Sim, você já viu isso antes: uma trama norte-americana de espionagem ambientada em um cenário de conflito no Oriente Médio, com muitos tiros e bombas - e os Estados Unidos, claro, como os guardiões da liberdade e da paz mundial. Operação: Lioness, nova série do Paramount+, que estreia neste domingo (23), não tem a pretensão de inovar no gênero e aposta nas escolhas mais seguras para capturar a atenção dos fãs de histórias de ação, com sequências explosivas (literalmente) já em seus primeiros minutos e um elenco recheado de estrelas, como Zoe Saldaña, Nicole Kidman e Morgan Freeman.
Mas o que promete sustentar de verdade a atração criada por Tony Sheridan são duas personagens bem delineadas e muito bem defendidas por suas atrizes. De um lado está Joe (Saldaña), líder do programa Lioness (leoa, em português) e responsável por comandar perigosas operações secretas com agentes infiltradas no círculo próximo de seus alvos, no papel de amigas de suas namoradas, esposas e filhas.
Quando algo dá errado (e isso não demora a acontecer), ela toma as decisões difíceis que precisam ser tomadas e faz tudo que está ao seu alcance para não desmoronar diante da própria família ou de uma cobrança mais dura de seus superiores, como mostra a tensa reunião com Kaitlyn Meade (Kidman) e Donald Westfield (Michael Kelly) no quartel-general da CIA.
Até aqui, Joe seria apenas mais uma patriota competente e extremamente dedicada ao trabalho, como tantas outras figuras idealizadas pelo imaginário militar estadunidense na TV e no cinema. É no encontro conflituoso com Cruz (Laysla de Oliveira), entretanto, que ela cresce: sua culpa por erros passados e a necessidade de seguir em frente entram em combustão diante da postura combativa e um tanto agressiva da nova lioness.
Cruz é uma vítima de violência doméstica que conseguiu reconstruir sua vida como fuzileira naval e que logo se destacou de seus companheiros por seu empenho e seus excelentes resultados durante o treinamento. Ela encara os novos desafios com a mesma coragem com que enfrentou seu agressor e não pensa duas vezes antes de questionar sua superior sobre o que julga importante. A típica trama do novato entrando em um grupo já estabelecido ganha força com essa dinâmica, especialmente porque Laysla joga de igual para igual com Zoe em cena e empresta muita personalidade à personagem.
De modo geral, o enxuto episódio piloto cumpre bem o papel de apresentar as suas principais peças, contextualiza as motivações de suas protagonistas, deixa claro quais são os riscos da operação em curso e dá um gostinho do que está por vir ao longo da temporada, com uma breve demonstração das habilidades de Cruz em campo. Ao mesmo tempo em que satisfaz quem se contenta com o básico das tramas de espionagem, Operação: Lioness deixa no ar potencial para agradar quem busca algo além do mais do mesmo.