Qualquer busca que se faça sobre Aracy de Carvalho vai te levar até a primeira grande afirmação sobre ela: ela foi esposa do escritor Guimarães Rosa, que na época da Segunda Guerra também era vice-cônsul na Alemanha e que, com isso, possibilitou à esposa um cargo no consulado brasileiro no país. Foi de lá que, supostamente, Aracy montou um esquema secreto e começou a emitir passaportes para judeus que queriam fugir do regime nazista. Assim, ganhou o título de heroina, ou, como dizia o título da nova minissérie da Globo até setembro desse ano, “Anjo de Hamburgo”.
Passaporte Para a Liberdade começou a ser produzida antes da pandemia, parou por um ano quando ela começou e recomeçou em seguida. O diretor Jayme Monjardim (conhecido por produções com protagonistas femininas como Olga e Maysa), disse na coletiva de lançamento que essa é a consolidação de sua carreira: “Sempre digo que as histórias procuram seus contadores. Fico feliz de ter sido escolhido para contar histórias femininas tão importantes ao longo da minha carreira. A minissérie estrear nesse mês de dezembro nos faz pensar como é bom mostrar o exemplo de alguém que fez algo pelos outros sem pedir nada em troca”.
Aracy é vivida por Sophie Charlotte; e seu marido, Guimarães Rosa, por Rodrigo Lombardi. O elenco ainda conta com nomes internacionais como Peter Ketnath e Stefan Winert, que compõem a primeira grande parceria da Globo com um estúdio internacional. Razão pela qual a minissérie foi toda falada em inglês e será exibida com dublagem. “No meio do percurso a série passou do português para o inglês, pra possibilitar a parceria com a Sony”, contou Sophie na coletiva. “Foi um desafio, porque uma coisa é falar outra língua, outra coisa é atuar nela”.
Enquanto Sophie afirmou ter devorado tudo que encontrou sobre Aracy, Rodrigo preferiu outra abordagem: “Eu me ative aos fatos. Preferi não me basear em prosódia e nem em material visual. Me ative aos fatos e construí o personagem baseado nisso”.
“O João Guimarães Rosa que conheceu essa guerreira era 'só um cara'. Que, apaixonado por tudo que era apaixonado, chega [depois, ao Brasil] e se torna depois um dos maiores autores de todos os tempos. É impossível acreditar que ele tenha escrito tudo o que escreveu sem se lembrar do que viveu na Segunda Guerra. É de uma riqueza tamanha essa história”, completou ele.
Em meio à empolgação com o resultado final, paira sobre a produção a ameaça de contestação. Em Setembro desse ano vieram à tona evidências históricas de que o consulado brasileiro não interferiu em absolutamente nada e que Aracy nem mesmo teria condições de ceder passaportes para judeus, já que o consulado só emitia vistos. A “bomba” teria resultado na mudança de título, tirando de Aracy a denominação “anjo” e focando apenas na questão burocrática. Embora ninguém envolvido com a minissérie confirme a relação entre o título e a contestação, tudo parece ser uma coincidência grande demais.
O autor Mário Teixeira foi categórico a respeito: “As teorias de que não houve uma heroina são tão questionáveis quanto. Nós temos depoimentos importantes que são muito mais relevantes pra nós. Os atos dela transcenderam o trabalho de funcionária e se transformaram em uma saga humanitária. Espero que, a partir de hoje, Aracy passe a ser conhecida pelo seu próprio nome”. Tanto ele quanto Monjardim negaram qualquer influência que os novos registros pudessem ter no trabalho.
Passaporte Para Liberdade é a primeira produção da Globo em parceria com a Sony Pictures Televison, com criação de Mario Teixeira e escrita por Mario Teixeira e Rachel Anthony, com direção artística de Jayme Monjardim, direção de Seani Soares e produção de Samantha Santos, Mariana Pinheiro e Fabiana Moreno. A produção executiva é de Silvio de Abreu, Monica Albuquerque, Elisabetta Zenatti e Rachel Anthony.
A versão dublada vai ao ar a partir do dia 20, na Globo (com tecla SAP). As versões dublada e legendada também estarão disponíveis no Globoplay.