A obviedade nem sempre é um problema. Algumas vezes tudo que nós queremos quando nos sentamos em frente à TV é alguma coisa que acalente a mente depois de passarmos tanto tempo processando e reprocessando o que nos acontece nos nossos dias. A arte tem dessas funções terapêuticas e é por essa razão que gêneros como o terror e a comédia romântica são tão importantes não só para o mercado quanto para a própria sanidade mental da sociedade. Às vezes tudo o que queremos é viver o óbvio. Bem feito, o óbvio não machuca ninguém, ele é até bem-vindo. E muitas vezes, quando produções não têm medo dele, acabam sendo melhor sucedidas na sua manipulação.
Star, a série criada pelo mesmo nome por trás de Empire, sofre de um caso grave e cavalar de obviedade maciça. A começar pelo nome, indo para o fato de que a personagem buscando fama tem o mesmo nome (Star) e quando decide montar um grupo de cantoras, reúne meninas desajustadas e chama o grupo de Big Trouble. A sutileza passa tão longe, que até na hora de achar que fugiu do óbvio (colocando uma protagonista que não é negra numa série dominada por negros), ela só consegue provocar uma sensação de que algo está fora do lugar.
Desde seu episódio-piloto, a série já demonstrava seu potencial para o exagero. Ansiosa para cobrir todas as frentes e explorar o máximo possível de histórias, o que a série sempre conseguiu foi parecer uma colcha de retalhos mal costurada. Existe algo incrivelmente falso por trás de Star, que mesmo com uma nova oportunidade de crescimento nas mãos, retorna para o segundo ano com as mesmas afetações. A impressão que dá é que esses são músicos em volta de uma série que fará qualquer coisa para se manter no ar.
Falling Star
A premiere já começa com um número musical que soa extremamente deslocado do contexto da série. Se em Empire os roteiros criaram um híbrido que não é nem musical enquanto gênero e nem só drama, colocando canções dentro de sequências de apresentações e ensaios, em Star os roteiros ficam achando que não podem fazer isso porque elas ainda não são famosas. Então, para dar algum senso de espetáculo ao programa, eles situam os números musicais mais elaborados em sonhos e devaneios, o que além de ridicularizar as personagens, descaracterizam a ideia de que se elas estão prontas não é hora de vê-las em clipes milionários.
O problema de Lee Daniels é que ele não consegue resistir a nenhuma obviedade e ao invés de focar nas tramas de uma banda que busca o estrelado, ele quer arranjar umas intrigas, causar uns acidentes, fazer alguém dar uns tiros... A estrutura central de Star funcionaria sozinha sem nenhuma dessas afetações narrativas, sobretudo porque são essas afetações que desorientam o espectador e esvaziam o conceito da dramaturgia. Se tirássemos o fator “música”, Star não seria nada mais que um drama ruim empurrado pela Fox.
Essa temporada começou sob grande expectativa por conta do crossover com Empire, que trouxe Jamal para uma cena discreta e rápida. Faria sentido no universo da série que Lucious contratasse as meninas do Big Trouble, mas se isso acontecer, será bem mais pra frente. Esse retorno focou mais em mostrar os esforços de Star para conseguir que a banda ganhasse alguma atenção. Ela até é uma protagonista interessante, amoral, mas que sofre com o texto. Tudo é óbvo. Mesmo assim alguns personagens nos cativam e a volta de Cotton da prisão foi um bom momento da trama. O crime que matou Hunter virou a costura da temporada, sobretudo porque Jahill foi somente “dado como morto” e o nome de Benjamin Bratt na pavorosa abertura dá a dica de que morto mesmo ele não está. E quanto a decisão de ser Carlotta por trás do gatilho, mais uma vez, óbvio.
É provável que esse segundo ano deixe claro para a Fox o que já está claro há muito tempo: Star é o “primo pobre” de Empire e dava para passar muito bem sem ele.
