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Séries e TV

Travessia foi fake news de Glória Perez. O que precisamos é de Terra e Paixão?

Um olhar sobre o final de Travessia e um ato de confiança na chegada de Terra e Paixão

Omelete
7 min de leitura
HH
08.05.2023, às 11H40.
Travessia foi fake news de Glória Perez. O que precisamos é de Terra e Paixão?

Aqueles que não assistiram Travessia em sua totalidade e foram assistir ao último capítulo puderam ter um exemplo unitário do que essa novela foi em sua versão inteira. O último capítulo da trama de Glória Perez foi a síntese exata da produção nos últimos meses: uma novela desconjuntada, desencontrada, sem bases sólidas... a primeira de Glória que é sobre nada, que não foi desenvolvida em torno de conceitos muito bem estabelecidos (um traço às vezes até exagerado da autora). Uma novela vazia. 

E Glória é a autora que está sempre à frente de seu tempo. Em 1990 ela falou de barriga de aluguel quando ninguém sabia o que era isso; depois sobre transplantes; depois sobre ciganos e internet (quando ainda nem se sonhava direito com celulares que tinham câmeras); depois com clonagem humana e com mais uma série de assuntos que muitas vezes não faziam parte do imaginário coletivo. Ela levou para dentro da casa das pessoas possibilidades e discussões originais, tecnológicas ou não, que construíram sua reputação de ousadia e modernidade. 

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Glória já errou antes? Já. A novela De Corpo e Alma não era boa, mas aconteceu numa época em que novela ruim ainda dava mais audiência que todas as boas de hoje em dia. De Corpo e Alma tinha um enredo central enfadonho e se apoiava inteirinha em núcleos paralelos para conseguir funcionar. Era um sucesso, mas audiência nunca foi garantia de qualidade. Mesmo assim, a novela tinha um escopo seguro e Glória jamais perdeu de vista que escopo era esse. Já em Travessia parece que ela fugiu de qualquer chance de enquadrar a história em seus propósitos. 

Talvez tenha sido porque tudo já começou complicado demais. A tal “travessia” do título se referia à viagem de Brisa (Lucy Alves) para o Rio de Janeiro, onde tentaria provar que era inocente das acusações de sequestro geradas pelo photoshop infeliz feito de brincadeira por um adolescente. Mas, a expressão “fake news” saída da voz de Glória reverberava a inevitável polarização política vigente. Ela faria uma novela sobre o assunto que ignorou durante todo o período eleitoral. Como acreditar em suas credenciais?

Piorou tudo quando ela anunciou Jade Picon para um personagem importante na trama. Jade passou meses antes da estreia amargando uma rejeição antecipada. Quando a novela estreou e o público percebeu que ela tinha mais importância para os acontecimentos do que a protagonista oficial, essa rejeição aumentou. Ali já pairava outra fragilidade: por que anunciar Lucy como uma protagonista de representação nordestina se era para ela ficar à sombra de Picon; uma verdadeira instituição cosmopolita e privilegiada? No primeiro capítulo e no último capítulo, quem brilhou foi Chiara, com todo destaque para Jade. Tivemos a primeira protagonista de novela a ter míseras duas cenas durante o período de mais de duas horas de exibição do último capítulo. Mais algumas vieram no último bloco e nenhuma delas nem meramente interessante. 

Ainda no primeiro mês no ar, Travessia já não era mais sobre “fake news”. O fio da meada se perdeu mais rápido que a viagem de Brisa para o Rio. Tratado com o mais absoluto descaso e com quilos de superficialidade, o tópico foi esquecido para dar lugar a uma eterna batalha judicial entre Brisa e o marido Ary (Chay Suede) pela guarda do filho. Vez ou outra alguém lembrava que Brisa quase foi linchada por causa da notícia falsa, mas a história não precisava disso para continuar andando. Ela já tinha se ramificado descontroladamente. 

As questões tecnológicas ficaram pelo caminho também muito rápido. Metaverso, inteligência artificial, avatares... promessas e nada mais. O que sobrou foi um menino viciado em games, um robô garçom e o já conhecido catfish. A foto falsa de Brisa era risível, o trabalho de Otto (Romulo Estrela) como hacker não existia e na grande maioria das vezes tudo era tão frágil que poderia ser resolvido com uma conversa de dois minutos. Na hora de trazer à tona a interessante história da mãe que não tinha o DNA do filho por conta de uma gêmea absorvida no ventre, Glória fez isso refletido numa panela de brigadeiro, na epifania mais bisonha da história da TV. 

Ainda assim, a novela encontrou certo reconhecimento na trama de estupro virtual. Todos os atores envolvidos nesse enredo estavam corretos e ele foi apresentado com o mínimo de coerência. Ainda acho que é problemático que Glória sempre veja pedófilos como homens idosos desavergonhados (quando na verdade a pedofilia não tem sempre aquela estampa de vilão asqueroso e pode estar à espreita numa versão jovem e esterilizada); mas, tudo bem... que nesse caso os fins justifiquem os meios. Giovanna Antonelli – forte justamente nesse plot - também soube fazer a delegada Helô com toneladas de carisma, o que até ajudou Alexandre Nero, que passou a novela inteira sem relevância alguma para coisa alguma. 

E nem foi só a intransigência perversa de Cássia Kis nos bastidores das eleições, mas também a quantidade impressionante de decisões ruins cercando a equipe da novela. A dança de Brisa na chuva depois de saber que o filho estava internado no hospital já fulgura entre os momentos mais constrangedores da televisão brasileira. Constrangedora também era a vilania de meia tigela de Moretti (Rodrigo Lombardi) e a forma como o último capítulo precisou de um vilão estepe coadjuvante para dar conta do mínimo de tensão. 

O conservadorismo político que Glória apoia em suas redes vazava dos discursos pró-vida de Cidália. Mas, ao mesmo tempo, a autora abria de novo as portas de suas produções para apresentação da linguagem drag carioca dos tempos de outrora. É maravilhoso dar espaço para esses artistas na novela, mas esse é só outro exemplo do quanto estavam bloqueados os diálogos sobre tecnologia e homem dentro do âmbito da criação. Glória parou no tempo... esse mesmo que ela constantemente desafia em suas obras. Algumas vezes ganhando, dessa vez perdendo. 

Travessia terminou expondo uma Glória Perez anacrônica. A novela explorou ideias tecnológicas velhas e apenas mencionou ideias novas. A protagonista era coadjuvante; a coadjuvante era protagonista... As promessas eram de grandes surpresas; mas só entregaram cansaço. Brisa deveria ter atravessado para provar a inocência de um engodo... e o engodo era nosso, é claro. E faz até sentido, de uma maneira debochada. Para uma autora que ignorou o legado político das fake news, veio dela mesma a grande mentira criativa. 

É passado. Atravessamos, enfim. 

Terra e Paixão

As apostas estão todas em Walcyr Carrasco. Terra e Paixão chega ao horário nobre nesta segunda, 8 de maio. Com ela, vem a expectativa de recuperar o prestígio do horário nobre, depois de muitos equívocos e poucos acertos. Walcyr é aquele tipo de autor infalível, que escreve didaticamente, sem nenhuma sofisticação e em busca de registros cômicos fáceis. Suas novelas das 21h são sempre um sucesso (Amor à Vida, O Outro Lado do Paraíso, A Dona do Pedaço...) e dessa vez não deve ser diferente. A audiência para ele é o que importa. Nesse quesito, Walcyr nunca falhou. 

A história é clássica, direta; e é assim que ela é descrita pelos envolvidos: 

"Professora de matemática, Aline Machado (Bárbara Reis) vive na fictícia cidade de Nova Primavera, no Mato Grosso do Sul, ao lado do marido Samuel (Ítalo Martins), um pequeno proprietário que luta para manter suas terras, e do filho João (Matheus Assis), um menino forte e corajoso. Após um atentado em sua casa, vê-se sozinha com o menino diante das terras deixadas pelo marido. Forte, batalhadora e corajosa, Aline aprende a plantar e a lidar com as máquinas e com o mercado de agronegócios com a ajuda de Jonatas (Paulo Lessa), primo de Samuel, um amigo fiel nas horas difíceis. Além de contar com ele, tem ao seu lado Jussara Barroso (Tatiana Tiburcio), sua mãe.

Ela apoia a filha, mas teme que suas decisões a prejudiquem. No fundo, deseja que ela venda as terras e volte para a cidade. No entanto, diante da situação que acomete a família, Aline se aproxima dos irmãos Caio (Cauã Reymond) e Daniel (Johnny Massaro), filhos do poderoso fazendeiro Antônio (Tony Ramos), com quem precisa brigar para manter suas terras. Ao lado dos dois rapazes, descobre sentimentos novos."

Entre as tramas paralelas estão o núcleo de Débora Falabella e Tatá Werneck, que viverão irmãs, só que bem diferentes. Débora vive com um marido que a agride e Tatá tem um noivo que não sabe que ela exibe o corpo na internet. Esse núcleo provavelmente será um dos pontos altos da novela, que deve repetir a metodologia walcyrniana de manter a trama central em paralelo quase completo com os outros núcleos. 

Para promover essa chegada, a Globo preparou uma festa grandiosa no Jóquei do Rio de Janeiro, com direito a presença do elenco inteiro e a pocket show de Chitãozinho e Xororó. No player abaixo vocês podem conferir um pouco do que rolou nessa festa, com direito a recadinho da Tatá Werneck; e muito em breve, aqui na coluna, também vai ter texto com as primeiras impressões.  

Vamos de peito aberto, torcendo para dar certo, torcendo para que a gente se divirta e se orgulhe. Que a travessia até aqui foi difícil, todo mundo sabe. Que agora venha, finalmente, a bonança. 

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