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Ultraman: Gigante pop

Ultraman: Gigante pop

30.08.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.11.2016, ÀS 23H06

Ultraman

Ultraman e a Patrulha Científica

Ultra Seven

Irmãos Ultra, por Mamoru Uchiyama

Ultraman Jack

Ultraman Tiga

Ultraman Dyna

O game Fighting Evolution, para PlayStation

Ultraman Noah, símbolo de
uma era que não deu certo


Ultraman Nexus

Ultraman Max enfrenta Eleking

O gigante espacial conhecido como Ultraman é um verdadeiro ícone da cultura pop japonesa. Símbolo de uma franquia iniciada em 1966, o personagem originou dezenas de outros similares que são vistos em muitos seriados, filmes, games, livros, quadrinhos e uma infinidade de produtos e mídias. O herói é também o carro-chefe do estúdio Tsuburaya Productions, fundado pelo lendário diretor de efeitos especiais Eiji Tsuburaya (1901 - 1970). Tendo trabalhado no clássico Godzilla, em 1954, ele se tornou muito prestigiado e, após vários sucessos, resolveu montar sua própria produtora e revolucionar o emergente mercado televisivo japonês.

A FASE CLÁSSICA

Em 1966, a audiência ficou fascinada com Ultra Q, uma versão japonesa do clássico estadunidense Além da Imaginação, com criativos monstros em aventuras protagonizadas por três repórteres que investigavam casos fantásticos. A consagração do estúdio viria no mesmo ano, com a estréia de Ultraman, um dos primeiros seriados coloridos da TV japonesa.

Com seu guerreiro de 40 metros de altura vindo da Estrela de Ultra, na Nebulosa M-78, a série mostrava as aventuras de Hayata (vivido pelo ator Susumu Kurobe), oficial da Patrulha Científica, que se transformava para defender a Terra. Foram 39 episódios cheios de ação, humor e alguma dose de drama. O final da série ainda apresentou Zoffy, o segundo gigante a ser criado, uma espécie de líder de campo dos Irmãos Ultra. Em 1967, um projeto mais arrojado apresentou Ultra Seven, identidade secreta do alienígena Dan Moroboshi (o ator Koji Moritsugu), membro do Esquadrão Ultra. Foi outro sucesso, com seu enredo elaborado e episódios antológicos. Depois da morte de Eiji Tsuburaya, em 25 de janeiro 1970, o estúdio se reorganizou e lançou Kaettekita Ultraman (O Regresso de Ultraman) em 1971. Na verdade, tratava-se de um novo Ultra, que dava sua vida para salvar o humano Hideki Goh (o ator Jiro Dan). Unindo-se ao GAM (Grupo Anti-Monstros) Goh passaria a se transformar no segundo Ultraman. O tom geral era dramático, com uma trilha sonora eletrizante.

Dessa primeira fase, todas as séries foram exibidas no Brasil, sendo que os dois Ultramen seriam reprisados até a metade da década de 1980 no SBT. O primeiro Ultraman ainda seria redublado para lançamento em vídeo e exibição na extinta TV Manchete.

Depois do segundo Ultraman (chamado depois de Ultraman Jack), o público japonês ainda viu em seqüência Ultraman Ace (1972), Ultraman Taro (73) e Ultraman Leo (74), que firmaram o conceito de Irmandade Ultra na mesma medida em que a qualidade técnica das produções despencava. Ace mantinha o pique da série anterior, mas com menos drama e muita fantasia. Taro (leia "Tarô") era mais infantil e contou com participações de todos os atores que encarnaram Ultras anteriormente. E Leo era extremamente violento e dramático. Na trama, Ultra Seven retornava à Terra, era derrotado e Dan Moroboshi se tornava o mentor de Leo. Mas apesar do clima pesado, os visuais seguiam a tendência espalhafatosa e trash da época.

Nessa década, os Ultras ganhariam suas primeiras aventuras exclusivas para cinema, depois que alguns episódios de suas séries foram vistos em tela grande. A década de 1970 também viu uma das melhores adaptações dos Ultras para mangá, assinada por Mamoru Uchiyama. Mais do que apenas adaptar episódios da TV, Uchiyama criou finais alternativos e produziu sagas inéditas reunindo todos os Ultras, em argumentos que, se tivessem sido filmados, teriam levado os fãs ao delírio. Alguns episódios desse mangá chegaram a sair nos EUA na forma de uma minissérie intitulada Battle of the Ultra Brothers, pela Viz Comics.

FORA DE RUMO

Em 1979, o constrangedor filme Ultra Roku Kyodai vs Kaiju Gundan (Seis Irmãos Ultra versus Exército de Monstros) mandou os gigantes para a Tailândia onde, ao lado da divindade Hanuman, lutaram contra um grupo de monstros. O filme foi uma co-produção com o estúdio Chaiyo, resultante de um acordo firmado com o então presidente do estúdio, Noboru Tsuburaya (1939 - 1995), filho de Eiji.

Viria depois a primeira série animada, The Ultraman, com o herói Ultraman Jonias. Outras animações ainda seriam feitas, quase sempre com versões infantis ou cômicas. Mas Ultraman USA (1987), co-produção com a Hanna-Barbera que chegou a sair em vídeo no Brasil, apresentou um trio de novos heróis em uma aventura séria.

No Japão, o êxito das franquias Kamen Rider e Super Sentai tirou muito da força da marca Ultra. Depois da boa série Ultraman 80 (feito em - adivinhe - 1980!), pouca coisa foi produzida naquela década, com destaque para o longa Ultraman Story, focado em Ultraman Taro. Em 1984, a série Andro Meros apresentou heróis derivados da mitologia Ultra, mas não causou grande repercussão.

Na década de 1990 foram feitas parcerias com estúdios estrangeiros, resultando nas séries Ultraman Great (ou Ultraman Towards The Future, Austrália, 1990) e Ultraman Powered (ou Ultraman The Ultimate Hero, EUA, 1993). Ambas tiveram 13 episódios e pouco sucesso. Nos cinemas, Ultra Q - The Movie tentou recriar a magia da série original, sem êxito. Em 1994, dois constrangedores especiais de TV tentaram retomar a cronologia de Ultra Seven. Pelo amadorismo da produção, parecia o fim da outrora melhor produtora de seriados japoneses.

RENASCIMENTO

Tentando reencontrar seu caminho, a Tsuburaya lançou nos cinemas Ultraman Zearth (1995), que faria sucesso e ganharia continuação no ano seguinte. Com um apelo bem cômico, o herói agradou, mas o público sentia falta de algo realmente digno do legado de Eiji Tsuburaya.

A franquia voltaria a ganhar força em 1996, com a série Ultraman Tiga. Com um enredo mais juvenil e doses equilibradas de drama e romance, a série emplacou com seu elenco carismático e boas histórias. A história era desvinculada das anteriores, mas um clássico episódio envolvendo viagem dimensional e temporal colocou Tiga e o primeiro Ultraman lado a lado. No Brasil, Tiga seria exibido na TV Record de modo incompleto, sendo assistido na íntegra somente em 2005, no Canal 21. Mas a série nunca repetiu aqui o sucesso que obteve em seu país de origem, onde foi um divisor de águas na filmografia Ultra.

Em 1997, o final apoteótico de Tiga abriu caminho para a continuação Ultraman Dyna, repleta de citações e participações especiais. As duas séries eram interligadas e um especial de cinema uniu os heróis com grande sucesso em 1998. O merchandising nessa época também ganhou reforço com o recurso de múltiplas formas para o herói da vez. No começo, Tiga possuía três variações de cor, chegando depois a sete, o que permitiu aos licenciantes criar bonecos colecionáveis apenas mudando as cores. Já Dyna possuía três variações de cor e design, tendência que se estendeu depois.

A série seguinte, Ultraman Gaia, possuía uma estrutura diferente, com um exército de defesa da Terra mais estruturado que as tradicionais equipes de elite e um rival, Ultraman Agul, que aos poucos se torna um aliado. A série é desvinculada da cronologia de Tiga e Dyna mas, mesmo assim, uma bela aventura para cinema uniu os três Ultras que simbolizaram o renascimento comercial da Tsuburaya. Nos EUA, apesar de apenas Tiga ter sido exibido na TV, os longas de Dyna e Gaia foram lançados em DVD.

No ano 2000, a excelente aventura The Final Odyssey encerrou a saga de Ultraman Tiga. Na época, infomerciais de brinquedos durante a reprise de Tiga na TV japonesa mostravam pequenos quadros com a participação do novo herói: Ultraman Nice. Tiga, Dyna e Gaia ainda estrelariam aventuras especiais lançadas diretamente para vídeo em 2001. O início do novo milênio também traria uma série para vídeo com Ultraman Neos e seu aliado Ultra Seven 21, com eventuais participações do veterano Zoffy. Neos e Seven 21 (leia Seven "Two-One") foram apresentados na forma de videoclipes em 1995, mas o projeto mais arrojado de Tiga acabou sendo priorizado para uma série de TV regular.

Paralelo ao sucesso da nova geração, o clássico Ultra Seven ganhava novas aventuras para vídeo. Depois da constrangedora fase de 1994, uma série em três partes deu novo fôlego ao clássico herói em 1998. Em 1999, uma saga em seis partes fez uma transição digna entre o velho Dan Moroboshi e a nova identidade Masaki Kazamori. Em 2002, na minissérie Ultra Seven: Evolution, já é Kazamori a identidade humana definitiva para o herói. Mas a Tsuburaya realmente encarou o novo milênio como uma época de renovação com o seriado Ultraman Cosmos, de 2001.

TEMPO DE RENOVAÇÃO (OU QUASE)

Em Ultraman Cosmos, a Tsuburaya investiu em um herói mais gentil, pacifista e sensível, todo voltado ao público infantil. Se as crianças de décadas passadas viam seus heróis fatiarem seus inimigos em pedaços, as do novo milênio deveriam ter como ídolo um lutador amigável que sempre tentaria acalmar os monstros antes de lutar. Ironicamente, o ator principal, Takayasu Sugiura, foi preso por ter sido acusado de agredir e extorquir um rapaz. Sem saber como lidar com o escândalo, o estúdio mandou cortar as cenas com o personagem central Musashi, criando episódios mal remendados em que nunca aparecia o alter ego do herói. O final da série foi antecipado e tudo ficou meio estranho. Depois, com o caso esclarecido, o ator foi solto e aí os "episódios perdidos" foram levados ao ar. E além de sua série ter sido a mais longa da franquia, com 65 episódios, Cosmos também teve três filmes para cinema, lançados entre 2000 e 2002.

A franquia Ultra esteve envolvida ainda numa disputa judicial entre a Tsuburaya Productions e o estúdio tailandês Chaiyo. A empresa alegou que tinha um contrato assinado por Noboru Tsuburaya na década de 1970 em que dava à Chaiyo o direito de utilizar a imagem dos seis Irmãos Ultra originais (Ultraman, Seven, Zoffy, Jack, Ace e Taro), bem como criar personagens próprios e licenciá-los em seu território. O contrato só apareceu quando Noboru Tsuburaya já havia falecido e os herdeiros da empresa protestaram contra a autenticidade do documento, sendo derrotados. Com isso, a Chaiyo promoveu diversos shows com atores fantasiados de Ultra e criou seu exclusivo Ultraman Shu. Ainda, é da Chaiyo o site www.ultraman.com, apesar de nada novo ser anunciado lá desde 2004.

Mesmo com essa derrota humilhante e o prejuízo resultante, a Tsuburaya continuou tocando seus projetos normalmente. Em abril de 2004, veio uma nova versão da série de ficção Ultra Q, seguida, em outubro, por uma nova criação para o Universo Ultra: Ultraman Nexus. Partindo do conceito de que qualquer um pode ser um super-herói, a série mostrou uma rotatividade de identidades humanas para o gigante, em aventuras repletas de mistério. Com Nexus, teve início o "Ultra N Project", um pacote de criações que visou renovar o público dos Ultras. A campanha teve um personagem-símbolo, Ultraman Noah, de visual bastante high-tech.

Como parte do projeto, o filme ULTRAMAN (dezembro de 2004) tentou, com algum êxito, cativar um público mais velho e não-iniciado para suas aventuras. Seu herói, Ultraman The Next (a forma inicial de Nexus), é mais humano e tem profundos dramas pessoais. O filme é uma superprodução para os padrões japoneses e começou a ser exibido em festivais de cinema internacionais. Porém, a série de TV teve audiência pífia e acabou sofrendo redução. O capítulo final revelou que Noah era a forma evoluída de Nexus e assim o "Ultra N Project" foi encerrado, com todos os seus personagens representando a mesma entidade.

Em julho de 2005, foi a vez de Ultraman Max, um herói de estilo mais tradicional e aventuras mais simples, dar as caras. A saga trouxe de volta alguns monstros clássicos para reacender o interesse dos fãs. Com medo de outro fracasso, o estúdio aposta em uma fórmula mais garantida de sucesso.

Se estivesse vivo, o criativo Eiji Tsuburaya certamente não permitiria que seu estúdio ficasse eternamente reciclando as mesmas idéias. Desde que ele faleceu, quase tudo o que o estúdio fez foram variações dos mesmos conceitos, seja com visões adultas, infantis, auto-paródias ou homenagens. Mesmo assim, Ultraman e seus sucessores continuam encantando gerações há quase 40 anos.

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