Leia a Parte 1 desta entrevista aqui.
E um cara que tá assistindo ao Gigantes do Ringue que quer ser lutador. O que ele tem que fazer&qt;&
Ele tem que ligar para mim e eu faço as perguntas básicas. Se ele tem uma média de 1,80m, se ele é fisiculturista há no mínimo cinco anos, se tem o corpo sarado, bem trabalhado e pesa de 90 a 100 kg. Se não tem, então sai logo. Se tem, então vai na minha academia, me procura que de terça feira eu sempre faço testes.
A academia fica na Rua Campos Sales, 186, travessa da rua Piratininga. Ao lado da estação Brás do metrô, em São Paulo, capital.
O desafio de vocês é transformar a luta livre no que ela é nos Estados Unidos em termos de marketing&qt;&
É, a gente está tentando. Não vai ser no canal que a gente está que vamos conseguir isso. Mas nós estamos tentando fazer o máximo possível. Os americanos estão hoje num nível muito alto. Hoje o que o americano menos faz é subir num ringue e lutar. Eles lutam fora, brigam na rua, criam aquelas historinhas deles... Por quê&qt;& Porque eles tão muito avançados. Tudo que eles tinham que fazer eles já fizeram.
Nós temos entrevistas com quadrinistas sempre. Muitos deles trabalham para editoras americanas e fizeram história em quadrinhos por exemplo da Chyna, do Undertaker, do The Rock... Vocês já entraram em algum outro tipo de mercado&qt;&
Não, ainda não entramos nessa. Aqui no Brasil é mais difícil. Eu tô tocando a luta livre aqui e para conseguir muito mais do que eu tô fazendo, é preciso de uma parceria. E é difícil dar certo. É diferente dos Estados Unidos e outros países, que tem uma mentalidade diferente. Eles formam aquele pool e as coisas dão certo. Aqui, você se junta com uma pessoa e amanhã ela tá te dando uma rasteira para te derrubar. Então é muito difícil, mas eu acredito que em pouco tempo a gente consegue chegar lá.
No passado, a luta livre teve revista, álbum de figurinhas, teve muita coisa. Mas eu tô falando de quarenta anos atrás.
Você já se viu numa situação em que tivesse que usar o que você aprendeu aqui dentro na rua&qt;&
Muitas vezes. Eu sou um cara que tem mais de vinte processos nas costas. Não é que você tem que usar, o negócio é espontâneo. Você pratica tanto, você luta tanto que acaba saindo de qualquer situação usando as coisas que você faz diariamente. Mas muitas vezes, o lutador leva desvantagens. Você nunca tem razão... Mas há uns quinze anos eu bati em três PMs e uma investigadora. O juiz achou que eles tavam armando para cima de mim e eu fiquei agradecido por isso. O juiz falava: "Não é possível o homem bater em três PMs armados e uma mulher investigadora armada." Então, o juiz acabou me absolvendo. Mesmo assim, quando ele mandou eu assinar, tava lá com a letra dele no rodapé: "Indivíduo perigoso", escrito com tinta vermelha.
É freqüente os lutadores saírem lesados na Luta Livre&qt;&
Acontece muito, até porque o cara acaba se inflamando muito com o clima então começa a dar esse tipo de problema. O marido dela (apontando para a esposa do lutador Falcão, que se machucou em um dos treinos) está machucado há três meses. Tem outro que quebrou a perna (apontando para o Stripper Luca), e no sábado passado, eu tive um derrame na perna sozinho.
Você acha que a luta livre influência de alguma maneira as crianças&qt;&
Influencia e a gente toma muito cuidado, tanto que todo fim de luta, tem sempre uma chamada contra o uso de drogas, porque eu sou totalmente contra isso. A gente sempre faz uma chamada com uma frase que eu uso há muitos anos, até quando fui vereador eu já usava isso na minha campanha: "Esporte é vida, droga é morte. Dê mais vida para seus filhos". Porque a gente se preocupa com isso aí.
Mas você acha que a criança vai querer imitar o que ela vê no ringue&qt;& Eu tô perguntando isso (o Rodrigo, o Érico não se mete nessas coisas), porque tem um fundo pessoal nessa história. Eu sou muito fã de luta livre, assisto sempre que posso ao Gigantes do Ringue, e muita coisa que vem de lá de fora também. Outro dia, brincando, eu tive que dar três pontos no queixo e quebrei dois dentes. Isso no escritório!
(Risos) Mas isso aí não tem como evitar. Acho que todos nós passamos por isso. Eu não me recordo, mas acredito que quando meu pai me levava pra assistir luta livre eu fazia a mesma coisa.
Eu também recebo fita de garoto que manda só para eu ver o que eles já tão fazendo. Vejo coisa que eu fico até arrepiado... Teve uma de dois caras lutando do lado de um tanque, eles se batiam e se jogavam e eu pensei: "eles vão se matar já já!"
E o que você diria para as pessoas que falam que a luta livre é mentirinha&qt;&
Eu digo que é mentirinha mesmo. É um show, nós fazemos um show de agilidade, de acrobacia, de beleza, com atletas treinados. Nós fazemos coisas que nenhum cara normal faz. Mas é um show em que você e nós (os lutadores), acabam se envolvendo. Você assiste a um filme e se você não se envolver com ele, você não vai até o fim. Você só vê um filme inteiro, se você se envolver com os atores. Você sabe que o mocinho não vai morrer, mas você acaba se envolvendo. É um show, eu não nego. Agora, na Expo Fight 2001, uma feira só de artes marciais, teve campeonato mundial de kickboxing, campeonato mundial de karatê, campeonato panamericano de kung fu, mas a atração que matou a festa lá foi o Gigantes do Ringue.
Sabe porque eu me preocupo com isso aí e não nego nunca que é um show&qt;& Porque a luta livre acabou em outras décadas exatamente por causa disso. O cara inteligente que gostava de assistir luta livre, não vinha assistir ao vivo porque falava: "Porra meu, os caras tão pensando que eu sou idiota! Eu sento lá na cadeira, os caras tão lá, lutando e falando: olha lá o trouxa pensando que é de verdade!" Hoje não! Ele sabe que não é enganado. Ele vem, assiste, torce, vibra... ele não sabe o resultado da luta. Ele torce, vibra e sai feliz daqui.
Bom, então é uma nova geração em todos os sentidos.
Totalmente. A gente não tem nada escondido, jogo aberto com todo mundo. Pode vir aqui assistir, não vai ser enganado. Você sabe que vai ver um show. Se eu for artista suficiente para fazer o público se inflamar, que nem a semana passada quando invadiram aqui para me defender e defender o meu filho (que trabalha apresentando os lutadores), eu tenho que ficar satisfeito e feliz. Se eu chegar e o povo ficar assistindo quieto, azar meu... vou ter que treinar mais meu lado artístico. Cada um tem que fazer o seu papel.
O Omelete agradece a Michel Serdan e aos lutadores e deseja boa sorte com a Nova Geração!
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