Segunda Chamada traz moradores de rua para a escola: “Resgate da cidadania”

Créditos da imagem: Débora Bloch em cena de Segunda Chamada (Globo/Fábio Rocha)

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Segunda Chamada traz moradores de rua para a escola: “Resgate da cidadania”

Com Ângelo Antônio e seu personagem Hélio, 2ª temporada aborda dificuldades da população desabrigada

10.09.2021, às 14H27.
Atualizada em 13.09.2021, ÀS 13H52

A Escola Estadual Carolina de Jesus está prestes a fechar o seu curso noturno de EJA (Educação para Jovens e Adultos) quando a segunda temporada de Segunda Chamada começa. Já no primeiro episódio, vemos que a evasão escolar ameaça a existência da instituição - mas também fica claro que Lúcia (Débora Bloch) e seus colegas não vão deixar que isso aconteça tão facilmente.

A solução encontrada por ela é buscar alunos entre a população em situação de rua de São Paulo, para quem o ingresso na educação formal significa algo ainda mais importante do que para os alunos que passaram pela escola no primeiro ano da série. “Para eles, a sala de aula é um lugar de resgate da cidadania”, define a cocriadora Carla Faour em coletiva de imprensa acompanhada pelo Omelete.

Essa população em situação de rua, além de buscar um ensino formal, um recomeço, uma nova chance, também está buscando os seus direitos mais básicos. Muitos desses personagens chegam na escola e não têm identidade, não têm certidão de nascimento, não sabem nem que têm o direito de estar ali. Eles se sentem inadequados, e isso coloca a série em um lugar no qual pode discutir educação, mas também direito à cidadania. Essas pessoas passam a existir à medida que reingressam, ou ingressam, na escola”, completa.

Cena de Segunda Chamada (Globo / Fábio Rocha)

O impulso de abordar este tema se tornou ainda maior durante a pandemia do coronavírus, quando a população em situação de rua em cidades ao redor do Brasil aumentou exponencialmente. “O que ficou mais evidente na pandemia, impossível de não olhar, foi a nossa desigualdade”, aponta Débora Bloch. “A pandemia deixou essa desigualdade social muito clara, e mostrou onde ela age. [...] E toda escola é um microcosmos da sociedade, da coletividade”.

A premissa também abre espaço para Segunda Chamada abordar temas diferentes dos que foi celebrada por abordar na primeira temporada. “Os problemas que esses personagens trazem são ainda mais extremos. Fome, frio, pobreza menstrual, higiene básica. [...] E existe esse impacto entre os que já estavam lá, que têm o mínimo, e as pessoas que não têm nem o mínimo”, explica a cocriadora Júlia Spadaccini.

Carla complementa: “A inserção das pessoas em situação de rua na escola não é fácil. Tem resistência por parte da direção, de outros professores e dos próprios alunos matriculados. É nesse ponto que a Lúcia entra na temporada com muita força, mais do que nunca ela é a professora que resiste, que luta, que quer provar que vai dar certo”.

Hélio e a esperança

Os moradores de rua de Segunda Chamada - à direita, Ângelo Antônio como Hélio (Globo/Mauricio Fidalgo)

Um dos novos alunos com quem a protagonista mais interage (e até ensaia um possível romance) é Hélio, morador de rua interpretado por Ângelo Antônio. Na coletiva, o ator de 2 Filhos de Francisco e Chico Xavier comentou sobre sua abordagem do personagem, que luta contra o alcoolismo durante a temporada.

O mais interessante para mim era perguntar o que essas pessoas viviam, como era a vida delas antes da rua. O Hélio era aquele cara que tinha uma família, uma filha, uma vontade de se formar e cuidar dessa família, mantendo esse sonho vivo. E aí, pelas circunstâncias da vida, tudo muda”, conta ele. “É uma história de sonho perdido, de desesperança, de caos total”.

A equipe de bastidores de Segunda Chamada, incluindo a diretora Joana Jabaceé só elogios para o ator. “Quando a Carla e a Julia entregaram o texto e eu li o Hélio, fiquei pensando: ‘Caramba, que personagem difícil, quem vai fazer?’. Mas quando o Ângelo chegou e fez a primeira cena, foi como se nunca pudesse ter sido outra pessoa. Cada vez que ele fazia uma cena a gente falava: ‘Parece que escrevemos para ele’, conta.

Cena de Segunda Chamada (Globo/Fábio Rocha)

Ele traz uma generosidade para o personagem que faz o público abraçá-lo, querer que ele dê certo, e olhar para ele de igual para igual”, define Carla, que ainda defende a forma como a série traz temas espinhosos e por vezes duros para a televisão - mas sempre com uma ponta de otimismo.

Quando esses personagens, com suas dores e feridas, voltam para a escola, ela é um portal de transformação, de luz. Então, por mais que a gente fale da precariedade da vida deles, das dificuldades, o fato é que eles estão ali, resistindo… A atitude de voltar a estudar traz esperança”, diz.

Relatando a experiência de filmar cenas da segunda temporada em viadutos de São Paulo, onde se concentra grande parte da população em situação de rua da cidade, Débora resumiu o sentimento da produção: “Dá, mais do que nunca, uma vontade de contribuir para que isso mude… E eu acho que um dos canais é fazer essa série, ir gravar nesses lugares, falar sobre esses assuntos. É a oportunidade que o meu trabalho me dá de ser atuante no mundo, de ajudar a transformar a cabeça das pessoas, a revelar essa realidade”.

A segunda temporada de Segunda Chamada está disponível para streaming pelo Globoplay.

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