Elenco de Sweet Tooth fala sobre “jornada sombria” de Gus no 2º ano
"Ele muda muito e muito rápido", afirma Christian Convery, que vive o protagonista da série
Créditos da imagem: Netflix/Divulgação
Não é injusto dizer que fãs das HQs originais se surpreenderam bastante com a versão de Sweet Tooth produzida pela Netflix. Embora traga várias mudanças em relação ao quadrinho original criado por Jeff Lemire, a série nunca perdeu de vista o tom, os personagens e os conceitos que o autor tinha em mente quando começou a publicar a HQ pela Vertigo, em 2009. E, ainda que muitos fãs apaixonados torçam o nariz quando suas obras favoritas são alteradas em adaptações, a equipe da série contou com todo o apoio do quadrinista para construir algo próprio. “Conversamos muito sobre isso [com Lemire]”, afirma Jim Mickle, diretor e showrunner da produção, em entrevista ao Omelete. “Acho que ele realmente gostou do que fizemos e entendeu que o que estávamos fazendo era, sabe, a serviço dos personagens, dos quadrinhos e dos seus temas.”
Para garantir que as mudanças não resultariam em um produto completamente diferente da HQ original no futuro, Mickle e sua equipe receberam Lemire na sala de roteiristas da segunda temporada, o que, segundo o cineasta, foi um momento interessante para a produção. “Foi uma boa oportunidade para os escritores olharem um pouco para o cérebro dele e verem o caminho que ele estava imaginando, o que era importante para ele e o que ele queria manter [dos quadrinhos].”
Ainda que Lemire esteja aberto às adaptações trazidas pela série, o próprio Mickle tenta impor limites do que é ou não aceitável mudar. Para o showrunner, era essencial que um elemento de Sweet Tooth se mantivesse igual à versão das páginas. “É o Gus”, afirmou o diretor de forma contundente. Segundo ele, as pequenas alterações feitas no protagonista serviram como forma de reforçar as características que o tornaram tão encantador. “Às vezes os atores aparecem e eles mudam quem [o personagem] é. E acho que Gus é diferente de quem ele é nos quadrinhos, mas acho que, de novo, [as mudanças são] um esforço para capturar aquela inocência e ingenuidade que o personagem dos quadrinhos tinha.”
Apesar de sua ingenuidade, Gus já passou por maus bocados desde que deixou a cabana em que passou a maior parte da infância ao lado de seu pai adotivo (Will Forte). “Ele cresceu porque passou por muita coisa”, analisa Christian Convery, intérprete do protagonista. “Quando o conhecemos, Gus é muito protegido e inocente. Ele não tem conhecimento do mundo exterior, e obviamente sente tristeza de verdade pela primeira vez em sua vida quando seu ‘paba’ morre. É quando ele começa a crescer oficialmente, eu diria. E, conforme ele se aventura no mundo exterior, ele começa a entender o quão cruel pode ser para pessoas como ele. (...) Ele basicamente passou de um garotinho para um ‘garoto grande.’”
O crescimento de Gus no novo ano, inclusive, é um dos pontos que mais surpreendeu Convery quando ele recebeu os roteiros do segundo ano. “Ele muda muito e muito rápido durante a temporada. Ele passa por tanta coisa em um curto período de tempo e acaba mergulhando fundo numa jornada sombria [ao descobrir] sobre si mesmo, seu passado e suas origens.”
Convery não é o único do elenco a se sentir assim em relação ao seu personagem. Naledi Murray, que vive Wendy, também se surpreendeu com a velocidade com que a garota muda no novo ano. “[Gus e Wendy] precisaram mudar muito. Eles têm que crescer muito mais rápido”, comentou a atriz.
Mais do que uma amiga para Gus, Wendy é a grande líder do grupo de crianças híbridas mantidas reféns por Abbott (Neil Sandilands). E, enquanto não faltam exemplos de grandes líderes mulheres na cultura pop, Murray buscou uma solução mais “caseira” para lhe ajudar a entrar na pele da personagem. “Wendy pode ser muito poderosa em alguns momentos, então eu meio que canalizo minha mãe, porque ela é a mulher mais forte que conheço”, explicou a atriz de 13 anos.
O “lado sombrio” de Sweet Tooth
Assim como Gus e Wendy, Convery e Murray ainda são crianças e, talvez por isso, nenhum dos dois teve contato com a HQ original de Sweet Tooth antes de entrar para a série — leitura que ambos imediatamente fizeram assim que souberam que foram contratados. “Assim que soube que o papel era meu, quis ler os quadrinhos”, contou Murray. “Sei que alguns atores não vão atrás [do material original] porque querem fazer algo próprio, mas eu estava com muita vontade de ler, porque a trama é genial.”
“Tenho uma história engraçada sobre isso, na verdade”, continuou Convery, que também admitiu que mal podia esperar para ler o Sweet Tooth de Lemire. “Quando tinha oito anos — tenho 13 agora —, entrei no projeto da série e, assim que consegui o papel, eu e minha mãe compramos o quadrinho e não tínhamos ideia de que seria tão gráfico. Comecei a ler fiquei meio ‘mãe, você precisa ver isso.’”
Enquanto as partes mais gráficas do quadrinho ficaram de fora das telas, outros aspectos mais maduros, incluindo a reflexão sobre a natureza humana e os horrores de se viver em uma sociedade desmoronada, continuaram na adaptação. Tendo iniciado a carreira no Terror, Mickle afirma que essa formação foi essencial para seu trabalho em Sweet Tooth. “O que amo no terror, como fã e como cineasta, é que exige toda a disciplina possível em termos de fotografia, narrativa, edição, música, som, maquiagem… Acho que tendo feito quatro ou cinco filmes bastante intensos do gênero, com muitos desafios, [...] você se torna muito mais capaz de se adaptar”, opinou o cineasta.
“Jeff Lemire é um ótimo escritor”, seguiu Convery, que mostrou certo alívio em como Mickle e companhia amenizaram algumas partes mais arrepiantes da HQ original ao levar o título para o streaming. “Algo que amo [na série de]Sweet Tooth é como eles conseguiram levar aquela história em quadrinhos realmente sombria e a adotaram para uma exibição mais familiar. Então é mais acessível”, concluiu o ator.