Séries e TV

Crítica

The Leftovers - 2ª Temporada | Crítica

Segunda temporada aprende com os erros da primeira e cresce construída em ainda mais mistérios

15.12.2015, às 15H03.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

Quando The Leftovers estreou em 2014, a série já nascia sob pressão. Afinal, era o primeiro grande projeto que trazia Damon Lindelof para a TV depois do final de Lost. Controverso, o ano de debute do programa não agradou a todos, mas apresentou ótimas horas televisivas cobertas de mistério. Seguindo quase que à risca o material de origem, Tom Perrotta - autor do romance - e Lindelof ainda pareciam instáveis, talvez tentando explicar mais do que realmente precisavam para que a história prosseguisse.

A questão é que The Leftovers é uma série de mistérios e ponto. Kevin (Justin Theroux) não precisa entender tudo ao seu redor e ter tudo sob controle. Os Remanescentes Culpados não precisam ter justificativas para seus atos. Ninguém precisa entender o que aconteceu com aqueles que partiram. É na segunda temporada que todas essas lições, erros cometidos no primeiro ano, são levadas em consideração. Muitas coisas ficam inexplicadas no ano dois da série, mas não importa. A jornada que realmente importa é daqueles que ficaram para trás e precisam lidar com o dia a dia; no caso dos Garvey, a nova vida em Jarden.

[Cuidado, possíveis spoilers abaixo!]

Logo no primeiro episódio da nova temporada, topamos com pessoas desconhecidas. Quem são, o que fazem, de onde vieram e até quais serão seus papéis no desenvolvimento da série, não importa. É como se acontecesse um reboot, como se The Leftovers fosse uma antologia. Como se tudo aquilo que vimos no primeiro ano ficasse para trás e passássemos a acompanhar uma nova história. No entanto, essa introdução dos Murphy serve apenas para mostrar que não precisamos de uma história de origem para cada novo rosto. Podemos tranquilamente partir de um ponto em comum para todos e ir desvendando suas histórias de acordo com a necessidade de cada revelação.

Acima de tudo, cada personagem tem seu momento nessa segunda temporada. Se apenas um episódio ou vários seguidos são dedicados ao seu desenvolvimento, cada um dos protagonistas teve seu devido espaço - até Matt Jamison (Christopher Eccleston), que parecia ter sido deixado de lado, teve um excelente capítulo dedicado exclusivamente à sua trajetória com "No Room at the Inn". Um outro bom exemplo foi o impecável diálogo entre Nora Durst (Carrie Coon) e Erika Murphy (Regina King) em "Lens". Repleta de nuances, a conversa não precisa ser expositiva para mostrar que ambas estão desconfortáveis mesmo que aparentemente em seus momentos mais agradáveis desde o evento, além de tocar em um doído ponto da partida: não foram só as pessoas que tiveram entes queridos desaparecidos que sofrem com o evento. Naquele momento da partida repentina, algo mudou na humanidade como um todo.

Visualmente impecável, The Leftovers mostra que, mesmo com muitos personagens e tramas distintas, uma história pode ser apresentada de maneira não linear e coerente. Mesmo que o foco central série seja a trajetória de Kevin e seus problemas com a constante presença de Patti (Ann Dowd), não se perde nada quando passamos uma hora completa da série acompanhando Laurie (Amy Brenneman) e Tom (Chris Zylka); ou até mesmo quando a empreitada de Meg (Liv Tyler) - no que parece ser um novo braço dos Remanescentes Culpados - é brevemente explorada, mas não extremamente detalhada. O que torna a série uma obra completa é seu impecável roteiro que, mesmo com arestas não aparadas, fica redondo o suficiente para entregar um surpreendente ano cheio de dúvidas e com poucas explicações.

Já renovada para sua terceira e última temporada, The Leftovers certamente poderia ter terminado ao final de seu segundo ano. Se a explicação de Evie (Jasmine Savoy Brown) sobre seu sumiço foi boa o suficiente para sua mãe, se para Erika aquilo tudo faz sentido, então que seja. A realidade de Jarden, Mapleton e todas as outras cidades do mundo que sofreram com a partida repentina mudou drasticamente desde o evento e nada mais é sagrado, como bem mostra "A Matter of Geography". Mas a nossa trajetória, a nossa visão dos eventos como espectadores, não é a mesma das pessoas que ainda tentam entender o que aconteceu no fatídico 14 de outubro. E não importa, de fato, o que aconteceu. As idas e vindas de Kevin ao hotel do outro lado são muito mais interessantes do que qualquer outra coisa. E é isso que importa.

Nota do Crítico
Excelente!

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