Arte de divulgação de O Misterioso Caso de Styles (Reprodução)

Créditos da imagem: Arte de divulgação de O Misterioso Caso de Styles (Reprodução)

Séries e TV

Entrevista

Fazer Poirot em áudio foi como “voltar às radionovelas”, diz Marco Ricca

Ricca e Thomás Aquino falam ao Omelete sobre O Misterioso Caso de Styles, da Audible

Omelete
9 min de leitura
31.05.2025, às 19H03.

Marco Ricca entrou para um time de elite ao aceitar interpretar o detetive Hercule Poirot em O Misterioso Caso de Styles, original Audible que adapta o primeiríssimo livro da rainha do mistério Agatha Christie. O ator brasileiro se junta, aqui, a uma tradição que inclui David Suchet (o mais famoso Poirot da TV), Albert Finney (protagonista de Assassinato no Expresso do Oriente, em 1974), Kenneth Branagh (atual intérprete de Poirot, em três filmes dirigidos por ele próprio), John Malkovich (que viveu o detetive em The ABC Murders, minissérie da BBC) e até Peter Dinklage, que foi recrutado pela Audible ano passado para fazer a versão em inglês de Styles.

A diferença, é claro, é que a natureza do projeto significa que Ricca (como Dinklage) precisa trabalhar somente com a voz - os bigodes engomadinhos de Poirot ficam só na imaginação do ouvinte, e nas fotos promocionais do projeto. “Eu acho que isso remete à radionovela, né? Os primórdios da nossa dramaturgia”, comenta ele em entrevista ao Omelete. “Fazer uma adaptação assim é muito bom, mas também muito difícil. Nós temos uma tradução boa demais do livro, então nosso trabalho é tentar encaixar o visual que temos na cabeça, do personagem, em voz. Eu nunca tinha feito um sotaque francês, e o convite pra esse projeto veio meio em cima da hora, então eu fiz meio no susto. Foi interessante”.

O resultado já pode ser ouvido em O Misterioso Caso de Styles, disponível na Audible. A seguir, confira a entrevista completa de Ricca e Thomás Aquino (que vive o Capitão Hastings na produção) para o Omelete.

OMELETE: Oi Marco, oi Thomás! Muito prazer, sou o Caio.

RICCA: Oi, Caio, muito prazer!

AQUINO: Olá!

OMELETE: Queria começar perguntando pra vocês sobre as histórias de detetive - parece que a popularidade delas, e especialmente dos livros da Agatha Christie, é perene. Por que vocês acham que isso acontece, que esse tipo de trama instiga tanto as pessoas?

RICCA: Eu acho que o suspense é eterno, e ainda mais tratando um clássico como esse. Se não me engano, [O Misterioso Caso de Styles] foi o primeiro livro dela dela, né? E eu acho que por isso todo mundo tem uma certa curiosidade. Eu não li toda a obra da Agatha Christie, mas quando mais jovem - eu ainda sou muito jovem [risos] - li algumas coisas. Esse, em particular, eu não tinha chegado a começar, o que foi muito legal também, porque pude descobrir e redescobrir muita coisa. Mas é isso, o suspense tem aquilo de nos deixar, literalmente, em suspenso, e isso é uma provocação muito interessante para se fazer com o público. Acho que por isso é que as histórias de detetive resistem ao tempo.

AQUINO: Eu gosto muito desse gênero - eu como espectador, né? Acho que instiga a gente a nossa curiosidade, a nossa mentalidade também. Fico tentando descobrir o caso junto com o detetive, formando opinião. "Ah, foi fulano! Ah não, foi sicrano! Ah não, aconteceu desse jeito aqui"... acho que isso motiva o espectador a ir atrás do seu próprio faro de detetive. Eu tento ser o Poirot, já que a gente está falando de Agatha Christie. E quando eu estava lendo esse livro [O Misterioso Caso de Styles], eu passei por vários momentos em que pensava que o culpado era uma pessoa, só para ser contrariado. Daí pensei: “Caramba, não vou opinar mais em nada, vou só terminar de ler a obra aqui" [risos].

OMELETE: Legal! Eu achei muito curioso que, no ano passado, rolou essa mesma adaptação lá na Audible, mas em inglês. Com o Peter Dinklage como Poirot, e o Himesh Patel como Hastings. Vocês chegaram a ouvir esse trabalho? Foi uma inspiração para vocês, ou se teve aquela coisa de não querer ouvir para seguir um caminho próprio?

RICCA: Na verdade, eu ouvi porque foi a deixa que eu tinha - a referência era a versão em inglês. Eu e o Thomás, por exemplo, não conseguimos contracenar, cada um gravou em um lugar diferente. Então eu ouvi a versão em inglês, que achei sensacional, maravilhosa mesmo - mas é um ritmo totalmente diferente.

AQUINO: Sim, concordo! Muito diferente o ritmo das línguas.

RICCA: Então, de certa forma, a gente foi tentando nos encaixar no ritmo deles. É um trabalho muito interessante nesse sentido, mas as interpretações da versão em inglês não foram uma interferência. A gente, como ator, está preocupado em trazer algum pedaço desse personagem, e não entrar no caminho de uma obra tão incrível.

AQUINO: Sim, é uma responsabilidade. Comigo foi exatamente do jeito que o Marco descreveu - eu não cheguei a escutar a versão em inglês em casa, mas ali na gravação era ela que a gente tinha de referência. A gente tinha o roteirinho com o que tínhamos que falar, ouvíamos a versão em inglês, e o Mauro [Ramos], que aliás é um grande dublador nacional, nos dirigia com muita paciência para encaixar o português ali. Era muito interessante para mim como o ritmo mudava na tradução abrasileirada, como rolava uma dessincronia ali, uma diferença de dois segundos, dois segundos e meio. Daí a gente fazia de novo e se adaptava ao espaço que tínhamos. Fiquei encantado com o processo, já quero fazer o próximo. [Risos]

OMELETE: Marco, em outra entrevista eu vi você falando do sotaque francês do Poirot, e da coisa de se encontrar como ator nesse novo formato da Audible. Então, queria ouvir de vocês dois: como é para o ator essa experiência de trabalhar só no audio? É um novo fluxo de trabalho? O que vocês precisam adaptar no processo?

Marco Ricca na série Senna (Reprodução)
Marco Ricca na série Senna (Reprodução)

RICCA: Eu acho que isso remete à radionovela, né? Os primórdios da nossa dramaturgia. Há muitos anos atrás, talvez uns 20 anos, eles tentaram relançar esse formato em algumas produções, num estúdio em São Paulo. Acabou que eles me chamaram para isso, e a gente teve um curso rápido de como é a radionovela - só para poder entender o que significava aquilo, como a sonoplastia seria feita ao vivo. São coisas que a gente vê em filmes de época, em fotografias… é uma coisa muito interessante. Eu acho que o teatro molda o ator um pouco para isso também, porque a gente fica com o texto lá, plantado no palco, e muitas vezes o texto fala mais do que a gente. Eu tenho muita devoção ao texto, já fiz clássicos, me adestrei a deixar o texto em primeiro plano. Então, fazer uma adaptação assim é muito bom, mas também muito difícil. Nós temos uma tradução boa demais do livro, então nosso trabalho é tentar encaixar esse visual que temos na cabeça, do personagem, em voz. Eu nunca tinha feito o sotaque francês, e o convite pra esse projeto veio meio em cima da hora, então eu fiz meio no susto. Foi um trabalho interessante.

AQUINO: É legal ouvir o Marco falar disso, porque nós somos de gerações um pouco diferentes, então eu não tinha nenhuma referência de radionovela. O mais próximo disso que eu cheguei foi um trabalho de rádio para a faculdade de jornalismo que eu fiz! E eu também vim do teatro, estou acostumado a interpretar para um espectador que me vê, mas na minha trupe a gente gravava também audiodescrição das peças - o que era muito legal, porque fazíamos basicamente uma radiopeça para alguns espectadores, eu tinha que interpretar só com a voz. 

Mas esse trabalho [O Misterioso Caso de Styles] para mim foi muito interessante porque tem a coisa de ser ambientado no começo do século XX, um clima totalmente diferente daquele que eu conheço. E foi meio que no susto para mim também, mas às vezes a gente funciona até melhor no susto. [Risos]

OMELETE: Por fim, eu queria falar com vocês sobre cinema brasileiro, porque vocês dois são atores muito presentes nos nossos filmes - e a gente está vivendo agora um momento super emblemático nessa mídia. Da perspectiva de dentro da indústria, como está sendo esse momento? E qual é a perspectiva daqui para frente?

RICCA: Thomás, você está no filme do Kleber [Mendonça Filho], né?

AQUINO: Estou, no O Agente Secreto [que venceu dois prêmios no Festival de Cannes 2025].

RICCA: Que delícia!

AQUINO: Antes de qualquer coisa, eu quero dizer que estou muito feliz pelo cinema brasileiro, porque nós tivemos muitos problemas de uns tempos para cá, por uma questão política que vivenciamos. É importante que agora a gente veja as portas se abrindo novamente, que a gente tenha filmes como Ainda Estou Aqui ganhando o Globo de Ouro e o Oscar, O Último Azul no Festival de Berlim, e O Agente Secreto em Cannes.

Eu acho que, embora nesses prêmios venha escrito Wagner Moura, Fernanda Torres, Kléber Mendonça Filho, o prêmio na verdade é nosso, porque dá uma visibilidade maior para o nosso país em relação à arte. Esses prêmios são importantes para que a gente possa criar mais e mais, seja em filmes, séries, audiolivros… tudo é um fomento [para a nossa cultura]. Eu me sinto honrado de estar fazendo parte desse momento de crescente, seja num filme que foi para Cannes, ou numa novela também, numa série. 

A arte tem que reinar sempre, ela é importante para a gente, para nos transformar, criar diálogos, nos formalizar como cidadãos. Então estou sim muito feliz de estar participando disso, muito honrado de estar presenciando isso.

RICCA: É um momento muito legal, até porque de alguma forma é uma resposta para quem tentou acabar conosco, um pessoal que tinha muita raiva da cultura nacional. E é interessante porque essa é a segunda vez que eu participo de uma retomada [do cinema brasileiro], a primeira foi logo depois do governo [Fernando] Collor [De Mello], em que ele derrubou todas as nossas possibilidades, e agora foi o mesmo com esse cidadão aí [o ex-presidente Jair Bolsonaro] e sua corja, que tinham muita vontade de acabar com tudo, destruir a nossa cultura - e eles conseguiram, de certa maneira.

Thomás Aquino (Reprodução)
Thomás Aquino (Reprodução)

Então, mesmo com toda a boa vontade que esse novo governo [de Luís Inácio Lula da Silva] tem, demorou um pouco para as coisas começarem a acontecer de novo, houve uma estagnação no início. Destruir é fácil, construir é difícil. Para mim é muito lindo poder ver outra retomada, filmes pipocando de toda a parte, explorações de gêneros diferentes, coisas de muita qualidade. Eu me sinto um pouco militante do cinema nacional, sinto que faço cinema para fomentar o cinema. Acho muito louvável.

Ainda não tive a oportunidade de ver O Agente Secreto, mas o filme do Walter [Salles, diretor de Ainda Estou Aqui] é maravilhoso, e de alguma forma é interessante que os dois se passam meio que na mesma época [da ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985]…

AQUINO: Sim, é um tema muito necessário, algo que a gente tem que falar. Tem muita gente que ainda acha que a ditadura foi uma utopia, então precisamos falar disso. São histórias verídicas, fatos históricos resgatados ali para dialogar, escutar, rever.

OMELETE: Gente, muito obrigado, viu? Parabéns pelo projeto!

RICCO: Valeu, Caio! Muito obrigado, foi um prazer conversar contigo.

AQUINO: Prazer, Caio!

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