Séries e TV

Entrevista

Diretores de Marvel 616 falam sobre o efeito da editora na cultura pop

Alison Brie, Paul Scheer e Gillian Jacobs exploraram diferentes frentes da Casa das Ideias em episódios da série do Disney+

Omelete
5 min de leitura
01.02.2021, às 14H03.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 10H04

Dizer que a Marvel já não pode mais ser resumida apenas pelos gibis que lança não é novidade para ninguém. Há 80 no mercado de quadrinhos, o selo se expandiu para todas as mídias possíveis e imagináveis da cultura pop e, embora as HQs sigam sendo a fonte primária de criação de personagens, elas agora dividem o posto de “porta de entrada” do público com filmes e séries, com o MCU (Universo Cinematográfico Marvel) tendo se tornado instrumental na criação de uma nova geração de fãs.

Ainda assim, essas mídias não necessariamente se conectam com a mesma facilidade a todas as pessoas. Sabendo disso – e do apelo de suas histórias e personagens -, a Marvel passou suas oito décadas de existência se expandindo para o maior número possível de campos do entretenimento, chegando aos palcos, discos, rádios e, obviamente, produtos licenciados. As inúmeras formas que a editora encontrou de atrair novos fãs foram exploradas em Marvel 616, nova série documental do Disney+ que aborda desde histórias peculiares, como o acordo que deu vida à famosa série japonesa do Homem-Aranha, até bastidores da própria editora, como a ascensão de roteiristas e personagens mulheres no selo.

“Há tantas joias escondidas nos oitenta anos do Universo Marvel que eu meio que descrevo como o final de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, sabe?”, afirma Paul Scheer, diretor do episódio “Lost And Found”, lembrando do gigantesco depósito em que a Arca da Aliança é escondida na cena final do longa de 1981. Focado em personagens e propriedades esquecidas há anos por leitores e roteiristas, o capítulo dirigido pelo comediante passa por vilões que usam letras gigantes como armas, animais armados e vacas demoníacas. “Existem essas verdadeiras joias escondidas – e algumas que talvez deveriam permanecer esquecidas – mas eu adorei conhecer tudo isso, porque cada um desses personagens deixou uma marca no leitor.”

Sarah Amos, uma das produtoras de Marvel 616, diz entender que o público da Marvel cresce a cada dia, mas que os fãs antigos não podem ser esquecidos. “Essa expansão para conteúdo de não ficção mostra o quanto a Marvel realmente afetou a vida das pessoas.” Citando também o Marvel’s Hero Project, outra série de documentários que produziu, Amos afirma que o objetivo das produções de não ficção sobre a editora é dialogar com o público e mostrar aos fãs que “nós estamos ouvindo. Eles são parte do nosso mundo e nós somos parte do deles”.

“Existem várias maneiras de interagir com o Universo Marvel e espero que as pessoas vejam isso como algo novo e como uma nova porta de entrada”, disse Jason Sterman, que também produz a série. “Pessoas que acham que gibis não são para elas ou que não tenham interesse em particular nos filmes da Marvel. O interessante é que descobrimos e destacamos muito da história, muitos exemplos de pessoas interagindo com o significado da Marvel. Sinto que temos algo para todo mundo.”

Conhecida por seus papéis em Community e Love, Gillian Jacobs tinha pouco contato com os gibis da Marvel antes de dirigir o episódio “Higher, Further, Faster”, sobre o aumento do número de mulheres entre as heroínas e roteiristas da editora. “O primeiro documentário que eu fiz com o Dan [Silver] [The Queen of Code, de 2015] foi sobre uma engenheira de computação chamada Grace Hopper. Eu não sabia nada sobre computadores e absolutamente nada sobre computação dos anos 1940 e 1950; então, para mim foi parecido no sentido de ter interesse e curiosidade e não sabia muito sobre o assunto”, disse a cineasta, que foi classificada por Sterman como uma “nova especialista” nas HQs da editora por causa da extensa pesquisa que fez para o episódio.

Com trajetória similar, Alison Brie – que coincidentemente também atuou em Community – conhecia muito pouco sobre a Casa das Ideias, embora soubesse do tamanho da marca no mercado de HQs e em Hollywood. “Eu fiquei muito curiosa para ver como a Marvel existiria nesse espaço e como os alunos de teatro de hoje são diferentes dos da minha época, e eu me surpreendi ao descobrir que eles são muito parecidos, as lições que esses alunos aprendem com esses personagens e com essas interpretações são bem universais, então, para mim foi muito sobre conexão pessoal”, contou a ex-protagonista de GLOW.

Em mais uma coincidência, as atrizes e diretoras também acabaram cruzando o caminho de uma das personagens mais populares e importantes do selo nos últimos anos: Kamala Khan, a Magnífica Ms. Marvel. “Quando somos adolescentes e estamos crescendo, usamos como exemplo o que vemos na nossa frente, e quando todo mundo que você vê é diferente de você, pode acabar não percebendo do que você é capaz. Acho que [representatividade] é muito importante e a popularidade da Kamala Khan abre muitas portas para representatividade, e espero que vejamos mais diversidade nos personagens”, disse Brie, que viu de perto jovens se identificando e crescendo ao poderem se envolver não só com a heroína, mas com personagens como Garota-Esquilo, MODOK e Doutor Destino.

Muita história para contar

Obviamente, explorar mais de 80 anos em apenas uma temporada de série documental é uma tarefa quase impossível. Por isso, muito do que Brie, Jacobs e Scheer tentaram cobrir em seus episódios acabou ficando de fora. “Têm mulheres com quem eu queria falar para o meu episódio, mas que as agendas não bateram, então mesmo com a pesquisa que eu fiz para o episódio tem mais histórias e mulheres que eu gostaria de levar para a série”, afirmou Jacobs ao ser questionada o que gostaria de trazer em uma possível segunda temporada.

Concordando com a colega, Brie disse que ela e sua equipe têm “material o bastante para fazer mais um episódio inteiro sobre outra trupe de teatro de colegial apresentando aquelas mesma peças. Porque todos os alunos eram tão interessante e tinham tantas coisas acontecendo que muito foi cortado”.

Para Amos, a Marvel é uma “fonte inesgotável de criatividade, paixão e esquisitice, e eu adoraria explorar outras maneiras de contar essas histórias em Marvel 616”. O leque gigantesco de personagens, situações e histórias retratadas pela editora, aliás, tem dado espaço para a criação de mais produções documentais, que devem ser anunciadas em breve. “Nós estamos desenvolvendo muitas outras séries de não ficção e séries digitais, uma que aliás tem o Paul, que nos permite explorar os vários ângulos e alegrias da Marvel em todos esses 80 incríveis anos”.

“Quanto mais exploramos, mais descobrimos que existem diferentes maneiras de as pessoas absorverem as histórias, a nostalgia ou a maneira como elas refletem sobre si mesmas nessas leituras. Então, acho que existem infinitas possibilidades de contar histórias como essas”, concluiu Sterman.

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