O texto abaixo contém spoilers de "Olá, Sra. Cobel", primeiro episódio da segunda temporada de Ruptura. Assita à série no AppleTV+: Experimente grátis por 7 dias.
Quando Ruptura começou, boa parte do fator instigante da série da Apple TV+ vinha da forma como o criador Dan Erickson e o diretor Ben Stiller distilavam informações na dose certa. O seriado é como um longo texto com palavras-chave ocultadas, algo semelhante ao jornal que o Sr. Milchick (Tramell Tillman) entrega a Mark S. (Adam Scott) para falar sobre a tal reforma que ele e seus colegas trouxeram ao expor o mundo exterior à realidade dos innies no fim da primeira temporada. Nesse texto, há algumas frases completas, algumas parciais e outras, por enquanto, inteiramente escondidas.
Trata-se de um equilíbrio delicado que busca manter firme no público a sensação de uma narrativa progredindo enquanto certos mistérios são guardado para nos prender semana após semana. Para dar continuidade a isso, a estreia da segunda temporada — "Olá, Sra. Cobel" — faz um jogo muito parecido com o início da série três anos atrás: começamos a entender o mundo a partir dos innies, partindo de dentro dos escritórios da Lumon para fora.
Bom, eventualment iremos para fora. "Olá, Sra. Cobel" não tem nenhuma cena no tal mundo exterior. Como as famílias, conhecidos e empregadores do quarteto principal — Mark S., Helly R. (Britt Lower), Dylan G. (Zach Cherry) e Irving B. (John Turturro) — reagiram ao entrar em contato com as versões deles que, em teoria, existiam apenas no ambiente de trabalho e eram plenamente felizes lá? Essas respostas ficam para o próximo episódio. Por hora, as mudanças dentro da Lumon são o foco.
Descobrimos essas mudanças através, claro, de Mark. O episódio começa com o protagonista correndo pelos escritórios da Lumon enquanto a câmera de Stiller salta para todo lado, ambos refletindo nossa busca desesperada por informações. Quanto tempo passou? Os innies ainda trabalham lá? A Lumon vai puní-los? O que eles já sabem da vida exterior uns dos outros (em especial da de Helly, que é herdeira de Kier, o fundador da empresa, e é uma das grandes defensoras da ruptura no mundo exterior)? Aos poucos, fazemos descobertas. A segunda temporada começa cinco meses depois do finale da primeira, e Mark é, a princípio, o único que restou. Ele não foi punido de cara, mas Milchick, agora ocupando o lugar de Cobel (Patricia Arquette) logo tira seu cargo quando ele segue tentando se comunicar com seu outtie, e ainda joga a culpa desses planos nos seus novos colegas.
O novo trio de colegas de Mark dura pouco no episódio. Mark W. (Bob Babalan), Gwendolyn Y. (Alla Shawkat) e o inexplicavelmente italiano Dario R. (Stefano Carannante), substitutos dos innies que supostamente não quiseram mais continuar na Lumon, diferente de Mark, inicialmente tratam o protagonista como uma estrela que trouxe condições melhores de trabalho para os empregados da Lumon (melhorias que, na prática, são apenas benefícios lúdicos sem qualquer impacto significativo), mas rapidamente se frustram quando fica claro que ele está disposto a sacrificá-los para ter seus amigos de volta e continuar sua missão de desmascarar a corporação.
Isso eventualmente funciona, e eles desparecem (mas chutamos que ainda os veremos). Quando Milchick percebe que não há como controlar Mark, ele é levado ao elevador de saída e acorda, depois de um período de tempo não detalhado, com seus velhos colegas e amigos de volta. O quarteto é levado por Milchick para a nova "sala de descanso", onde os tais benefícios, incluindo a suposta ausência de câmeras e microfones os observando, são detalhados por um vídeo corporativo narrado por ninguém menos que Keanu Reeves. A propaganda é mais uma das excelentes paródias da série da cultura corporativista e dos departamentos de RH fora de sintonia com a realidade, e serve para nos lembrar do humor ácido e perspicaz que é tão essencial para Ruptura quanto suas críticas ao mundo profissional.
Como prova desse novo momento, Milchick e sua nova assistente, Srta. Huang (Sarah Bock, que é uma criança?!) deixam o quarteto a sós. Com a promessa de privacidade, eles enfim compartilham suas descobertas. Dylan tem um esposa e filho. Mark era casado com Srta. Casey (Dichen Lachman). Irving pinta corredores suspeitos e sombrios, e viu Burt (Christopher Walken) casado. Helly, porém, não fala nada sobre sua identidade verdadeira.
De duas uma, ou sua memória foi apagada, ou a verdadeira Helena Eagen está entre os innies para garantir que os eventos do finale da primeira temporada não se repitam. Esse é mais um dos enigmas que teremos que resolver nas próximas semanas, mas o maior deles segue sendo o próposito da Lumon. O corte dos tais "dados" que a equipe de Mark precisa refinar em seus computadores — um trabalho para o qual eles retornam ao decidir, como innies de livre e espontânea verdade, que vão continuar na Lumon — para o rosto de Srta. Casey certamente dará combustível aos que acham que a empresa busca "reviver" pessoas através de clones, talvez para um dia trazer Kier Eagen de volta à vida.
Uma coisa é certa: três anos depois da primeira temporada que conquistou o mundo, Ruptura voltou sem perder o ritmo, qualidade e magnetismo. "Olá, Sra. Cobel" tem tudo que adoramos na série.