Outlander

Créditos da imagem: Starzplay/Divulgação

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Outlander retorna sem brilho em início da 6ª temporada

Arrumação da trama política afasta Claire ainda mais da sua posição de protagonista

Omelete
4 min de leitura
08.03.2022, às 13H58.
Atualizada em 09.03.2022, ÀS 08H25

Dois anos se passaram desde que Outlander encerrou sua quinta temporada; uma temporada que apresentou um novo capítulo para a mitologia da série, tirando os personagens da Europa, cheia de seus mistérios milenares, para levá-los até os EUA, onde o centro das tensões era político e territorial. Claire (Caitriona Balfe), que sempre foi uma personagem com um pé na ciência e outro no místico (nem teria como ser diferente depois do que ela experimentou), vivia em solo europeu um equilíbrio desses fatores. Sua jornada no tempo era uma oportunidade para manter em pauta as grandes diferenças entre esses dois extremos.

A ida para os EUA esvaziou o charme da série, inevitavelmente. É compreensível que o material literário o tenha feito, já que, em teoria, parece irresistível aproveitar as habilidades da família Fraser com o descolamento do tempo, para explorar outras possibilidades. Também era esperado que o desenvolvimento da trama fosse mais adepto de conflitos práticos, de tensões bélicas e ligadas ao longo e sangrento embate entre os colonizadores e os nativos. Por isso, a posição de Jamie (Sam Heughan) como norteador desse enredo é não só inevitável como coerente. A pergunta é: além de inevitável e coerente, também é interessante? 

Foi um começo de temporada apático, pouco envolvente depois de dois longos anos de espera. Com uma hora e vinte de duração, o episódio arrumou a dramaturgia, mexeu as peças, preparou seu terreno... Mas, algo em Outlander parece sem ritmo. É evidente que o apego aos elementos clássicos da série é inevitável, mas as longas cenas entre homens falando sobre guerra e poder nos levam para uma realidade que nem parece mais a mesma que tínhamos em mãos até algumas temporadas atrás. E é uma situação intrigante, já que o amadurecimento da história é necessário, enquanto ao mesmo tempo, ficamos reticentes com relação a se queremos continuar vendo esse crescimento nos levar para longe do que é reconhecível.

A Colônia

“Echoes”, o episódio que iniciou a sexta temporada, já começa com um flashback muito maior do que deveria, que mostra como nasceu a animosidade entre Jamie e Tom (Mark Lewis Jones), durante o período do personagem na prisão de Ardsmuir. O que os roteiristas querem é estabelecer de cara qual será o antagonismo da temporada. A duração do recurso, contudo, é o primeiro fator que contribui para uma sensação de que o ritmo está sendo perdido. Há uma ansiedade grande em apresentar esse conflito, em ajustar os personagens periféricos no centro dos acontecimentos, mas a sensação é de que com isso, Outlander se afasta mais e mais de sua gênese.

Se na quinta temporada os acontecimentos envolvendo Claire já pareciam descolados demais da narrativa central, na premiere desse ano a protagonista parece ter sofrido um abuso apenas para que tivesse escopo dramático. De fato, embora haja impacto emocional no arco da família como um todo, a violência sofrida por Claire pareceu gratuita, como se fosse um recurso salvador para que a personagem honrasse sua função de protagonista. Costuma acontecer com produções longas dar traumas a personagens para evitar cair totalmente na zona de conforto. O fato de estarmos falando sobre uma obra baseada em literatura não muda essa avaliação.

Caitriona Balfe, como sempre, se dedica aos males constantes da vida de Claire com a mesma força. Nessa estreia, a saída que a personagem encontrou para tentar lidar com tudo que lhe aconteceu foi usar os próprios conhecimentos para encontrar alívio, ainda que quimicamente. É a sinalização de problemas maiores, mas que ainda não a reaproximam de seu lugar. Ainda que os produtores da série estejam apenas assentando o terreno onde a batalha vai acontecer, essa apatia do retorno – depois de tanto tempo – potencializa detalhes que talvez, num outro momento, tivessem passado despercebidos.

A chegada da família Christie ao solo onde se estabeleceu a família Fraser trouxe muitas possibilidades, mas que precisam de tempo. A ideia de fazer Jamie ser obrigado a chicotear alguém foi um passo, mas sem o impacto esperado. A mudança em Fergus (Cesar Domboy) – para os fãs da série – soou abrupta e isso sem falar em Brianna (Sophie Skelton) e Roger (Richard Rankin) praticamente ausentes. O grande twist foi a concordância de Jamie em ser um agente indígena, o que tem potencial, mas não é realmente surpreendente. Foi uma premiere fria, verborrágica e muito pouco emocional. Pode ser que alguns episódios para frente resolvam isso, mas depois de dois anos de espera foi difícil não se entregar à frustração.

Outlander tem condições de manter a responsabilidade histórica ao abordar as tensões estadunidenses, mas sem perder o lúdico que a tornou especial. A série não é bacana só porque faz pessoas voltarem ao passado; mas porque nunca deixou que o passado se entranhasse nas pessoas. Se eles se ajustarem demais não há mais estranheza... Eles não serão mais coerentes nem com o título da produção.

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