Considerando que a conclusão será feita em um especial de duas horas, Mr. Robot entregou seu penúltimo episódio - e as coisas ficaram bastante estranhas.
[Cuidado! Spoilers do S04E11 de Mr. Robot abaixo]
“411 eXit” acompanha Elliot (Rami Malek) aplicando um xeque-mate contra Whiterose (BD Wong). A hacker chinesa chegou em um ponto baixo após ter sua identidade exposta ao público e seu dinheiro roubado pela fsociety, mas sua vantagem continua graças à uma máquina ambiciosa, que acredita ser capaz de abrir uma realidade paralela. A verdade é mais aterrorizante: caso seja ligada, seu reator nuclear causará uma catástrofe na cidade de Nova York. O protagonista acredita que é algo facilmente evitável com um malware que incapacita a ativação, e parte sozinho para a usina elétrica em que o dispositivo está escondido. Não demora muito para ficar claro o quão arrogante e impulsiva foi a decisão.
Quando Elliot, enfim, é capturado pelo Dark Army ele é colocado para enfrentar a líder. Os dois, sentados frente-a-frente, entregam alguns dos melhores monólogos do seriado. O destaque fica para a atuação de BD Wong, que passa sutil insanidade na sua descrença nas motivações do oponente. O roteiro compensa para o lado de Elliot, com um discurso que amarra muito bem toda sua jornada emocional ao longo dos anos: quase como o fim de Neon Genesis Evangelion, o protagonista reflete como todos aqueles em quem confiou lhe trouxeram trauma, dor e mágoa, mas que os poucos que ofereceram genuíno carinho e apoio são motivo o bastante para lutar por um mundo melhor. É interessante como toda temporada é pontuada por um monólogo do tipo. Do momento em que falou “foda-se a sociedade” para sua terapeuta, ou expressou sua desesperança, até quando se arrependeu das consequências de sua tentativa de revolução na penúltima temporada, é uma boa forma de comparar e marcar a constante mudança do personagem.
Whiterose mantém a esperança na sua máquina, e revela que a ativou antes mesmo do hacker tentar seu plano de malware, o que significa apenas alguns minutos para a catástrofe. A crença é tão forte que leva a líder inimiga ao suicídio, confiante de que acordará em outra realidade. Para Elliot, porém, o pânico toma conta, e ele e Mr. Robot (Christian Slater) buscam uma forma de impedir a destruição total - mas já é tarde demais. O momento em que ambos percebem a inevitabilidade do fim é trágico, ainda mais na última fala do protagonista ao amigo imaginário ser “são tempos emocionantes no mundo” - a mesma frase que Mr. Robot usou para se apresentar no piloto. A partir daí, tudo fica… bizarro.
Ao invés da morte nos escombros, Elliot acorda em seu apartamento. Rapidamente fica claro que esta não é a vida miserável que sempre levou, mas sim sua versão ideal, com trabalho promissor, relacionamento sério com Angela (Portia Doubleday) e bom entendimento com o pai. O único resquício da sua vida anterior vêm na forma de ocasionais dores de cabeça, alertas de que algo está errado. Esse trecho é interessante pelo contraste com o que o público conhece, como Tyrell Wellick (Martin Wallstrom) retornar não como um homem de negócios, mas um CEO casual a lá Vale do Silício - uma inversão de papéis com o protagonista. A série não explica muito o que realmente aconteceu. A realidade paralela de Whiterose era real? Elliot continua vivo, ou a experiência toda é alguma forma de pós-vida?
Mr. Robot não deve fugir tanto do seu realismo sombrio, mas esse lado estranho deve render momentos inusitados no finale de duas horas. De certa forma, o seriado já respondeu muitas das questões do público, e entregou conclusões satisfatórias para grande parte de seus personagens. Agora resta tempo para focar no protagonista, mesmo que de um jeito bastante surreal.
Não há previsão de estreia para a quarta temporada de Mr. Robot no Brasil. As três temporadas anteriores estão disponíveis no catálogo do Amazon Prime Video.