Meu Amigo Bussunda começa com homenagem e resgate da trajetória do humorista

Créditos da imagem: Rede Globo/Reprodução

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Meu Amigo Bussunda começa com homenagem e resgate da trajetória do humorista

Série documental do Globoplay dá pontapé inicial em mergulho leve no homem antes da fama

17.06.2021, às 17H11.
Atualizada em 17.06.2021, ÀS 17H37

A série documental Meu Amigo Bussunda resume seus principais temas já na primeira cena, um trecho do esquete de 2003 em que o Casseta & Planeta fazia graça com manchetes falsas que noticiavam a morte do humorista. Bussunda aparece desmaiado, enquanto os demais cassetas tentam fingir que seu corpo ainda tem vida, refutando as notícias. Só quando é acusado de ser vascaíno é que o "morto" ressuscita, em um rompante de revolta e risos. É uma cena que traz o humor irreverente e às vezes inconsequente que marcou a carreira de Bussunda, seu carisma inegável, a amizade e parceria com os colegas de ofício, a falta de polidez e do politicamente correto que viriam a ser reavaliadas nos anos mais recentes (há o uso do termo homofóbico "boiola" como piada) e, claro, uma coincidente referência à prematura morte de um dos maiores comediantes da história do Brasil.

Não há mistério a ser revelado sobre a morte de Bussunda. Cláudio Besserman Vianna nos deixou há exatos 15 anos, vítima de uma parada cardíaca sofrida oito dias antes de seu aniversário. Ele cobria, junto a colegas do Casseta & Planeta, a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, e encantava com sua imitação impagável do atacante da seleção brasileira Ronaldo, o Fenômeno. O que a produção, já disponível na íntegra no Globoplay, busca revelar é mais a pessoa por trás do ícone, homenageando e resgatando a memória de um homem que nunca foi o mais bonito, nem o mais eloquente, sequer o mais talentoso, mas mesmo assim se tornou um dos artistas mais amados do Brasil, despertando carinho e admiração fortes o bastante para que sua ausência deixasse um vácuo de saudade em gerações que o acompanharam pela TV.

Estruturada em quatro capítulos com durações que variam entre 40 minutos e 1h, todos posicionados em ordem cronológica, a série remonta a trajetória de vida de Bussunda desde o seu nascimento, em 1962, até os dias atuais, com o impacto e legado do humorista sendo repercutido por admiradores, amigos e familiares. Por três dos quatro episódios, o fio condutor é o colega de Casseta & Planeta e amigo de infância Claudio Manoel, que passa o bastão à filha do humorista, Julia Besserman, no capítulo final.

"Fama de Famoso", o primeiro episódio da série, é o pontapé nessa jornada, concentrando a maior parte dos depoimentos de irmãos, amigas e amigos de infância de Bussunda. É um making of do ícone que o Brasil inteiro viria a conhecer pela tela da Rede Globo, mergulhando na infância e adolescência peculiares, misturando sionismo, comunismo, jornalismo e muita falta de vontade de estudar, para resgatar histórias pessoais divertidas, que ajudam a entender melhor o magnetismo que sempre fez parte dele.

Narrado em primeira pessoa por Claudio Manoel (que divide a direção do episódio com Micael Langer), o capítulo convida você a entrar em diversas conversas de velhos amigos, construindo um tom intimista de papo em mesa de bar e dando sentido ao título da produção. O próprio Bussunda também aparece, em trechos de entrevistas concedidas nos anos 1990 à Bruna Lombardi e Ziraldo, aumentando a sensação de mergulho na pessoa por trás da fama.

O maior acerto desse começo, portanto, é logo de cara dispensar qualquer baixo-astral e tristeza acerca da ausência de Bussunda. É um resgate das memórias mais leves e descompromissadas de um cara que, para muitos, não daria em nada na vida (seus irmãos, Sérgio Besserman Vianna e Marcos Besserman Vianna são economista e médico de sucesso, respectivamente), mas encontrou no fazer rir uma forma de "continuar indo à praia", como ele mesmo afirma em um trecho de entrevista resgatado pela série. Tanto encontrou que arranca risadas até hoje; seja por meio de gravações feitas na época da Casseta Popular ou por causos relembrados na voz de amigos. As explicações conflitantes por trás do apelido Bussunda e uma história envolvendo cocaína e um porta-retratos da mãe dele, a conceituada psicanalista Helena Besserman Viana, são puro entretenimento. Ponto também para a montagem dinâmica do episódio, repleta de fotos históricas e grafismos que ilustram os relatos de maneira divertida.

“Fama de Famoso” traz ainda a história embrionária do que viria a ser o Casseta & Planeta, com depoimentos de Beto Silva, Helio de la Peña, Marcelo Madureira, Hubert e Reinaldo Figueiredo, além das interações com Claudio Manoel e diversas imagens de arquivo de Bussunda. Do início da Casseta Popular como jornal universitário ao sucesso como revista, passando pela breve rivalidade e depois longa parceria com o jornal Planeta Diário, até o desemboque na contratação de praticamente toda a trupe pela Rede Globo, o episódio deixa um gancho e tanto para a exploração do sucesso nos bastidores do revolucionário humorístico TV Pirata, no capítulo seguinte.

Esse primeiro episódio, portanto, já é por si só obrigatório não só aos fãs de Bussunda, mas aos entusiastas da cultura pop brasileira, em geral. Produções biográficas que não têm um grande mistério ou reviravolta a serem revelados, pensadas puramente como homenagem, correm sempre o risco de caírem na auto-indulgência, se tornando tediosas. Embora, em alguns momentos, a abertura de Meu Amigo Bussunda flerte com essa essa possibilidade, ela nunca se consolida. Porque logo reaparece em tela Cláudio Besserman Vianna, e ele continua tão carismático, magnético e engraçado quanto há uma década e meia.

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