Lembra Desse? Vila Sésamo
30 anos depois, série volta à TV brasileira - e com personagem nacional
Responda rápido: qual era a fruta favorita do Garibaldo?
Se você respondeu "abacaxi", faz parte da legião de crianças que cresceu cantarolando "Quantos anos você tem? Eu tenho cinco e você também" e outras músicas da Vila Sésamo, versão brasileira da série Sesame Street exibida aqui nos anos 70.
Sesame Street estreou nos Estados Unidos em 10 de novembro de 1969 na National Educational Television, mais tarde substituída pelo Public Broadcasting Service, mais conhecida pela sigla PBS.
Considerado o programa infantil mais importante da história da TV estadunidense, Sesame Street foi desenvolvido por Joan Ganz Cooney, diretora executiva da Childrens Television Workshop e Ralph Rogers. A empresa foi criada em 1967 para produzir a série com o apoio financeiro do United States Office of Education, a Fundação Ford e a Carnegie Corporation. O foco principal do programa era o público infantil dos bairros pobres das grandes cidades, daí a escolha do cenário, uma rua numa vizinhança fictícia de Nova York, habitada por pessoas de diferentes origens. A inspiração para as construções veio de Brooklyn Heights, onde vários dos produtores moravam na época. Misturando animação, marionetes, músicas e atuação, o programa visava ensinar letras, números e conceitos gramaticais por meio do entretenimento, um conceito novo e revolucionário na época da estréia.
Para atrair os pais e irmãos mais velhos no público, o programa sempre abusou do bom humor e das referências a pessoas e personagens. Ao longo dos anos, enquanto os pequenos aprendiam a contar e a reconhecer as letras e conceitos como "perto" e "longe" - lembra do boneco andando até o fundo do cenário e dizendo "agora estou lá" e voltando para perto da tela dizendo "agora estou aqui"? -, os adultos se divertiram com Sherlock Hemlock (Sherlock Holmes), Flo Bear (Flaubert) e, recentemente, Jack Bauer. Alguns quadros também miram essa audiência colateral, como "Me, Claudius", exibido no Monsterpiece Theatre, uma gozação com "I, Claudius", exibido no Masterpiece Theatre da PBS. A fórmula continua dando certo até hoje. A série acumula a marca impressionante de 109 prêmios Emmy e mais de 4 mil episódios e estima-se que 75 milhões de pessoas nos EUA assistiram Vila Sésamo quando crianças. Apesar do sucesso, o programa enfrenta sua cota de crítica de educadores que acham que a curta duração dos quadros piora a capacidade de atenção das crianças, e que o programa apenas faz com que os pequenos decorem letras e números sem de fato conhecerem seu significado. O programa também enfrentou o tradicional preconceito de partes dos Estados Unidos ao mostrar pessoas de diversas raças convivendo pacificamente, sendo inicialmente recusado pelos canais públicos do Mississipi.
Não conheço você de algum lugar?
Se você passou no primeiro teste, então está preparado para um nível mais alto. Responda ainda mais rápido: qual o parentesco entre Ênio e Yoda?
Entre as pessoas convidadas por Joan Ganz Cooney em 1969 para participar da produção do novo programa estava o manipulador de marionetes Jim Henson, conhecido por seu trabalho em publicidade e curtas, entre eles Time Piece, indicado ao Oscar em 1966. Junto com sua equipe da Muppets, Inc. Henson trouxe seu amigo Frank Oz, anos mais tarde responsável pela voz e movimentos de Yoda, antes que o mestre Jedi fosse assimilado pela tecnologia digital. Durante anos, Henson e Oz deram vida a uma das melhores duplas dos Muppets, Ênio e Beto. Além de Ênio, Jim Henson era responsável também pela atuação de Caco, o Sapo, que ele considerava ser seu alter-ego, enquanto Oz deu vida a Garibaldo e Miss Piggy. O sucesso em Vila Sésamo levou Henson à produção de The Muppet Show, embora nenhuma emissora nos Estados Unidos tenha acreditado no projeto, considerando que somente crianças fossem assistir a um programa estrelado pelas marionetes. The Muppet Show acabou sendo produzido na Inglaterra e distribuído em mais de cem países, tornando-se um daqueles casos em que os executivos de TV erraram feio ao rejeitar.
A colaboração com a Vila Sésamo terminou com a morte de Henson em 1990. A demora na escolha de um novo responsável pelos movimentos de Ênio gerou boatos de que o personagem seria morto, mas, o personagem foi assumido por Steve Whitmire, que passou também a atuar como Caco, o Sapo.
Versão Brasileira
O sucesso de Vila Sésamo e seu "edutainment", entretenimento como educação, levou o programa a 120 países e 25 versões locais produzidas sob as regras rígidas da Sesame Workshop. Entre as regras há a proibição de anúncios durante o programa, ou seja, nada de tentar vender sandálias ou outros penduricalhos durante a atração. Claro que não faltam produtos licenciados com a marca do programa, como livros, DVDs, brinquedos e parques temáticos; mas os patrocinadores só contam com alguns minutos de espaço que têm de ser usados obrigatoriamente em mensagens educativas. A regra explica o sumiço do programa por anos a fio em vários países. Afinal, quantas empresas vão patrocinar um programa no qual não podem anunciar seus produtos?
Em cada país a versão local ganhou personagens e situações adequadas ao seu público. No Canadá, a série ganhou trechos em francês, em reconhecimento aos dois idiomas falados no país e um personagem local, Basil, o Urso. Na Nova Zelândia o programa inclui um segmento dedicado ao ensino do idioma Maori, enquanto, Kami, uma personagem portadora do vírus HIV faz parte do elenco do programa na África do Sul. A entrada de Kami foi criticada por grupos conservadores, mas, a história da personagem, contaminada durante uma transfusão de sangue, olha de frente para o problema da AIDS no continente. No Oriente Médio um projeto conjunto foi criado para promover a entendimento entre israelenses e palestinos, mas foi suspenso quando os palestinos lançaram a segunda intifada em 2000. Em maio de 2007 foi anunciado o retorno da versão israelense com a entrada de um Muppet de origem árabe, e de uma versão palestina, produzida de forma independente.
A versão brasileira de Vila Sésamo estreou em 1972 na TV Cultura de São Paulo e foi a primeira co-produção internacional da Sesame Workshop. A partir do capítulo 40 o programa foi totalmente nacionalizado, com a substituição das músicas originais e cores dos personagens. Após um ano, a série passou a ser exibida somente pela Rede Globo e se você sabe completar a música tema "todo dia é dia, toda hora é hora de saber que esse mundo é..." deve lembrar também dos certificados da Polícia Federal exibidos antes de cada programa de TV.
Um dos elementos adaptados à realidade brasileira foi a alteração do cenário de uma "rua", como o original, para uma vila, ambiente muito comum nas cidades brasileiras, principalmente em São Paulo.
O elenco humano principal tinha Aracy Balabanian como Gabriela; Armando Bógus como seu marido Juca, dono da oficina; Manoel Inocêncio como Seu Almeida, o dono do armazém; e os estreantes na TV Sonia Braga, como a professora Ana Maria; e Flávio Galvão como Antonio, namorado de Ana.
Assim como no programa original, os humanos interagiam com os bonecos e entre si, cuidando e apoiando um ao outro enquanto ensinavam. Garibaldo, o apaixonado por abacaxi, era "interpretado" por Laerte Morrone e, apesar do programa ser em preto e branco, o público sabia que ele era um pássaro azul e não amarelo como o Big Bird nos Estados Unidos. O elenco de bonecos tinha, ainda o Gugu, um monstro verde rabugento que vivia num barril, o Funga-Funga, e Ênio e Beto em quadros dublados.
A versão brasileira durou até 1978 e produziu 260 episódios. Após o cancelamento, vários boatos ao longo dos anos davam conta de que havia interesse em trazer o programa de volta, mas, as exigências de produção, principalmente a regra de não exibição de comerciais, foi considerada responsável por jogar água fria nos planos de retorno da Vila.
O Retorno
O programa que retorna hoje, 29 de outubro de 2007, trinta anos depois de sair de cena, vai matar as saudades do público dos anos 70, mas, não vai substituir o que está guardado na memória. Garibaldo continuará sendo um pássaro azul exibido em preto e branco, mas, será visto daqui em diante no amarelo vivo do Big Bird original. A nova versão terá uma personagem inédita e brasileira, Bel, uma Muppet que, acertadamente, a produção não pintou de verde e amarelo nem deu características de nenhuma raça ou etnia. A marionete é pink e seus movimentos serão feitos por Magda Crudelli.
O programa manterá quadros já conhecidos do programa, como O Mundo de Elmo, Brinque Comigo Sésamo e Global Grover. O objetivo da série continua sendo educar o púiblico pré-escolar, ensinando números letras, sons, cores além de conceitos como sociabilidade, tolerância e a aceitação da diversidade cultural. Garibaldo desta vez ficará a cargo de Fernando Gomes. O cenário principal mescla elementos de vários lugares do Brasil, com casas decoradas com grafismos e pisos de São Paulo, mas, vai manter o tradicional poste com a placa Vila Sésamo e a área externa típica da produção no mundo todo. O público vai ver, ainda, o ninho do Garibaldo e o quarto da Bel. A produção não conta com um elenco humano para interagir com os bonecos, uma diferença que certamente chamará a atenção dos fãs da versão em preto e branco e pode ser alterado no futuro.
No lugar das músicas de Marcos e Paulo Sérgio Valle, nomes famosos dos anos 70, o novo programa terá Vanessa da Mata e Zeca Baleiro interpretando músicas de Arthur Nestrovski e André Mehmari. Mas, ao contrário do programa dos anos 70, somente 20% da produção será nacional.
Cada episódio da nova Vila Sésamo vai iniciar com um desafio ou uma charada e terá um tema central. Seguindo o molde criado no programa original nos Estados Unidos, cada capítulo terá a Letra do Dia e Números. O quadro A Letra do Dia será conduzido pelo Garibaldo, que terá de encontrar objetos que comecem com a letra escolhida. O texto do quadro também vai enfatizar palavras que comecem com a letra tema. Bel fará um trabalho semelhante com os números, o que é muito interessante uma vez que pesquisas mostram que há um menor número de meninas interessadas em matemática e ciência.
Apesar de ainda não contar com personagens humanos, o programa vai mostrar crianças de vários pontos do Brasil e no quadro Global Grover crianças de vários lugares do mundo, seguindo o objetivo de promover o conhecimento e a diversidade cultural.
A nova versão nacional da Vila Sésamo terá 78 episódios e será exibida pela TV Cultura de segunda à sexta, às 08h30 e 14h00, e aos sábados às 14h00.
Versões Internacionais
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1972: Vila Sésamo, Brazil
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1972: Plaza Sésamo, México
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1973: Sesamstraße, Alemanha
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1973: Canadian Sesame Street, Canadá (Sesame Park, 1990)
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1976: Sesamstraat, Holanda
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1978: 1, rue Sesame, França
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1979: Iftah Ya Simsim, Kuwait
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1979: Barrio Sésamo, Espanha
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1981: Svenska Sesam, Suécia
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1983: Rechov Sumsum, Israel
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1984: Sesame! (Batibot), Filipinas
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1986: Susam Sokagi, Turquia
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1989: Rua Sésamo, Portugal
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1991: Sesam Stasjon, Noruega
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1996: Ulitsa Sezam, Rússia
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1996: Sezame otevri se, República Checa
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1996: Ulica Sezamkowa, Polônia
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1998: Rechov Sumsum and Shara'a Simsim, Israel and Territórios Palestinos
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1998: Zhima Jie, China
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1999: Sesame English, Taiwan, China, Itália, Polônia
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2000: Takalani Sesame, África do Sul
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2000: Alam Simsim, Egito
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2002: Play with Me Sesame, Reino Unido
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2003: Open Sesame, Austrália
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2004: Koche Sesame, Afeganistão
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2004: Sesame Street, Japão
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2005: Sisimpur, Bangladesh
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2005: 5, Rue Sésame, França
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2005: Sabai Sabai Sesame, Cambodia
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2006: Galli Galli Sim Sim, Índia
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2007: Jalan Sesama, Indonésia
Ênio e Beto
Vila Sésamo
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Bel - Vila Sésamo