Rugrats: Os Anjinhos | As confusões nos bastidores, a teoria maluca e os 25 anos da animação
Série estrelada pelos bebês mais espertos do pedaço pode voltar para a TV
O mundo do ponto de vista de um bebê deve ser fascinante. Imagine só como é entrar engatinhando no banheiro e olhar para o enorme vaso sanitário à sua frente sem saber o que de fato é aquela coisa. Essa foi a ideia que convenceu a Nickelodeon a aprovar uma série sobre bebês, dando início ao reinado dos Rugrats, que por aqui ganhou o nome de Os Anjinhos.
Criada por Arlene Klasky, Gabor Csupó e Paul Germain, Rugrats foi uma das três animações contratadas para estrear no novo bloco Nicktoons do canal em 1991, ao lado de Ren & Stimpy e Doug. O trio se conheceu quando Germain, produtor associado do The Tracey Ullman Show, escolheu o estúdio do casal para fazer a animação de um novo segmento chamado Os Simpsons. Eram vinte segundos usados para separar os quadros no programa da humorista. Considerado um estúdio pequeno e arrojado, Klasky Csupo foi o responsável pela animação no programa de Tracey Ullman e pelos três primeiros anos de Os Simpsons como série independente, além de levar o crédito pelo esquema de cores que se tornou marca registrada da família amarela.
O trabalho com Os Simpsons também tirou Germain do Tracey Ullman Show para um cargo de executivo em seu estúdio. Entre suas tarefas ele tinha de convencer a Nickelodeon de que uma animação onde o mundo visto pela ótica de um bebê de um ano de idade era uma boa ideia. Um bebê chamado Tommy Pickles, careca, com grandes olhos esbugalhados e uma boca de orelha a orelha seria o aventureiro que enfrenta o monstro do vaso sanitário e outros mistérios do banheiro na proposta inicial da série. Seus companheiros são o irmão mais novo Dil e o primo Chuckie, de dois anos, um ruivinho de óculos em perpétuo estado de ansiedade e cabelos arrepiados. Além deles, o cercadinho é compartilhado pelo casal de gêmeos Lil e Phil, filhos dos vizinhos dos Pickles e donos de um visual um tanto assustador. Aos três anos, Angélica é a vilã do grupo.
Conheça Os Rugrats
Exemplos dos pais um tanto perdidos da nova era, o elenco adulto é formado por Stu e Didi Pickles, pais de Tommy e Dil; o viúvo Chaz Finster, pai de Chuckie; Drew e Charlotte, os pais de Angélica - ele responsável por mimar a filha e ela uma viciada em trabalho; e Betty e Howard, pais dos gêmeos. Além deles, aparecem com frequência Lou Pickles, pai de Drew e Stu; e Boris e Minka, pais de Didi.
Assim como nas histórias de Calvin e Haroldo, as coisas acontecem principalmente quando os adultos não estão por perto, quando os bebês dialogam com eloquência sobre o espantoso mundo que os cerca em uma linguagem que só eles entendem. Mantendo o ponto de vista de alguém que vê quase tudo pela primeira vez na vida, os roteiristas tocam em assuntos delicados como a perda da mãe de Chuckie da mesma forma como também abordam temas mais banais, como a falta que Tommy sente da mamadeira, tirada pela mãe por orientação de um especialista em educação. O resultado é o mais procurado dos programas, aquele capaz de agradar públicos de diferentes faixas etárias: as crianças através das aventuras dos bebês; os adultos, com as cutucadas ao comportamento dos yuppies; os jovens profissionais representados pelos pais das crianças; e todos igualmente divertidos com as maldades de Angélica.
Mas assim como a série levou críticas de grupos de pais preocupados com a agressividade sem freio de Angélica e a atitude sem noção dos adultos, a maldade da garota tinha uma opositora forte na própria equipe de produção: Arlene Klasky. Autora da ideia original da série, Klasky entrou em conflito com Germain pelo ponto de equilíbrio entre arrojo e exagero, o que acabou levando à saída de Germain do estúdio após 65 episódios de Rugrats. Para muitos, foi esse o fim da melhor fase da animação.
A teoria maluca
Além de ponto de estresse dentro da produtora, Angélica deu origem à uma sinistra teoria da conspiração segundo a qual os Rugrats não existem. Tommy, Chuckie e os gêmeos existiriam apenas na imaginação da Angélica e tanto essa fantasia quanto o comportamento da menina seriam fruto de uma série de tragédias envolvendo mortes e uso de drogas. Segundo essa ideia, Chuckie teria morrido junto com a mãe, o que explicaria o nervosismo do pai do menino; e Tommy teria nascido morto, causando a obsessão de Stu em construir brinquedos no porão para o filho que nunca teve. Além disso, Betty teria sofrido um aborto e como não sabiam se o bebê era menino ou menina, Angélica teria criado os gêmeos Phil e Lil para compensar a ausência. Para completar, a mãe de Angélica teria morrido de overdose, situação representada pela aparência detonada da boneca Cíntia, e Charlotte seria na verdade a madrasta da garota.
A "prova" dessa teoria seria o fato de somente Angélica conversar com os bebês - o que não é verdade, já que há diversas outras cenas em que os adultos interagem com Tommy e sua turma como há também momentos em que Angélica nem está presente. A teoria ganhou até um toque brasileiro, dizendo que a mortandade dos bebês explicaria o título Os Anjinhos, termo que por aqui é referência à uma criança que morreu. Mas esta também não é uma boa evidência, já que entre as dezenas de países onde a série foi exibida, o título foi usado somente aqui.
Além disso, não há racional capaz de matar uma teoria de conspiração, ainda mais envolvendo uma série de sucesso com 25 anos de estrada que já rendeu longas, games, quadrinhos, livros e toda uma parafernália de produtos ilustrados com o visual fora dos padrões de fofura dos bebês criados por Klasky, Csupó e Germain - e que pode muito bem estar a caminho da TV para um retorno considerando os comentários de Klasky durante a San Diego Comic-Con 2016.