conflito, em busca de uma saída esperançosa na sua recriação do Westworld no Sublime.

Para chegar ali, porém, o seriado não economizou nas reviravoltas, obstáculos e despedidas — somente no penúltimo episódio, demos adeus a quatro personagens centrais da trama, isto é, Charlotte, Bernard (Jeffrey Wright), Maeve (Thandiwe Newton) e o William (Ed Harris) de carne e osso, muito embora aquele não tenha sido o ponto final para todos eles. Por isso, nada melhor do que uma breve recapitulação para entender onde Westworld chegou — e onde pretende chegar, se for renovada para uma quinta temporada.

Novamente, no centro da trama estava o embate entre humanos e anfitriões. De um lado, Charlotte tentava convencer seus pares a evoluírem e se desconectarem da experiência física no mundo real, ao mesmo tempo que os oferecia uma alternativa, isto é, ficar e fazer com seus criadores o que bem entendessem — afinal, os anfitriões são merecedores do direito ao livre arbítrio. Do outro, Bernard seguia com seus esforços conciliatórios, procurando uma maneira de impedir a escalada do caos ou, pelo menos, o fim para todos, independente da espécie. E, no meio desse cabo de guerra, Christine, uma Dolores morena, tão inocente quanto a primeira versão que conhecemos, questionando sua própria realidade.

É claro que, se tratando de Westworld, isso não foi posto de forma tão direta e clara. Até o emblemático quarto episódio da temporada, por exemplo, tínhamos a impressão de que ainda havia uma chance para os humanos diante do sonho megalomaníaco de Charlotte, quando na verdade a humanidade, incluindo Caleb (Aaron Paul), já estava há décadas na coleira da anfitriã. Para a nossa surpresa, Bernard também sabia desde o começo que não havia salvação para aquele mundo. A única esperança, de todos os cenários que estudou, envolvia o sacrifício de muitos e a boa vontade de um deles — uma versão mais trágica, intrincada e ativa do papel do Doutor Estranho em Vingadores: Guerra Infinita. Christine mesmo nunca sequer existiu no mundo físico, apenas como o programa que abastecia a torre — e, portanto, o mundo comandado por Charlotte — com todos os seus loops, como descobrimos no penúltimo episódio.

Por mais desolador e pessimista que fosse esta realidade, era palpável o clima de tudo ou nada quando começou “Que Será, Será”. Ainda havia pelo que lutar — ou, melhor, contra quem lutar. Isso porque, apesar do William humano ter morrido, seu instinto brutal sobrevivia na sua versão artificial e, para ele, o mundo era das baratas, fossem humanos ou anfitriões; desde que não tivessem escrúpulos para se manterem em uma posição de poder, bastava. Por isso, a destruição do Sublime era primordial para seu plano: todos precisavam se submeter ao seu espírito destrutivo.

Essa postura, uma traição descarada aos valores de Charlotte, fez com que ela, depois de restaurada, seguisse o recado deixado por Bernard no tablet, se abstendo do seu protagonismo. No finale, ela vai até a usina onde todos os dados do Sublime eram mantidos e não apenas impede o Homem de Preto, colocando uma bala no meio da sua testa, como transfere Christine para lá. Veja, no fundo, ela sabia que era à “roteirista” que Bernard se referia quando falava sobre quem jogaria o tal novo jogo que começaria em breve. Talvez justamente por isso Charlote tenha determinado seu destino de forma tão incisiva. Contrariando o que disse ao longo da temporada, a então rainha do mundo toma uma decisão semelhante a dos anfitriões que cruzaram o caminho com externos e põe um fim à sua vida, destruindo sua pérola e abrindo espaço para a mente que a originou. E então, depois de tantas versões, labirintos e conspirações, voltava às mãos da anfitriã original o tabuleiro e todas as suas peças.

Quando Christine primeiro desfila pelas ruas do Sublime, ela enxerga a Nova York de Charlotte com o rastro de destruição e morte que William tanto queria, mas ela está diferente e suas roupas não deixam mentir. Aos poucos, conforme explica ao espectador o caráter trágico daquela história, ela deixa o cenário urbano e retorna ao clima árido do bom e velho Westworld, assim como abandona seus cabelos escuros. “Esse jogo termina onde começou, em um mundo labiríntico que testa quem nós somos e revela quem nos tornaremos”, diz, agora completamente caracterizada como Dolores. “Uma última volta no carrossel. Talvez, desta vez, nós nos libertemos”.

Há esperança na sua voz, mas não há dúvidas de que o sentimento ao final é agridoce. O mundo como o conhecemos foi destruído, e mesmo sobreviventes como Frankie/C (Aurora Perrineau) e sua namorada não serão capazes de impedir a extinção da espécie. Imagine, então, Caleb, que é uma consciência humana em guerra com seu próprio corpo robótico. A humanidade, enfim, encara seu ponto final. Christine/Dolores, portanto, só pode mantê-los vivos simbolicamente, com sua memória — eles e, por que não, outros anfitriões e até sua “amiga imaginária” Maya (Ariana DeBose). Mas talvez seja justamente sua memória sua maior arma para impedir o impulso aniquilador que parece acompanhar todas as formas de vida inteligente. Ou, no mínimo, para ilustrar porque ainda vale a pena continuar tentando.

A quarta temporada de Westworld, assim como as demais, está disponível na HBO Max.

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