Embora não tenha chifre nem rabo, e tampouco carregue um tridente, Abel Zebu, um empresário famoso por suas palestras motivacionais ligadas à maldade nossa de cada dia, vai ser encarado por muita gente como a encarnação viva do Diabo – sobretudo por quem acompanhar na TV Globo a estreia de Vade Retro. Na nova série da emissora, escrita por Fernanda Young e Alexandre Machado (de Os Normais), Abel, sempre perfumando a ruindade, é vivido por um mito da televisão brasileira: Tony Ramos. Num terreno de humor, o aclamado ator contracena com Mônica Iozzi, que, no papel da advogada Celeste, vai aprender que o Demônio vive bem perto de nós.
“Um Pai Nosso pela manhã e um à noite é o melhor remédio para se viver bem. Como sou muito religioso, acredito muito no poder da fé. E só ela pra dar conta do Diabo, que é tudo aquilo que serve pra atentar a gente. Abel é o diabo que existe dentro de cada um de nós”, diz Ramos ao Omelete. “Esta série, com o humor inteligente da Fernanda e do Alexandre, encontra várias analogias com a realidade que vivemos, na qual o Diabo aparece em forma de ganância, da soberba, da corrupção. E Abel é um sujeito sem escrúpulos, ganancioso. Mas é necessário termos esperança”.
Na trama de Vade Retro, sempre aberta por uma palestra de Abel, Celeste – que foi beijada pelo Papa João Paulo II quando criança – é contratada por ele para cuidar de sua separação. Sua mulher é Lucy Ferguson (vivida Maria Luísa Mendonça), que sabe todos os podres de que Abel é capaz.
“O Mal está em todo lugar, na TV aberta, lacrada, fechada... em qualquer canto ele existe, dentro, fora, próximo”, diz Mauro Mendonça Filho, diretor da série, que pilota o projeto trazendo no currículo dos sucessos de público e crítica seguidos: Dupla Identidade (2014) e Verdades Secretas (2015). “Tentamos construir uma comédia dentro do terror. Tentamos tirar a comédia da figura nesfasta do Abel, a encarnação do Demônio. O medo coloca as pessoas na condição do patético. Não vejo muito desafio em ter o Mal na TV aberta não. Essa imagem da TV aberta de um lugar confortável, em que as coisas precisam chegar mastigadinhas e fofas é uma coisa do passado. Como a vida na rua está mais selvagem do que qualquer outro lugar, a TV aberta tem que dar algum antídoto pra isso, mais fantasias, mais fugas... mas ela também retrata esse peso. A família brasileira está acostumada a lidar com o Mal. Tem um espaço gigante para retratá-lo”.
Escalado para viver um empresário da música na comédia Chocante, filme com Bruno Mazzeo, previsto para o segundo semestre, Ramos protagonizou uma das franquias de maior sucesso comercial do humor brasileiro no cinema, Se Eu Fosse Você, na qual ganhou mais intimidade com o riso. Ao longo de sua carreira em novelas, ele também viveu muitos personagens cômicos. Mas Abel traz uma comicidade perversa.
“O humor é o que resgata a dignidade do homem frente ao ridículo. Quando eu entro em uma trama cômica, minha proposta não é ser o bobo da corte e sim dar vida a um texto que levante reflexões ao largo do riso”, diz Ramos, que vai integrar o elenco da próxima novela das 18h, da Globo. “O barato de Vade Retro é ver como o público vai reagir a esse homem que, disfarçado de uma figura bem corriqueira, convida quem está a seu redor a cair em tentação”.