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Poker Face equilibra conforto e inovação, mas sabe que não pode perder o ritmo

Trunfo da segunda temporada é a aposta no dinamismo das narrativas de mistério

Omelete
4 min de leitura
10.05.2025, às 07H30.
Natasha Lyonne e Katie Holmes em Poker Face (Reprodução)

Créditos da imagem: Natasha Lyonne e Katie Holmes em Poker Face (Reprodução)

A vida é um paradoxo, não é?. A frase resignada, marcada com o sotaque nova-iorquino e a voz de radiador envelhecido inconfundíveis de Natasha Lyonne, veio durante coletiva de imprensa da segunda temporada de Poker Face, acompanha pelo Omelete, quando a estrela, produtora, roteirista e diretora da série foi confrontada com a seguinte pergunta: como Poker Face vai balancear o conforto de sua fórmula, que conquistou tanta gente no primeiro ano (de fato, muitos se apegaram à série justamente porque a televisão estadunidense dificilmente aposta em formatos tão bem delineados hoje em dia), com a necessidade de inovar? Existe o medo de cansar o público, já nessa segunda temporada, ou isso é preocupação para depois?

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Os três primeiros episódios do novo ano - lançados ontem (9) no Brasil, pelo streaming Universal+ - respondem a essa pergunta prontamente. Lyonne e Rian Johnson (Star Wars: Os Últimos Jedi, Entre Facas e Segredos), seu “parceiro de crime” no roteiro, direção e produção da série, estão agudamente cientes de como Poker Face se encaixa no cenário cultural em que foi produzida, e do ato de equilibrismo delicado que é necessário para ela manter a posição que alcançou nesse cenário. É preciso mostrar ao público que a série não tem medo de ousar, de virar o próprio jogo de cabeça para baixo - que não vai, enfim, manter o status quo da vida de Charlie e cia. só pelo bem da própria longevidade. Também é preciso continuar oferecendo o que o público vem buscar na produção, o prato assinatura de um restaurante que (no grande esquema cósmico das coisas) acabou de abrir.

A forma de navegar esse dilema? Com o pé no acelerador, de acordo com o evangelho de Lyonne e Johnson. A segunda temporada de Poker Face começa com um episódio aptamente intitulado “The Game is a Foot” (O jogo já começou, em bom português, e também um trocadilho esperto com um detalhe específico da trama), oferecendo uma montagem em que Charlie passa por uma dezena de cenários e trabalhos diferentes enquanto continua em fuga da máfia. O lema “mais é mais” segue em voga conforme o capítulo nos introduz não a uma Cynthia Erivo, mas a cinco Cynthia Erivos - gêmeas quíntuplas, uma das quais se torna amiga de trabalho das protagonistas, lutando pela herança milionária da mãe recém-falecida.

Dirigido por Johnson, “The Game is a Foot” nunca pesa no tom da encenação, lembrando ao espectador que, no fundo, Poker Face é uma grande brincadeira. Abusando como nunca das convenções narrativas do filme de detetive (Charlie tem o melhor monólogo final da série até agora, com Lyonne emulando deliciosamente o tom dos Poirots e Columbos que a precederam), o episódio move-se sem muita cerimônia por uma infinidade de reviravoltas e complicações, colocando uma bagatela de piadas nas costas de Erivo, que se multiplica em sotaques bizarros e linguagens corporais inapropriadas de forma que só uma atriz da sua potência poderia comportar dentro de um único episódio de televisão. 

Johnson, enfim, dá o tom. E a partir daí Poker Face só mantém o motor aquecido, enquanto vai nos revelando o que tem na cabeça para o desenho maior da sua narrativa. Em “Last Looks” (2x02), Lyonne assume a direção para exercitar os seus instintos mais iconográficos, aproveitando a ambientação em uma casa funerária para copiar a lição de casa dos filmes de horror e, de quebra, dar a Giancarlo Esposito e Katie Holmes materiais dramáticos mais densos do que os dois costumam receber. Mas esse é também um mistério que pouco exige do “detector de mentiras” de Charlie, o truque assinatura da personagem e da série durante toda a primeira temporada.

“Whack-a-Mole” (3x03) volta a acioná-lo com mais frequência, mas este é também o episódio em que a fórmula da série começa a se desintegrar, ou ao menos a se expandir para novas oportunidades. O capítulo acaba com o vislumbre de um futuro um pouco mais elástico para Poker Face, mas é notável como a série alcançou o limiar desse futuro sem alienar o seu público. Testamento à eloquência de quem a faz, e à solidez dos personagens e conceitos no qual é fundada.

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